Em clima mais positivo chega ao fim a primeira quinzena de julho. O ranger de dentes pela escalada do dólar até R$ 5,70, no início do mês, saiu de cena com o sinal do ministro Fernando Haddad de corte de gastos em 2025, possível contingenciamento do orçamento neste ano, redirecionamento do discurso do presidente Lula e redução de prêmios dos principais ativos em mercado.
Nos últimos dias, Lula desarmou a artilharia contra o Banco Central (BC) e se voltou a temas regionais, estimulado pela Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e visita à Bolívia, onde defendeu “estabilidade e previsibilidade” como palavras-chave para a economia – música para os ouvidos do mercado.
De olho no recesso que se aproxima, o Congresso se concentrou em questões caras ao governo: regulamentação do principal projeto da reforma tributária, aprovado pela Câmara na quarta-feira, 10 de julho, e a ser apreciado pelo Senado em agosto; renegociação de dívidas dos Estados com a União; e compensação de receitas pela isenção tributária de 17 setores e municípios.
Com propostas ainda em discussão, votações sobre as dívidas ficam para agosto; as compensações devem ser discutidas nos próximos dias e podem impor desgastes aos ativos, embora o mercado priorize a avaliação de receitas e despesas do terceiro bimestre. O relatório deve ser apresentado em 22 de julho, quando um contingenciamento de gastos pode ser anunciado.
Embora com impacto sobre a inflação, mas antes da grita sobre defasagens de preços, a Petrobras elevou os preços da gasolina e do gás de cozinha nas refinarias – iniciativa favorável à imagem, à avaliação e ao resultado da companhia que reverbera, neste caso positivamente, sobre o caixa do Tesouro.
Ainda no campo da arrumação, a inflação de junho, no Brasil e nos EUA, também contribuiu para conter prêmios de risco. Aqui, o IPCA subiu 0,21%, abaixo das projeções. A variação em 12 meses avançou a 4,23%. Rumo ao teto da meta, de 4,50%, sem alarido.
O índice de preços ao consumidor americano, divulgado na quinta, 11 de julho, acusou inesperada deflação de 0,1% e variação anual de 3%, fortalecendo apostas em dois cortes de juros, nos EUA, neste ano. Os dados levaram à queda adicional dos Treasuries – em progresso, dias antes, por um Federal Reserve (Fed) cauteloso – como indicou Jerome Powell em depoimentos no Senado e na Câmara – sem inclinação a mais aperto monetário.
Resultado: o dólar encolheu no mundo e no Brasil e uma sucessão de pregões positivos coroou as bolsas de valores que passarão a enfrentar, nas próximas semanas, o teste dos balanços corporativos do segundo trimestre.
Um baita alívio marca o início do semestre. Os juros mais longos recuam na B3, embora ainda flertem com 12% e o dólar distancia-se de R$ 5,70. Mas falta um tanto para ir abaixo de R$ 5, observado em março e sepultado em reação à mudança das metas fiscais anunciada pelo governo em meados de abril.
Cenários alertam: é cedo para comemoração
Apesar da positiva reprecificação dos ativos, é cedo para confirmar consistente reversão de tendências, como demonstram as revisões de cenário divulgadas, neste início de julho, por bancos, assets e consultorias.
As análises destacam, em uníssono, a deterioração do câmbio devido, sobretudo, à baixa confiança no compromisso do governo com o equilíbrio fiscal – avaliação que piorou projeções de inflação e juros.
Embora mais leve, a taxa de câmbio segue sensível. E explica o temor de analistas de que o atual patamar de negociação da moeda, ao redor de R$ 5,40, persista e agrave as já desancoradas expectativas de inflação, distantes de 3% no calendário que importa para as decisões monetárias – 2025.
Nesse contexto, a atualização de cenários pelas instituições é um alerta ao governo. Os modelos preditivos de indicadores dependem de uma melhora fiscal consistente. Variáveis fiscais são insumo para os modelos. Os cenários não estão aliviando projeções de déficit primário neste e nos próximos anos.
E a revisão de indicadores mostra uma corrente de transmissão que, em eventual descontrole, pode comprometer a economia real que vai bem. Amparada por um mercado de trabalho robusto.
Os prognósticos para expansão do PIB deste ano concentram-se entre 2% e 2,3% com viés de alta, sobretudo após o fôlego do varejo em maio – grata surpresa para os analistas. Para 2025, as estimativas transitam entre 1,5% e 1,8%, sob o tacão da Selic fortemente restritiva.
Os cenários são revistos mensalmente. Portanto, por ora, a taxa de câmbio pende no geral, até o fim de 2024 e 2025, ao intervalo de R$ 5,30 a R$ 5,40. Bradesco e LCA Consultores projetam taxa mais branda, R$ 5,10, em 2025.
A curva de juros, que incorpora a Selic e impacta o crédito, melhora, mas nem tanto porque a perspectiva é de taxa básica em 10,50% por longo período. Nessa ponta estão XP e LCA. Já o Bradesco e o Santander, nas recentes revisões de cenário, veem Selic a 9,5% e 9%, respectivamente, em 2025.
A inflação esperada para este ano tende a superar 4%, apontam os cenários, com chance de recuar ligeiramente em 2025. Mas muito depende do câmbio. A MacroSector Consultores, que vê o dólar a R$ 5,60 ao final de 2025, alerta para a escalada do câmbio médio. Informa que, nessa medida, a moeda saiu de R$ 5,00 em 2023 para R$ 5,13 em maio deste ano; R$ 5,39 em junho; e a R$ 5,55, em leitura prévia, em julho.
Trajetória que, turbinada, invariavelmente comprometerá ainda mais as expectativas inflacionárias que o BC tenta – e deverá continuar tentando – domar com a taxa de juro. E independentemente da troca de comando que entra em ponto de arranque em agosto, se confirmada a indicação de Gabriel Galípolo pelo presidente Lula. Esse é o cenário a ser incorporado aos preços.