A temperatura da economia brasileira no segundo semestre será calibrada na última semana de outubro com a publicação de indicadores de atividade, política fiscal, mercado de trabalho e finanças. Dados referentes a setembro lotam a agenda e encerram estatisticamente o terceiro trimestre que poderá confirmar desaceleração do crescimento.

O cenário não é de vacas magras, mas exige atenção. Sinais mais contundentes de desaquecimento poderão apertar o cerco ao Banco Central (BC) e à política de juros ou gerar expectativa de que isso acontecerá, inclusive, pela mudança no comando da instituição, a partir de 1º de janeiro.

Exatamente pela proximidade da nova fase – BC liderado pelo economista Gabriel Galípolo já chancelado para o cargo pelo Senado – qualquer manifestação do Palácio do Planalto e arredores sobre a política monetária interessa e produzirá eco. Juro real de 8% impõe desafios.

Não há consenso entre atores financeiros de que Galípolo, mesmo indicado pelo presidente Lula, estará imune a eventuais críticas do Executivo quanto à escalada da Selic para combater, sobretudo, as expectativas de inflação que não cedem. Muito pelo contrário.

As projeções para a inflação se agravam e distanciam-se do centro da meta no embalo de um real fortemente desvalorizado e percepção de que o risco fiscal está longe de ser contido. Condição que, somada à tensão que precede a eleição presidencial nos EUA, eleva prêmios de risco dos ativos no mundo inteiro e, claro, também no Brasil – em particular juro e câmbio.

No campo da atividade, após expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 1% no primeiro trimestre e 1,4% no segundo, ante o período anterior, bancos e consultorias preveem avanço de 0,1% a 0,7% entre julho e setembro. O resultado oficial será conhecido apenas em 3 de dezembro.

O BTG Pactual projeta expansão de 0,7% para o terceiro trimestre e vê acomodação. Exagero ou força de expressão, analistas em geral avaliam, contudo, que a atividade será claramente cadente daqui por diante. Trajetória que tende a reforçar a percepção (negativa) de que algumas condições que puxaram o PIB no primeiro semestre não serão reprisadas na mesma intensidade. O pagamento extra de precatórios está entre elas.

As informações que fecham o terceiro trimestre incluem relatórios do BC sobre operações externas e de crédito; produção industrial, segundo o IBGE; índice de gerentes de compra também do setor industrial pela pesquisa Markit/HSBC; e desempenho das contas públicas com apresentação em dois lances.

Eleição americana, um fator de risco

Se a mobilização de servidores do Tesouro por reajuste salarial e estruturação de carreiras, que se arrasta há meses, não truncar a agenda o órgão anunciará, na quarta-feira 30 de outubro, o resultado primário do governo central, representado pelo Tesouro, BC e Previdência; e na quinta, 31, o BC divulgará o balanço consolidado do setor público.

Dados do mercado de trabalho, também de setembro, deverão ser apresentados nas mesmas datas, 30 e 31, respectivamente, pelo Caged e IBGE – responsável pela Pnad Contínua. A criação de empregos com carteira assinada alcançou 232.500 postos em agosto e poderá avançar mais.

A taxa de desemprego, de 6,6% no trimestre encerrado em junho, a menor em mais de uma década, assim deverá permanecer. Instituições não apontam ruptura desse suporte para um nível de desemprego mais enxuto.

Resultados contábeis dos maiores bancos do País começarão a ser publicados e deverão catalisar a atenção de investidores nos próximos dias. Além do vigor dos lucros obtidos no terceiro trimestre, as concessões de crédito estarão em observação. Inclusive, porque a rubrica é de interesse do governo Lula para quem crédito forte traz crescimento econômico e, com sorte, popularidade.

Reprisando a sequência habitual, o Santander Brasil abre a temporada de relatórios do setor na terça-feira, 29 de outubro, seguido pelo Bradesco na quinta-feira, 31. A maior instituição privada do País, Itaú Unibanco, publicará suas contas em 4 de novembro. E o seu principal rival, Banco do Brasil, apresentará o balanço em 13 de novembro.

A atualização das informações econômico-financeiras de fechamento do terceiro trimestre abrirá espaço para a política local e internacional, em que a eleição norte-americana, em 5 de novembro, será tema dominante. E, a depender de pesquisas e apostas em Donald Trump e Kamala Harris, investidores globais tendem a acelerar a realocação de carteiras.

Indicadores do mercado de trabalho norte-americano com anúncio previsto para sexta-feira, 1º de novembro, podem contribuir para essa movimentação. Os dados catalisam sistematicamente a atenção por sua relevância nas discussões e decisões do Federal Reserve (Fed) sobre a taxa básica.

E a próxima reunião de política monetária está logo aí, 6 de novembro. Data em que o BC dos EUA e o BC do Brasil ilustram mais uma “superquarta” – carimbo para decisões em calendário coincidente.

No Brasil, as eleições municipais, encerradas no domingo 27 de outubro, marcam o fortalecimento das correntes de centro e centro-direita. Resultado que deve reverberar no Congresso que volta do recesso branco, imposto pelo pleito, com agenda pesada e atenção voltada à Fazenda e Planejamento.

Apesar da regulamentação da reforma tributária sobre o consumo em fase final de avaliação no Senado exigir foco e energia e a proposta de Orçamento de 2025 também, os parlamentares não devem tirar o olho da equipe econômica que, há 10 dias, prometeu em alto e bom som um pacote “relevante” de medidas para contenção de gastos.

Encerrada a participação nos eventos do Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento, os ministros Fernando Haddad e Simone Tebet voltam ao Brasil e devem ativar a “tesoura”. Mas quem vai decidir o quanto será afiada é o amolador – o presidente Lula.