Um estudo preparado pelo Banco Inter, ao qual o NeoFeed teve acesso com exclusividade, prevê que a queda de juros nos Estados Unidos entre setembro e dezembro deverá causar um impacto positivo na economia brasileira em 2025, com redução da inflação e da taxa Selic, além da valorização de 12,3% do real em relação ao dólar.
De acordo com as projeções, até o final de 2025, a Selic - que hoje está em 10,5% ao ano - poderia cair até 4 pontos percentuais (pp), chegando a 6,5% ao ano. Além de traçar o cenário, o estudo adverte que o debate atual no Brasil, com alguns agentes de mercado projetando um aumento da Selic para 12% até o início do próximo ano, não leva em consideração essa provável transmissão da política monetária americana para a brasileira.
Liderado por André Valério, economista sênior e coordenador de pesquisa macroeconômica da área de research do Inter, o estudo (“O Fed e o Brasil - O impacto da política monetária americana na economia brasileira”) cerca todas as variáveis envolvendo a provável queda de juros nos EUA, da próxima reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), em setembro, até o final do ano.
Para calcular o efeito na economia brasileira, o estudo trabalha com um corte de 0,75 ponto percentual dos juros nos EUA até dezembro, premissa com base num aumento de 0,4 pp da taxa de desemprego americana.
“A grande dúvida neste momento é a intensidade dos cortes de juros”, afirma Valério ao NeoFeed. “Com os dados de momento, esperamos um corte de 0,25 pp em cada uma das três reuniões restantes do Fed até dezembro.”
O economista considera improvável, mas não descarta um corte inicial dos juros nos EUA de 0,50 pp, que dependeria do desempenho do mercado de trabalho no mês de agosto, cujo índice deve ser anunciado na próxima sexta-feira, 6 de setembro.
No cenário de redução dos juros de 0,75 pp até dezembro, porém, a inflação brasileira já seria impactada para baixo nos dois trimestres seguintes, caindo 1,28 ponto percentual (em julho, fechou em taxa anual de 4,5%)
Valério atribui esse efeito benigno na inflação à forte apreciação do real prevista com os cortes do Fed. Assim, a moeda brasileira deverá valorizar 12,3% no primeiro trimestre após o ciclo de queda dos juros americanos: “O repasse cambial para a inflação é estimado em 0,06 pp, ou seja, a cada 1% de apreciação do real, a inflação recua 0,06 ponto percentual.”
A queda da inflação, por sua vez, abriria espaço para redução da Selic, que recuaria quase 1 pp no primeiro trimestre após a redução de 0,75 pp da taxa americana, acumulando queda de 4 pontos percentuais até dezembro de 2025.
“Apesar da forte redução da inflação no segundo trimestre, depois ela tende a recuperar, por causa do efeito da Selic”, afirma Valério, reforçando que as projeções tiveram como base os dados do momento nos EUA e não consideraram eventuais variáveis da situação econômica brasileira.
“Há diversas coisas acontecendo simultaneamente no Brasil, incluindo problemas fiscais que podem contrabalançar a questão do câmbio, a incerteza de indicação de outros membros da diretoria do BC, a entrega do Orçamento de 2025 e etc, tudo isso pode mascarar esse possível efeito da política monetária do Fed na economia brasileira”, adverte.
Parcimônia com a Selic
O estudo também reforça o alerta diante de um eventual aumento da taxa Selic. “Por mais que o debate sobre a alta de juros neste momento tenha seu mérito, notadamente acerca da credibilidade da política monetária e sua comunicação, esse exercício sugere que uma dose de parcimônia é bem-vinda”, diz o documento.
Valério afirma que a redução nos juros americanos criará condições para que, pelo menos, não tenhamos que aumentar a Selic neste momento, para impedir uma deterioração maior na inflação.
“Na visão do Inter, não há necessidade de aumentar a Selic agora, o IPCA de agosto deve vir mais fraco e a reunião do Copom é no mesmo dia que o Fed deve anunciar o corte de juros nos EUA”, afirma o economista sênior. “O mais sensato é o BC dar um passo atrás, mesmo porque o Copom terá outras duas reuniões até dezembro para avaliar o cenário aqui e o impacto da queda de juros nos EUA.”
Ou seja, com um pouco de paciência, o BC pode aguardar o Fed ajudar o Brasil a atingir o que não tem conseguido com as próprias pernas: reduzir a inflação e a Selic, e de quebra recuperar o câmbio.