O anúncio de que Grupo Pão de Açúcar (GPA) planeja realizar um follow on de cerca de R$ 1 bilhão representa muito mais do que o movimento mais recente da varejista para reduzir sua alavancagem.

Se concretizado, ele marcará o estágio lento (e progressivo) de redução da presença do Casino no Brasil e na América Latina, colocando fim ao sonho de Jean-Charles Naouri, então controlador do grupo varejista francês, de estabelecer sua empresa como um grande nome regional, por meio da criação de uma ampla plataforma de nomes do varejo.

O follow on estudado pelo GPA prevê uma forte diluição dos acionistas que não aderirem à oferta, em aproximadamente 50%. Em nota publicada nesta segunda-feira, 11 de dezembro, dia seguinte ao anúncio do follow on, o Casino informou que manterá uma participação minoritária na varejista brasileira, caso a operação siga adiante. Atualmente, ele possui uma fatia de 40,9% no capital social do GPA e com a operação vai ficar com cerca de 20%.

O processo pode representar um encolhimento melancólico do Casino no País, que assumiu o controle do grupo Pão de Açúcar em 2012, depois de uma longa batalha corporativa travada com Abílio Diniz.

O empresário brasileiro patrocinou uma tentativa de união entre Pão de Açúcar e Carrefour, o que foi visto por Naouri como uma forma de evitar que ele assumisse a rede brasileira. No fim, Naouri "venceu". E, um ano depois, Diniz vendeu toda sua participação e deixou a empresa.

Quando tomou posse, Naouri "herdou" uma empresa que tinha diversos ativos. Entre eles, as varejistas de eletroeletrônicos Casas Bahia e Ponto, debaixo da Via Varejo. E, na área de varejo alimentar, o atacarejo Assaí, que começava a fazer frente ao Atacadão, do Carrefour.

A primeira "peça" desse império a ser vendida foi a Via Varejo, cuja uma fatia foi comprada pela família Klein, em 2019, marcando o retorno do clã que havia fundado à empresa.

A partir daí, o Casino foi vendendo outros ativos para lidar com seu elevado endividamento, que, ao fim do primeiro semestre somou € 6,1 bilhões.

Junto a isto, as operações na França apresentam desempenho muito fraco, com as vendas caindo 8,3% no terceiro trimestre em base anual. Por mais que o desempenho na América Latina tenha sido positivo, com alta de 8,3% do GPA, as vendas totais no período recuaram 5,5%.

A situação faz com que as ações do Casino acumulem queda de 92,7% no ano, para € 0,71. O valor de mercado soma € 75 milhões.

Dessa forma, pouco a pouco, o Casino foi abrindo mão de seus ativos na região, em busca de recursos. Em março deste ano, levantou cerca de R$ 4 bilhões com o follow on do Assaí. E, depois, em junho, arrecadou mais R$ 2,1 bilhões com a venda de uma participação remanescente que tinha na rede de atacarejo.

Em paralelo ao processo de redução de sua participação no GPA, o Casino fechou, em novembro, com a companhia brasileira a compra de 34% da Cnova, operação de e-commerce dos francês na Europa, por R$ 53,5 milhões.

Além dos ativos brasileiros, o Casino aceitou em outubro a oferta do Grupo Calleja pela rede colombiana de supermercados Almacenes Éxito, numa operação avaliada em US$ 1,17 bilhão. O grupo francês fechou um pré-acordo para vender a sua participação de 34,05% na oferta pública de aquisição (OPA) a ser lançada pelo grupo varejista de El Salvador.

Na França, o controle do Casino acabou trocando de mãos. Como parte de um processo de reestruturação das dívidas e injeção de recursos, o segundo maior acionista do grupo varejista, o bilionário tcheco Daniel Kretínsky, em parceria com a holding francesa Fimalac e a gestora de private equity britânica Attestor Capital passarão a deter 53% do grupo francês, colocando fim ao período de Naouri.

Ainda que esteja reduzindo sua presença no Brasil, o Casino segue tendo influência sobre o GPA. Junto com o follow on, a varejista brasileira anunciou uma proposta para a eleição de um novo conselho de administração, que contará com dois membros indicados pelo Casino – Christophe José Hidalgo, que já é membro do board, e Philippe Alarcon.

Naouri deixaria a presidência do conselho de administração, para dar lugar a Renan Bergmann. A proposta, junto com o plano de aumento de capital, deverá ser analisada em assembleia extraordinária de acionistas, marcada para 11 de janeiro.

Por volta das 16h19, as ações do GPA recuavam 7,85%, a R$ 3,99. No ano, elas acumulam queda de 8,8%, levando o valor de mercado da companhia a R$ 18,9 bilhões.