O uso do termo “camelo” para designar as startups mais capazes de sobreviver a períodos de pouca liquidez ganhou popularidade na pandemia. E inspirou os irmãos Thadeu e Felipe Diz, e seu amigo de infância, Rodrigo Monteiro, quando eles venderam a Zee.Dog para a Petz, em 2021, por R$ 715 milhões.

Na época, o cheque e a expressão tiveram como destino dois novos roteiros: a CamelFarm Capital, focada em startups de bens de consumo e que reúne recursos dos fundadores da Zee.Dog e de terceiros. E a CamelFarm Ventures, family office criado para garimpar e gerir os investimentos do trio.

Agora, um desses braços está dando origem a um novo “camelo”, com um fôlego além do Brasil e cujo nascimento e primeiros passos foram antecipados ao NeoFeed. Trata-se da Camel Saudi Properties, joint venture que tem a CamelFarm Ventures como sócia e cujo “habitat” será a Arábia Saudita.

“Nós teremos, a princípio, um fundo de R$ 120 milhões para investir entre 2024 e 2025”, afirma Thadeu Diz, sócio-fundador da CamelFarm Ventures, ao NeoFeed. “E vamos alocar esses recursos em diferentes áreas do real estate na Arábia Saudita, de pontos comerciais a apartamentos de luxo.”

O contrato para a criação da joint venture foi firmado na sexta-feira, 1º de dezembro. E conta ainda com a assinatura do saudita Faruk Omar Bin Sultan, um ex-colega de Thadeu e Felipe na Swiss Hotel Management School, na Suíça, onde a dupla estudou no início dos anos 2000.

Nos termos da parceria, a CamelFarm Ventures irá responder por 50% do montante inicial de R$ 120 milhões no fundo. Os 50% restantes serão aportados por Sultan e sua família. Além dos recursos, o clã em questão traz para a mesa um histórico de investimentos no mercado imobiliário do país.

A Arábia Saudita entrou no radar dos irmãos Diz e de Monteiro há cerca de dois anos. E, à medida que eles esbarraram na burocracia local – estrangeiros, por exemplo, não podem investir diretamente em real estate -, o ex-colega de classe na Suíça surgiu como uma opção para viabilizar o projeto.

A partir da formalização da joint venture, a expectativa é dar a largada nos primeiros investimentos entre janeiro e fevereiro de 2024. A princípio, cerca de 40% dos recursos serão aplicados em imóveis residenciais. Os 60% restantes serão divididos entre pontos no varejo e escritórios.

No mapa delimitado pela Camel Saudi Properties, os aportes serão concentrados em Riad, capital da Arábia Saudita, e em Jidá, a segunda maior cidade do país. Já os cheques irão variar de US$ 300 mil a US$ 7 milhões, de acordo com o imóvel adquirido, seja ele já pronto ou ainda na planta.

“As empresas envolvidas nos projetos vão ter muito peso nessa avaliação”, diz Thadeu. “Há muitos projetos comerciais sendo erguidos, por exemplo, em parcerias com marcas como Prada e Porsche, o que também está alimentando a procura do público de alta renda por apartamentos nas proximidades.”

Num segundo momento, ele não descarta que essa tese encontre espaço para apartamentos numa faixa de preço superior. Para isso, uma das possibilidades, a partir de 2025, é de que o fundo busque levantar recursos com outros investidores, além dos cheques aportados por seus próprios sócios.

Na casa do trilhão

Se ainda não crava que a joint venture irá buscar recursos externos, Thadeu deixa bem claro que outros investimentos, na casa do trilhão, explicam o fato de a Arábia Saudita ter entrado no mapa de interesse da CamelFarm Ventures.

O pano de fundo é o plano Vision 2030, encampado pelo príncipe saudita Mohammed bin Salma, com o objetivo de diversificar a economia do país e reduzir a dependência do petróleo. E cujo principal combustível é um aporte previsto de ao menos US$ 1,5 trilhão, financiado, em boa parte, pelo governo.

Parte dessa cifra será aplicada em empreendimentos como a Oxagon, área na região de Neom que será reservada a empresas e fábricas de tecnologia. Outro projeto é batizado de Trojena, que terá como plano e vocação se consolidar como um grande destino turístico no Oriente Médio.

Essa ambição encontra abrigo ainda em iniciativas como a The Line. Com a previsão de atrair 9 milhões de habitantes, a cidade futurista e sustentável cortará, literalmente, o país de ponta a ponta. Um dos destaques será uma linha de 170 quilômetros de comprimento para delimitar seu espaço urbano.

O projeto da The Line, cidade futurista que cortará a Arábia Saudita

Além da expectativa criada a partir desses e de outros projetos, o interesse da CamelFarm Ventures encontra um paralelo em outra passagem da biografia de Thadeu e de seu irmão: o período entre 2003 e 2004, quando moraram em Dubai, e testemunharam o início da série de investimentos na região.

“Dubai não era o destino de turismo nem tinha todo o desenvolvimento imobiliário de hoje”, lembra. “Nós até brincávamos que você dormia e, quando acordava, surgia um prédio novo. Vimos isso de perto, mas não tínhamos dinheiro pra investir. Perdemos essa oportunidade.”

A conta bancária reforçada pelos recursos da venda da Zee.Dog não é, no entanto, a única diferença na comparação com vinte anos atrás. Thadeu ressalta que Dubai nuca teve a maior população do Oriente Médio e um produto interno bruto próximo ao da Arábia Saudita.

“E o governo da Arábia Saudita está, inclusive, flexibilizando muitas de suas leis polêmicas nesse novo momento”, afirma. “Então, vemos uma oportunidade 10, 20, 30 vezes maior do que aquela que testemunhamos em Dubai. E estamos entrando no tempo certo no país.”