A "temporada de caça" pode estar por um fio. Com a crise do novo coronavírus, grandes empresas, empresários e investidores americanos têm aproveitado as instabilidades do mercado para consolidar aquisições de novos negócios por preços atraentes. Mas essa festa pode estar ameaçada.

A senadora Elizabeth Warren e a deputada Alexandria Ocasio-Cortez, ambas do partido Democrata, apresentaram ao Congresso americano o projeto “Pandemic Anti-Monopoly Act” (Ato Contra o Monopólio durante Pandemias", em tradução livre). 

A proposta é suspender momentaneamente qualquer tentativa de compra por parte de grandes companhias até que os órgãos competentes tenham determinado que ambas as partes firmaram acordo de maneira justa. Ficaria a cargo da Federal Trade Comission (FTC) garantir que os pequenos empresários não ajam sob forte estresse financeiro. 

"A pandemia da Covid-19 desencadeou uma crise econômica que atingiu fortemente pequenos negócios, tornando-os alvos potenciais de grandes corporações que buscam aumentar seu poder através de fusões predatórias. Relatórios sugerem que fundos bilionários estejam planejando usufruir de oportunidades 'baratas. E as big-tech já se mexem para arrebatar startups em apuros", informou a equipe de Warren ao NeoFeed, por e-mail.

Ex-candidata à vaga democrata pela corrida à Casa Branca, Warren ficou conhecida por sua postura pública contra as gigantes de tecnologia. Uma dos principais slogans de sua campanha era "quebre as big tech", que pretendia "desmembrar" grandes corporações como Facebook, Amazon e Google.

Alexandria Ocasio-Cortez, por sua vez, foi a pessoa mais jovem a entrar para o Congresso, em 2018, com 29 anos. Autodeclarada democrata socialista, a americana ganhou as manchetes dos principais noticiários por direcionar duras perguntas a Mark Zuckerberg durante uma audiência sobre a Libra, a criptomoeda do Facebook.

Juntas, Warren e Ocasio-Cortez estabeleceram esse projeto cujas regras impactariam empresas com faturamento ou valor de mercado superior a US$ 100 milhões. Também estariam temporariamente suspensos de fazer fusões e aquisições fundos de investimento, companhias controladas por fundos de investimento e empresas que tenham patentes que impactem na crise. 

Ainda segundo a proposta, seria também função do FTC estabelecer a "presunção legal contra fusões e aquisições que representam um risco para a capacidade do governo de responder a uma emergência nacional".

Pelo Twitter, Alexandria Ocasio-Cortez defendeu sua proposta. "O Congresso deu um cheque de US$ 4 trilhões a Wall Street e sentenciou pequenas empresas familiares a recorrer à programas de proteção. É um poder oligárquico, capaz de moldar a economia, que o Congresso deu aos mais ricos. O mínimo que devemos fazer é pausar grandes fusões durante a Covid-19 para retardar a consolidação do setor." 

O projeto conta com o apoio de pequenas organizações de comércio e de alguns parlamentares, mas deve encontrar resistência no Senado, que é composto por maioria republicana. O presidente Donald Trump tende também a se opor à medida. 

Um dos críticos do projeto é o NetChoice, um grupo empresarial que conta com o suporte da Alphabet, holding que controla o Google; do Facebook, além de Expedia, Lime e Lyft. O grupo disse que a proposta era míope.

"Em tempos econômicos difíceis, geralmente a única maneira de salvar uma empresa e os empregos é buscar investimentos de grandes players do mercado", disse Carl Szabo, vice-presidente do NetChoice, ao jornal The New York Times. "O efeito deste projeto de lei seria levar as empresas à falência em vez de unirem players de sucesso do mercado."

O setor de tecnologia, em geral, é um dos mais agressivos na questão de fusões e aquisições. A Apple, liderada por Tim Cook, arrematou pelo menos três startups durante a pandemia.

Por um valor não declarado, a CNN levou a Canopy, plataforma de curadoria que mescla expertise humana e inteligência artificial.

Quem também abriu a carteira recentemente foi a Verizon, que desembolsou algo em torno de US$ 500 milhões para comprar a empresa de videoconferência BlueJeans, concorrente da Zoom.

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