AUSTIN - Carros voadores fazem parte do imaginário popular há décadas, presentes em filmes e desenhos, como Os Jetsons. Mas o que antes era apenas ficção já se tornou realidade no South by Southwest (SXSW), em Austin, com voos demonstrativos abertos ao público. Após uma breve aula em um simulador, qualquer pessoa pode pilotar a aeronave.
Por trás da tecnologia está a empresa texana Lift Aircraft, que há oito anos vem trabalhando em formas de viabilizar o voo pessoal sem a complexidade de um helicóptero e sem exigir dos usuários uma licença de piloto. A aposta da empresa é o HEXA, um eVTOL ultraleve controlado por um joystick com apenas cinco botões e comandos intuitivos.
Em entrevista exclusiva ao NeoFeed, o fundador e CEO da Lift Aircraft, Matthew Chasen, comparou seu modelo de negócios ao aluguel de bicicletas e patinetes elétricos, cada vez mais comuns nas ruas de Austin.
“Chamamos isso de micromobilidade aérea, algo como um patinete elétrico ou uma bicicleta elétrica. Uma pessoa pode percorrer pequenas distâncias. Podemos chegar a até 15 milhas (24 km) e voar sobre o tráfego congestionado”, afirma ele.

A regulamentação que permite o voo sem habilitação foi concedida pela Federal Aviation Administration (FAA), que classifica o HEXA como uma aeronave ultraleve. No entanto, essa permissão ainda limita os voos a áreas não congestionadas.
Chasen vê potencial no Brasil, destacando que o país possui regras semelhantes às dos EUA para ultraleves. Em tom bem-humorado, ele mencionou um possível mercado para a empresa: “Ouvi dizer que há um pouco de congestionamento em São Paulo.”
Por enquanto, a Lift Aircraft só tem permissão para operar voos recreativos, de ponto A para ponto A, sem deslocamento entre diferentes locais. “Inicialmente, é mais voltado para entretenimento e diversão, permitindo que as pessoas aproveitem a experiência de aprender a pilotar”, diz ele.
Os primeiros voos comerciais foram realizados em Austin. A empresa também já tem aeronaves em Boston para testes e realizou demonstrações para reguladores dos Emirados Árabes. No Japão, a Lift Aircraft planeja lançar operações em Osaka a partir de abril, alinhadas à Expo 2025.
Até o momento, foram fabricados 24 modelos do HEXA. A aeronave tem uma estrutura ultraleve, feita com fibra de carbono e peças de titânio impressas em 3D, o que reduz o peso e melhora a eficiência do voo. Cada unidade conta com 18 motores elétricos independentes, garantindo redundância e segurança, além de um paraquedas balístico para emergências.
O HEXA pode atingir uma altitude de até 150 pés (aproximadamente 45 metros) em sua fase inicial de operação para o público, com planos de expansão para voos mais altos no futuro.
A velocidade máxima projetada da aeronave é de 90 mph (145 km/h), mas, devido às regulamentações da categoria ultraleve nos EUA, os voos atualmente são limitados a 62 mph (100 km/h).
Modelos semelhantes ao HEXA vêm sendo desenvolvidos por diversas empresas ao redor do mundo, à medida que a indústria de eVTOLs avança.
A Eve Air Mobility, subsidiária da brasileira Embraer, é uma das principais concorrentes no setor, focando em aeronaves elétricas de decolagem e pouso vertical para transporte urbano. Outras empresas, como a Joby Aviation, nos EUA, e a Volocopter, na Alemanha, também estão desenvolvendo soluções para a mobilidade aérea do futuro, com propostas voltadas para táxis aéreos elétricos e transporte de passageiros em grandes cidades.