A escalada da guerra comercial global, provocada pelo tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode causar um impacto significativo na economia brasileira, afetada por uma possível recessão americana. O tema foi discutido no fim da manhã de terça-feira, 8 de abril, em evento promovido pelo Bradesco BBI, com líderes de gestoras.
“Se realmente essas medidas de Trump tiverem impacto grande na atividade econômica americana, e que vai acabar afetando a atividade global, o Brasil vai ser arrastado junto”, disse André Lion, sócio e CIO da Ibiuna Investimentos. “O que vimos na sexta-feira [4 de abril] foi um exemplo disso, em que o câmbio pulou de R$ 5,60 para R$ 5,90.”
Para ele, no entanto, o País ainda vem sentindo menos o impacto da decisão do presidente americano por estar, relativamente, melhor posicionado. “Nossa atividade interna continua forte, mesmo com o Banco Central levando a Selic a 14,75% na projeção para o fim de 2025.”
Lion entende que o mercado brasileiro demonstra resiliência com iniciativas importantes, como o consignado privado, mas entende que é preciso cautela e muita percepção do que está acontecendo nos Estados Unidos. “O Brasil ainda vai seguir por um tempo com esse cenário positivo. No entanto, é necessário tomar cuidado com esse risco de uma parada. Se isso acontecer, tudo vai para o buraco.”
O Brasil foi taxado com a cota mínima de 10% imposta por Trump, a exemplo de países como Argentina, Reino Unido, Austrália e Turquia.
Para Leonardo Linhares, sócio da SPX Capital, o mercado imaginou que o governo de Trump, pelo menos nesse início de gestão, seria diferente. “Ele tem surpreendido todo mundo desde que foi eleito. Muita gente achou que ele teria uma estratégia mais negocial e traria uma visão de regulamentação e código de impostos, pelo menos em conjunto com as tarifas.”
O economista enxerga que a medida dos Estados Unidos foi muito mais agressiva do que se poderia imaginar. “O cenário mais provável é de que a gente tenha tarifas mais altas do que a gente achava e ainda vai gerar risco na atividade econômica nesse período”, afirma. “Mas é possível que ele negocie algumas tarifas, principalmente as que estão na faixa de 10%.”
Segundo Linhares, Trump vem deixando claro que decidiu oficialmente eleger a China como o principal alvo. Por esse motivo, as para os chineses deverão permanecer bem altas, "até para ele poder ter um inimigo, como fazem governos populistas.”
O sócio da SPX enxerga que as medidas administradas implementadas pelo Departamento de Eficiência Governamental (Doge), liderada pelo empresário Elon Musk, e as de ataque a imigrantes ilegais, já davam indicativos de uma ação enérgica, do ponto de vista econômico, sobre os países.
“Aí ele dá esse choque, que faz com que muita gente segure investimentos e adie algumas decisões. É algo muito complicado. Com essas medidas, os Estados Unidos estão virando uma ilha”, diz ele. “De qualquer forma, acho que uma chance de recessão é algo menor que 50%.”
Leonardo Messer, sócio-fundador da Oceana Investimentos, entende que, entre ativos, o setor de commodities no Brasil deve ser muito impactado pelas tarifas americanas, o que pode ser visto como um momento de oportunidades. “As commodities tendem a ser perdedoras, mas a dinâmica de cada uma é diferente, com competitividade diferente.”
Cenário eleitoral brasileiro
Na linha de risco para o Brasil, os analistas entendem, de uma forma geral, que ainda é cedo para precificar o impacto da eleição presidencial, em 2026, para o mercado.
Para Lion, não dá para encarar ruídos do cenário político como insumos para projeções de mercado. “A gente está a mais de um ano da eleição. É claro que analisamos essas pesquisas de avaliação da administração, mas não dá para considerar isso como uma mudança ou não”, afirmou.
“O que monitoro, tanto no espectro da direita quanto da esquerda, são eventos não reversíveis, que de fato influenciem e definam o cenário”, disse o sócio da Ibiuna. “E isso só deve acontecer entre março e abril do ano que vem.”
Messer acredita que há muitas variáveis que precisam ser analisadas antes de entender o impacto de uma disputa eleitoral para a economia do Brasil.
“Hoje há preços bastante atrativos de ativos que a gente consegue compor, o que leva a crer que o cenário político não impacta tanto”, afirmou. “Me apego menos a janelas temporais, sem olhar tanto no calendário, para decidir algo.”