A divulgação dos dados macroeconômicos mais recentes, indicando uma queda consistente no índice de inflação nos últimos meses, está levando a maioria dos agentes do mercado financeiro a prever que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, deverá amenizar o tom do seu comunicado sobre a situação da economia brasileira na sua próxima reunião, marcada para os dias 20 e 21 de junho, e iniciar um ciclo de cortes de juros já a partir de agosto.

É o que aponta a Pesquisa Pré-Copom, divulgada na sexta-feira, 16, pelo BTG Pactual, que ouviu 115 participantes do mercado - gestores de carteiras, “traders”, economistas e estrategistas de instituições financeiras.

O levantamento, feito entre 13 e 15 de junho, reforça a percepção do mercado de que o Copom finalmente deverá abandonar o pessimismo demonstrado nas últimas reuniões em relação à trajetória de inflação.

Para 79% dos agentes ouvidos, por exemplo, o comitê afrouxará o tom da última comunicação. Uma grande parcela, 67%, acredita que o comitê removerá a expressão em que antevê a possibilidade de “retomar o ciclo de ajuste” da taxa básica de juro, o que seria uma sinalização de que BC deverá começar a baixar os juros em breve.

Uma maioria expressiva, de 91% dos entrevistados, acredita que o ciclo de cortes da taxa Selic vai começar na reunião do Copom de agosto (61%) ou de setembro (30%). Apenas 2% apostam na possibilidade de Copom começar a baixar os juros já na semana que vem.

Por sua vez, há entendimento de 71% dos agentes de que a taxa Selic vai fechar 2023 entre 12% e 12,75%. Já as previsões sobre a trajetória de queda dos juros em 2024 são mais dispersas: para 52%, a Selic deverá ficar abaixo de 10% no próximo ano, enquanto 40% apostam num índice entre 10 e 10,75%. Apenas 8% acreditam numa taxa Selic acima de 11% em 2024.

O levantamento do BTG incluiu previsões sobre meta de inflação, de 3,25% - um tema controverso, que divide os economistas, mas poderá ser alterada na próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), dia 29.

De acordo com a pesquisa, quase metade dos participantes acredita na manutenção da meta de inflação pelo CMN: “muito provável” para 3%, enquanto outros 45% acreditam ser “provável”.

Caso o CMN opte por manter a meta de inflação em 3%, aproximadamente 71% dos pesquisados antevê um recuo da projeção do IPCA em 2024, com ligeira vantagem percentual para o grupo que espera um recuo de 15-30pb na margem.

Para 2024, o consenso está mais disperso, mas com ligeira vantagem daqueles que enxergam a Selic abaixo de 10,0% (52%) versus 10,0-10,75% (40%), com um percentual pequeno de participantes vendo a Selic acima de 11% (8%).

Saída de capitais

O tom otimista dos agentes detectado pela sondagem do BTG Pactual, se confirmado pelas decisões do Copom, poderá se estender no segundo semestre para o mercado de ações.

Outro levantamento divulgado pelo banco, denominado Follow the Money (“Siga o dinheiro”, em português), comprova a relação, na média histórica, entre a queda do fluxo de entrada de capitais no Brasil com a manutenção elevada da taxa Selic, que desde agosto de 2022 está em 13,75% ao ano.

A expectativa é a de que, com início do ciclo de queda dos juros, o mercado de ações receba novos aportes de fora.

Em 2021, os fundos de renda fixa lideraram de longe as entradas líquidas (R$ 231,5 bilhões). Mas perdeu a liderança do ranking de aportes para os  fundos de pensão (apenas R$ 13,9 bilhões) em 2022 – a diferença de valores entre um ano e outro comprova a queda de entrada de capital estrangeiro alinhada à subida da taxa de juros.

Em 2023, essa saída de capitais fica mais evidente. O quadro mostrando a arrecadação acumulada no ano por tipo de fundo é todo negativo – com saída líquida em praticamente todos os ativos, somando R$ 174,6 bilhões.

Os fundos de renda fixa, por exemplo, registraram saídas líquidas de R$ 92,2 bilhões, seguidos dos fundos multimercado  (R$ 52 bilhões), ações (R$ 35,9 bilhões), fundos de pensão (R$ 4,5 bilhões) e fundos cambiais, que registraram a menor saída (R$ 900 mil).

Outro indicador - que soma os valores negociados com IPOs e follows ons - confirma  o encolhimento das negociações no mercado de ações neste período de juros elevados.

Em 2023, até junho, o total soma apenas R$ 8 bilhões, todos referentes a 5 operações de follow on (não houve IPOs neste ano nem em 2022). Em 2022, foram registrados R$ 58 bilhões em 19 operações de follow on.

A diferença é gritante para os valores de 2021, quando os juros fecharam o ano em 10,9%: R$ 131 bilhões negociados no total, sendo R$ 66 bilhões em 46 IPOs e R$ 65 bilhões em 26 operações de follow on.