No fim de março, a Covid-19 dava os primeiros sinais dos impactos negativos que traria na economia. Mas, com a rápida migração das companhias para o home office, Vittorio Danesi, fundador e CEO da Simpress, já assistia uma queda de 60% no negócio principal da empresa, o outsourcing de impressão.
O empresário entendia que a linha de gestão e locação de PCs, notebooks, tablets e celulares, lançada meses antes, poderia ser uma opção para atenuar esses efeitos. “Mas é uma gota de oceano no nosso faturamento. E não faz uma diferença substancial no nosso dia a dia”, disse ele, na época, ao NeoFeed.
Seis meses depois, a realidade é bem diferente. “Estamos ocupando um terreno novo e fazendo isso muito mais rápido do que podíamos imaginar”, diz Danesi, sobre a oferta, cuja participação na receita da Simpress era de 3%, em março, e hoje já é de 15%. “A previsão é fechar 2020 com uma fatia de 20%.”
Desde 2015, quando foi comprada pela Samsung e, posteriormente, pela HP, em 2016, a Simpress não divulga seu resultado consolidado. Em 2014, último ano em que abriu esse número, a empresa faturou R$ 485 milhões.
O fato de operar sob o guarda-chuva da HP foi vital para que a Simpress superasse a dificuldade inicial de abastecimento de notebooks e outros equipamentos, causada pelos impactos da Covid-19 na China, país que concentra boa parte da produção de componentes no setor de tecnologia.
Com a oferta equacionada e a demanda aquecida pela migração das companhias para o home office, a Simpress trabalhou o portfólio junto à sua própria base de clientes de impressão, que conta com 1,2 mil empresas e nomes como Petrobras, Dasa, Toyota, Gol, BTG Pactual, Eletrobras e Raia Drogasil.
Desde então, 20% dessa carteira já foi convertida também para a locação de PCs e de dispositivos móveis. “Tivemos bons resultados nessa carteira ativa”, diz Danesi. “Ao mesmo tempo, essa linha ajudou a trazer novos clientes também para o nosso negócio principal, de impressão, que, por sua vez, voltou a crescer com a retomada gradual das empresas.”
Embora não revele nomes entre as conquistas no período, ele cita o projeto de uma empresa do agronegócio, que demandou dois mil smartphones. E o contrato com uma fintech, para o uso dos aparelhos como POS, que já incluiu 5 mil celulares e cuja expectativa é chegar a 50 mil dispositivos.
A base de 1,2 mil clientes da Simpress inclui empresas como Petrobras, BTG Pactual, Gol, Dasa, Eletrobras e Raia Drogasil
Além dos PCs, notebooks, tablets e celulares, outro destaque foi a locação de impressoras térmicas. Usado em segmentos como saúde e chão de fábrica, o equipamento teve sua demanda impulsionada, em particular, pelos centros de distribuição, a partir da movimentação gerada pelo e-commerce.
Mercado em formação
Nessa linha mais recente, os contratos, assim como em impressão, são de médio a longo prazo. Em PCs, notebooks e tablets, a duração, em média, é de 48 a 60 meses. Já em mobilidade, de 30 a 36 meses.
O pacote inclui ainda um leque de softwares e de serviços. Em smartphones, por exemplo, há sistemas que separam as aplicações pessoais do usuário das aplicações profissionais. A empresa também conta com 1,2 mil funcionários distribuídos em todo o País para prestar serviços de manutenção.
Em média, a companhia tem feito até 5 mil expedições de equipamentos e atendido a 1,2 mil chamados técnicos por dia. Levando-se em conta todas as novas linhas do portfólio, hoje são 250 mil equipamentos locados. E a expectativa é encerrar 2020 com cerca de 290 mil equipamentos em clientes.
“O fato de transformar Capex em Opex já vinha alimentando esse mercado, que ainda é recente no Brasil”, diz Rodrigo Pereira, analista da consultoria IDC, que não vê o segmento limitado à demanda pontual da Covid-19. “Outros fatores, como a alta do dólar, vão ajudar a consolidar esse conceito.”
Segundo o IDC, o mercado brasileiro de locação de PCs, notebooks, tablets e smartphones encerrou 2019 com uma base de 467 mil unidades alugadas. E a expectativa para esse ano é de um crescimento de 13% nessa base.
Segundo o IDC, o mercado brasileiro de locação de PCs, notebooks, tablets e smartphones encerrou 2019 com uma base de 467 mil unidades alugadas
Apesar do conceito ainda em evolução, não faltam empresas dispostas a concorrer nesse espaço. A relação inclui desde nomes que já exploram esse filão há mais tempo, como Microcity e Agasus, até operadoras de telecomunicações como Vivo e Embratel. Além de companhias como a Positivo, que lançou sua oferta nesse modelo em fevereiro, sob a bandeira “Positivo as a Service”.
No caso da Simpress, esse portfólio é um dos motores para a projeção da empresa de fechar o ano com um crescimento de 10% na receita. Porém, mais do que uma válvula de escape, a oferta já era vista como uma segunda via para reduzir, no longo prazo, a dependência dos negócios de impressão.
“O outsourcing de impressão é mais maduro e tem uma tendência ao declínio”, afirma Danesi. “Ele nos trouxe até aqui, mas esses novos modelos abrem uma nova avenida de crescimento para a empresa.”
Com o combustível fornecido pela pandemia, a expectativa é de que esse portfólio mais recente alcance uma participação de 50% na receita da companhia no prazo de 18 a 24 meses. “Antes, tínhamos só uma janela de entrada para clientes. Hoje, temos quatro. E uma acaba puxando a outra.”
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