Sexta maior fabricante global de cimentos, com uma capacidade instalada de 52,8 milhões de toneladas, a Votorantim Cimentos passou a dar mais peso também a outras frentes nos últimos anos. E, nesse roteiro de diversificação, a área de insumos agrícolas tem se mostrado um dos terrenos mais férteis.

Com calcários agrícolas que corrigem a acidez e fertilizam o solo, vendidas com as marcas Calcário Itaú, Gesso Itaú e Cal Fértil, o segmento começou a ganhar status de unidade de negócios, internamente, em 2019. Depois de amadurecer essa estrutura dentro de casa, a empresa decidiu que é o momento de colher os frutos dessa estratégia no mercado.

Para consolidar esse movimento, a Votorantim Cimentos está lançando a Viter, marca que batiza a divisão. “Nós vamos estabelecer uma comunicação mais direta e nos aproximar ainda mais do setor”, diz Laércio Solla, gerente-geral e principal executivo da Viter. “A unidade vai nos dar foco, entendimento e a velocidade que o agronegócio está pedindo.”

Desenvolvido em parceria com a Touch Branding, o projeto envolveu um trabalho de sete meses e entrevistas com mais de 200 clientes. Com a nova marca, cujo nome significa mais vida e vigor para a terra, a Votorantim Cimentos quer comunicar um novo posicionamento, mais centrado nos benefícios que o seu portfólio promete. “A conversa não é mais sobre calcário agrícola”, afirma Solla. “Mas sobre como o agricultor pode extrair mais do solo e da sua lavoura.”

Além de mercados tradicionais, como Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo, que demandam mais eficiência diante da margem reduzida para ampliar a área plantada, o executivo entende que esse portfólio vai ao encontro da expansão do setor para outras regiões.

“O desafio é ganhar produtividade nas novas fronteiras agrícolas, sobretudo no Cerrado, que tem solos mais arenosos e mais pobres”, observa. “Esse movimento vai ampliar a demanda por calcário e corretivos nos próximos anos.”

Nesse contexto, para desenvolver novas aplicações, a Viter tem realizado uma série de experimentos, em parcerias com universidades. Um dos resultados desse trabalho é a linha Optmix, que está sendo lançada com a nova marca e traz um mix de calcário e gesso para renovar a produtividade do solo em camadas mais profundas e por meio de uma única aplicação.

Laércio Solla, gerente-geral da Viter

Com essa estratégia, a divisão também está expandindo as suas fronteiras. Antes mais concentrada em segmentos como grãos, cana-de-açúcar e cítricos, a unidade começa a explorar novos segmentos e culturas, como pastagem, café, hortifruti e flores. “Quanto mais próximo do agronegócio, você percebe que o setor tem várias porteiras”, afirma Solla.

Para reforçar essa aproximação, a Viter também está aprimorando sua estratégia comercial. Pouco a pouco, a divisão está segmentando sua equipe de acordo com a cultura e a geografia dos produtores.

O esforço também envolve a abertura de novos canais, como é o caso do setor de hortifruti, no qual a unidade já desenvolveu 26 revendas, em regiões como o chamado Cinturão Verde de São Paulo, que abrange cidades como Mogi das Cruzes, Salesópolis e Santa Isabel.

Novos campos

A maior atenção à área de insumos agrícolas é parte de uma estratégia que começou a ganhar corpo com a crise econômica de 2015. Até 2018, o mercado brasileiro de cimentos registrou uma queda de 27,1% na produção, para 52,9 milhões de toneladas.

Com o mercado desabando, a Votorantim Cimentos decidiu reforçar os investimentos em segmentos adjacentes à sua operação principal. Um primeiro resultado desse direcionamento foi a unificação da área de coprocessamento de resíduos, sob a marca Verdera.

O passo seguinte envolveu justamente a área de insumos agrícolas, que já integrava o portfólio da empresa há 25 anos, mas que começou a atrair atenção, de fato, nos últimos anos.

“Esse negócio cresce a taxas de agronegócio, 20% ao ano. É a unidade com o maior potencial de crescimento. Tem tudo para alavancar e ganhar representatividade” afirmou Marcelo Castelli, CEO global da Votorantim Cimentos, em entrevista concedida ao NeoFeed, no início deste ano.

Castelli destacou ainda que a divisão responde por cerca de 10% da operação da Votorantim Cimentos no Brasil. Em 2019, a empresa reportou uma receita local de R$ 6,8 bilhões e um faturamento global de R$ 13 bilhões.

A divisão já realizou R$ 104 milhões do plano de aportes de R$ 200 milhões, anunciado em 2019 e previsto para ser cumprido em cinco anos

A boa perspectiva da unidade de insumos agrícolas dentro da companhia vem se refletindo na aceleração dos investimentos. A divisão já realizou R$ 104 milhões do plano de aportes de R$ 200 milhões, anunciado em 2019 e previsto para ser cumprido em cinco anos. “Vamos revisitar o plano esse ano", afirma Solla.

Boa parte desses recursos foi aplicada na ampliação da capacidade produtiva, com destaque para a fábrica instalada em Nobres (MT). A unidade saiu de uma capacidade de 250 mil para 1 milhão de toneladas por ano, ao ganhar uma nova linha de calcário agrícola e outras duas dedicadas ao portfólio Optmix.

A Viter está dando continuidade a essa estratégia em 2020. Além de Nobres, as ampliações serão realizadas nas fábricas de Itaú de Minas (MG), Xambioá (TO) e Itapeva (SP). Com esses projetos, a unidade vai adicionar 1 milhão de toneladas e alcançar uma capacidade instalada de 4,3 milhões de toneladas.

Marcelo Castelli, CEO global da Votorantim Cimentos

O mapa de produção da Viter inclui mais seis cidades, sempre com linhas em fábricas que também comportam outras operações da Votorantim Cimentos. Segundo Solla, a empresa já está em fase de licenciamento para outras duas unidades, que devem entrar em operação em 2021 e serem instaladas no Pará e no município de Aurora do Tocantins, município na divisa entre o Tocantins e a Bahia.

Os aportes também se refletiram no time dedicado unicamente à divisão, que passou de 10 para cerca de 30 pessoas. A Viter tem ainda mais de 500 profissionais da Votorantim Cimentos envolvidos na operação.

“Vamos seguir usando a musculatura, a expertise industrial, a sustentabilidade e a capacidade de recursos minerais da empresa para gerar sinergias”, diz Solla. Esses e outras fortalezas da companhia, como sua capilaridade, colocam a Viter em uma posição privilegiada no mercado de calcário agrícola, muito pulverizado no País.

Diante de uma nova crise, agora da Covid-19, Solla entende que a pandemia pode abrir espaço para que a Viter tenha ainda mais importância na operação local da Votorantim Cimentos. “Com certeza, vamos ganhar relevância”, afirma. “A Viter faz a empresa ser mais diversa e olhar para o agronegócio, um setor que responde por 21% do PIB do País.”

Ele acrescenta que, com exceção do etanol e do algodão, o agronegócio brasileiro tem janelas favoráveis nas demais culturas, o que dá maior resiliência ao setor durante a pandemia e no pós-crise. “Na economia brasileira, talvez seja o mercado menos afetado, porque ele está no mundo, não apenas no Brasil.”

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