O empresário Jorge Paulo Lemann, de 81 anos, construiu sua fortuna, estimada em US$ 24,1 bilhões, com ativos da economia tradicional, como a cervejaria AB Inbev, a Restaurants Brands (dona de Burger King, Tim Hortons e Popeyes), a Lojas Americanas e a B2W (Submarino e Americanas.com), entre outras empresas.
Mas, nos últimos tempos, Lemann deixou de lado seu conservadorismo de investir apenas na economia tradicional para apostar em empresas com modelos de negócios inovadores, como a Movile (dona do iFood), a fintech Brex, dos brasileiros Henrique Dubugras e Pedro Franceschi, que vale US$ 2,6 bilhões, ou a Stone, de meios de pagamentos, que abriu o capital na Nasdaq e é avaliada em US$ 21,1 bilhões.
Agora, Lemann faz uma previsão mais ousada sobre o impacto da tecnologia no mundo dos negócios. “Em 2030, quase todas as top 100 serão empresas de tecnologia”, disse Lemann, que participou da sétima edição do evento Brazil Conference at Harvard & MIT. “Algumas empresas tradicionais terão que se adaptar aos novos tempos para não fracassar diante das inovações que virão e algumas irão até se dar bem.”
Na conversa de pouco mais de uma hora, na qual participou Fabricio Bloisi, CEO do iFood, Lemann lembrou que hoje as maiores empresas do mundo, em valor de mercado, já são de tecnologia.
A Apple, por exemplo, vale US$ 2,2 trilhões. Em seguida vem a Microsoft, avaliada em US$ 1,9 trilhão, e a Amazon, cujo valor é US$ 1,7 trilhão. Fecha o grupo de empresas trilionárias a Alphabet, dona do Google, cuja capitalização é de US$ 1,5 trilhão. Mas Lemann alertou que em 2030 talvez essa lista não seja mais a mesma.
Durante o debate, que foi mediado pelo professor Nitin Nohria, decano da Universidade Harvard, Lemann afirmou ter comprado ações da corretora Robinhood e revelou que sua mulher adquiriu ações da montadora de carros elétricos Tesla.
“Não pretendo me desfazer dessas ações (da Tesla), porque acredito no futuro da inovação. Logo o carro elétrico vai superar os modelos a combustão”, disse Lemann.
Sobre outro investimento da moda, as criptomoedas, Lemann prefere esperar para ver o sistema absorver padrões administrativos confiáveis, que garantam transações mais seguras. O bilionário também disse ter uma visão neutra sobre a Amazon e o Walmart e considerou a fabricante de carros General Motors e a petroleira ExxonMobil como apostas de curto prazo.
Lemann, no entanto, ressaltou, durante o debate, que não abandona conceitos tradicionais e afirmou que muitos negócios vistos hoje como de ponta não irão crescer nem obter lucro se não determinarem objetivos nítidos com base em mensurações confiáveis e atraírem volume de investimentos. Vencerão, diz ele, aqueles que exibirem a vantagem competitiva da inovação associada a estratégias testadas.
Raramente Lemann faz comentários políticos, mas ele se arriscou a tocar em alguns assuntos na conversa. Segundo ele, a qualidade de profissionais e políticos éticos serão importantes na construção do Brasil a partir de agora. “O Brasil não é fácil de consertar”, disse ele. “Mas o País pode ser consertado se investirmos em uma melhor governança – e sobretudo em soluções pragmáticas.”
Ao buscar excelência na formação de jovens nas diversas instituições de ensino que apoia, Lemann afirmou que as oportunidades dos jovens vão hoje muito além de ganhar dinheiro.
“A minha geração, há 50 anos, só pensava em ganhar dinheiro”, disse Lemann. “Hoje, a juventude se preocupa com o meio ambiente, o clima e o progresso global com energia sustentável. Os jovens líderes pensam mais nisso do que em apenas lucrar. Mas isso não quer dizer que não possam ganhar dinheiro e, ao mesmo tempo, mudar o mundo. É uma combinação promissora e fascinante a ser explorada.”