Há cerca de nove meses, a Anglo American deu início a um amplo processo de reestruturação global em suas operações. E agora, está inserindo sua subsidiária no mercado brasileiro no mapa desse turnaround.

O grupo anunciou um acordo para a venda de 100% do seu negócio de níquel no Brasil para a MMG Singapore Resources, empresa pertencente à holding chinesa MMG Limited, na manhã desta terça-feira, 18 de fevereiro. A conclusão da operação está prevista para o terceiro trimestre de 2025.

Avaliada em até US$ 500 milhões, a transação envolverá duas unidades operacionais de ferroníquel da companhia – Barro Alto e Codemin (Niquelândia) – em Goiás. E outros dois projetos minerais de níquel para desenvolvimento futuro – Morro Sem Boné (MT) e Jacaré (PA).

A MMG vai pagar US$ 350 milhões, em dinheiro, no fechamento do negócio. O acordo prevê ainda uma parcela diferida e condicional de até US$ 100 milhões, atrelada ao preço de venda do níquel, além de um valor de até US$ 50 milhões vinculado à decisão do desenvolvimento futuro dos projetos minerais.

“Estamos entusiasmados com a aquisição da operação de níquel da Anglo American, que proporciona uma diversificação importante para o nosso negócio e fortalece nossa presença na América Latina”, afirmou, em comunicado, Cao Liang, CEO da MMG.

Subsidiária da China Minmetals, empresa estatal e uma das maiores mineradoras da China, a MMG desenvolve projetos de cobre, zinco e outros metais básicos. E tem operações na Austrália, Botsuana, República Democrática do Congo, Peru e Canadá.

Agora, parte desse portfólio, as minas e plantas de Barro Alto e Niquelândia produziram, juntas, 39,4 mil toneladas de níquel em 2024. Já o projeto de Jacaré envolve cerca de 300 milhões de toneladas e recursos minerais. Enquanto o de Morro sem Boné tem um potencial total de 65 milhões de toneladas.

“A venda do nosso negócio de níquel, após um processo altamente competitivo, marca mais um importante passo rumo à simplificação do nosso portfólio, para a criação de uma empresa mais valiosa, focada em cobre, minério de ferro premium e nutrientes agrícolas”, afirmou, em nota, Duncan Wanblad, CEO global da Anglo American.

No Brasil, o grupo ainda mantém projetos como o Minas-Rio, que prevê investimentos de R$ 12 bilhões até 2028 e inclui uma usina de processamento, um mineroduto e um porto no Rio de Janeiro, além de uma mina em Minas Gerais.

No comunicado, a Anglo American informou que com o acordo anunciado hoje e a venda da unidade de carvão metalúrgico na Austrália, assinada em novembro do ano passado, espera gerar um valor total para o caixa da empresa de até US$ 5,3 bilhões.

Essa orientação integra um plano de reorganização anunciado em maio de 2024, logo após a Anglo American rejeitar duas ofertas de aquisição feitas pela BHP. A rival havia elevado seu “lance” inicial de £ 31 bilhões (US$ 39 bilhões) para £ 34 bilhões (US$ 43 bilhões).

Na época, a Anglo American ressaltou que, após concluir uma revisão de ativos iniciada em 2023, tinha estruturado um plano para desbloquear um valor significativo em seu portfólio e entregar retornos mais consistentes para seus acionistas.

Como resultado, a empresa decidiu se concentrar justamente em seus negócios de cobre, minério de ferro e insumos agrícolas. “Essas ações representam as mudanças mais radicais para a Anglo American em décadas”, afirmou, na oportunidade, Wanblad, o CEO do grupo.

No anúncio do plano, o executivo também destacou que a companhia seria “extremamente valorizada” até o fim de 2025, quando o processo de reestruturação fosse concluído. E acrescentou: “Se alguém quiser nos comprar naquele momento, terá que pagar uma quantia enorme por isso.”

Na prática, a reorganização foi uma resposta a uma forte pressão exercida por acionistas sobre os rumos da empresa como um grupo independente. E que ganhou ainda mais peso após as negativas às ofertas da BHP.

As ações da Anglo American encerraram o pregão de ontem cotadas a £ 2.469,50, com ligeira queda de 0,16%. Em 2025, porém, os papéis acumulam uma valorização de 4,5% e, em 12 meses, de cerca de 39%, dando à companhia um valor de mercado de £ 29,9 bilhões.