Com a proximidade da Black Friday e das festas de fim de ano, não foram poucos os sinais recentes dados pela Amazon de que está disposta a acelerar de vez seus planos no Brasil. O mais novo passo nessa direção, que promete acirrar ainda mais a competição no espaço dos marketplaces, veio à tona nesta semana.
Na quarta-feira, 5 de novembro, a empresa anunciou uma parceria com o Nubank. Por meio da integração do NuPay à loja da Amazon, os consumidores terão acesso a benefícios exclusivos de pagamentos, incluindo limites de crédito adicionais e planos de parcelamento de até 24 meses.
Em relatório, o BTG Pactual ressalta que esse movimento marca uma localização mais profunda do ecossistema da Amazon, que poderá obter maior conversão e valor médio das compras em sua plataforma. Mas faz algumas ressalvas.
“A aliança com o Nubank aumenta o GMV (volume bruto de mercadorias) e volume de transações da Amazon, mas também gera desafios de margem no curto prazo”, escreveram os analistas Luiz Guanais, Yan Cesquim e Pedro Lima.
Segundo o trio, a integração de crédito e parcelamento melhora a acessibilidade e a conversão no checkout, algo crucial em um país onde 41% dos gastos com cartão de crédito são provenientes de parcelamentos sem juros.
“No entanto, oferecer planos de pagamento estendidos e subsidiar a logística impactará a lucratividade no curto prazo”, alertam os analistas. À parte desses desafios, o BTG observa que a parceria dá sequência a uma série de iniciativas recentes que ressaltam o apetite da gigante americana no País.
Nessa direção, em outro anúncio feito nesta semana, a companhia divulgou que está adicionando 100 centros logísticos à sua malha local apenas em 2025. Com esse investimento, a empresa chega a um total de 250 estruturas desse porte no País.
Antes, a empresa já havia reduzido as taxas dos seus programas de logística para os sellers e isentado, até dezembro, todas as taxas do seu serviço de fulfilmment, incluindo armazenamento e entrega. Além de reduzir os custos em outros programas, como o Delivery By Amazon.
“Com mais de 250 centros de distribuição e cobertura nacional, a Amazon pode entregar mais rápido e mais barato, pressionando diretamente o Mercado Livre e a Shopee, que estão reduzindo os limites de frete e financiando campanhas de cupons”, observa o BTG, em outro trecho do relatório.
Nesse contexto, o Itaú BBA destaca que a Amazon conseguiu ampliar em 20% o volume de SKUs em sua plataforma apenas em 2025, com o acréscimo de 30 milhões de produtos no ano, superando a marca de 180 milhões de itens.
Entretanto, o banco também ressalta que o caminho da Amazon nessa avenida mais recente de crédito não será fácil. E para isso, recorre aos dados contabilizados justamente pelo Mercado Livre e a Shopee nessa esfera.
“Atualmente, o Mercado Livre tem uma carteira de crédito de aproximadamente US$ 6 bilhões no Brasil (90% cartão + empréstimos pessoais), enquanto a da Shopee está próxima de US$ 510 milhões e vem se expandindo rapidamente”, escrevem os analistas do banco.
O Itaú BBA também aponta que o crédito tem sido uma alavanca de crescimento fundamental para o GMV do Mercado Livre. E estima que os empréstimos pessoais combinado com o cartão de crédito da empresa já representam cerca de 15% do seu GMV no Brasil – cerca de US$ 4,9 bilhões.
Dados do balanço do terceiro trimestre do Mercado Livre, divulgado na semana passada, reforçam a distância a ser percorrida pela Amazon. Segundo a empresa, o cartão do Mercado Pago, seu braço financeiro, foi o mais utilizado em compras realizadas na plataforma da empresa no Brasil.
Em entrevista concedida ao NeoFeed, Richard Cathcart, diretor de RI do Mercado Livre, destacou que a maior relevância do cartão do Mercado Pago no período foi impulsionada pelas vantagens concedidas dentro do marketplace, como a possibilidade de parcelar em mais vezes sem juros.
“Conforme o e-commerce vai ganhando importância e as pessoas compram mais no Mercado Livre, o benefício de poder acessar mais parcelas cresce. Isso é muito poderoso”, disse Cathcart, na conversa realizada após a divulgação do balanço.
No período, considerando todas as suas operações, a companhia reportou uma receita líquida de US$ 7,4 bilhões, o que representou um crescimento em base anual de 39%. Já o GMV teve alta de 28%, para US$ 16,5 bilhões.
Entretanto, com todas as movimentações recentes da Amazon e a reação dos rivais, o Itaú BBA também enxerga pontos de atenção para a operação do Mercado Livre. “Para o Meli, consideramos o GMV do Brasil a métrica crítica a ser monitorada nesse cenário cada vez mais competitivo”, alerta o banco.
O Itaú BBA estima que tanto o Mercado Livre quanto a Amazon estejam cumprindo uma expansão em um ritmo comparável em 2025. O que, na visão do banco, só reforça o quão notável é o crescimento da empresa latino-americana, considerando sua base de GMV.
“Nossa visão é reforçada pelo desempenho positivo das ações após os resultados do 3º trimestre de 2025, sugerindo que os investidores permanecem tolerantes à pressão de margem de curto prazo, desde que a Meli mantenha o crescimento”, acrescenta o banco.
Levando-se em conta o preço do fechamento do pregão da quarta-feira, 5 de novembro, na Nasdaq, as ações do Mercado Livre acumulam uma valorização de 33,6%. A empresa está avaliada em US$ 111,4 bilhões.
Já os papéis da Amazon registram alta de 14% neste ano, dando à companhia americana um valor de mercado de US$ 2,6 trilhões.