Nesta sexta-feira, a startup indiana de pagamentos Paytm protocolou o registro para o seu IPO, no qual irá buscar uma captação de até US$ 2,2 bilhões. Uma das principais fintechs do país, a empresa tem entre seus investidores alguns gigantes ligados ao mercado de tecnologia, como o Softbank e o Alibaba.
O prospecto preliminar da oferta chama atenção, no entanto, por um outro nome que integra essa relação: a Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett, que detém uma participação de 2,8% na operação, fruto de um aporte de cerca de US$ 300 milhões, realizado em agosto de 2018.
Na época, a entrada na Paytm significou o primeiro grande movimento da Berkshire Hathaway no mundo das startups e, mais especificamente, em uma novata de tecnologia.
Na contramão dos seus investimentos em companhias mais tradicionais e estabelecidas, Buffett é conhecido por sua resistência ao setor, segundo suas próprias palavras, por não entende-lo. Apple e IBM foram algumas das raras exceções dentro da tese do bilionário.
Pouco a pouco, no entanto, o “Oráculo de Omaha” começa a dar sinais de que as startups e, mais especificamente, as fintechs, como a Paytm, estão entrando no radar da atenção e dos cheques da sua gestora. E o mercado brasileiro já se destaca como uma das principais escalas dessa estratégia.
No início de junho deste ano, por exemplo, a Berkshire Hathaway anunciou um investimento de US$ 500 milhões no Nubank, como parte de uma rodada de US$750 milhões, que avaliou a fintech brasileira fundada por David Vélez em US$ 30 bilhões.
Antes, também em 2018, alguns meses depois do aporte na Paytm, a gestora americana desembolsou US$ 340 milhões em uma participação de 11,3% na também brasileira Stone, quando a empresa abriu capital na Nasdaq, em outubro daquele ano.
No primeiro trimestre de 2021, a Berkshire Hathaway informou que reduziu sua posição na Stone, em cerca de 25%. Na época, a companhia liderada por Buffett acrescentou que mantinha uma fatia de 3,4% no negócio, avaliada, na cotação atual da empresa, em cerca de US$ 608 milhões.
À parte dessa redução, os sinais emitidos por Buffett até o momento também simbolizam a preferência por países menos maduros sob aspectos como digitalização e bancarização. Mas que, em função desse panorama, trazem mais oportunidades que mercados já consolidados como Estados Unidos e Europa.
Outro ingrediente recente, que também chama atenção, é o fato de que, nos meses seguintes à chegada da pandemia, a gestora reduziu ou mesmo zerou sua participação em grandes bancos, um setor que sempre foi uma das prioridades no seu portfólio.
A Berkshire Hathaway vendeu, por exemplo, suas ações em bancos como Goldman Sachs e J.P. Morgan, além de diminuir sua fatia no Wells Fargo, entre outras negociações nessa direção. O único ativo no qual a empresa manteve sua posição foi o Bank of America.
Apesar dos principais passos envolverem fintechs, a aproximação, mesmo que ainda tímida, de Buffett e companhia com o mundo das startups não está restrito a esse segmento. Em outra iniciativa, em setembro do ano passado, a gestora foi uma das “patrocinadoras” do IPO da Snowflake.
Na oferta pública, a empresa americana de gestão de dados na nuvem captou US$ 3,3 bilhões e foi avaliada em US$ 33 bilhões. O processo contou com a chancela da Berkshire Hathaway, que se comprometeu a investir US$ 570 milhões na companhia, avaliada, atualmente, em US$ 73,9 bilhões.
A diversificação rumo a novas frentes também passa pela corrida dos carros elétricos. Mas não pela Tesla, a grande vedete do setor. E sim, por sua rival chinesa BYD, na qual a Berkshire Hathaway mantém uma participação de 8,2%, acima, por exemplo, da fatia de 3,7% detida na General Motors. E assim, aos 90 anos de idade, Buffett prova que sempre há tempo de abrir os olhos para boas oportunidades - ainda mais quando se é um "Oráculo".