Depois de um breve período de otimismo, analistas e mercado voltaram a ficar pessimistas com o setor de adquirência. Temas que pareciam estar no retrovisor, como condição da economia e cenário competitivo ultra agressivo, voltaram novamente ao radar, gerando receios com as perspectivas das companhias.

O mais recente alerta foi dado pelo Itaú BBA, que decidiu revisar as recomendações e preços-alvos para as ações do setor. Quem mais sofreu com a revisão promovida pelos analistas Pedro Leduc, William Barranjard e Mateus Raffaelli foi a Stone, cuja recomendação passou de neutro para venda e o preço-alvo caiu de US$ 11 para US$ 9.

Para o PagBank, a recomendação está agora em neutro (era compra). O preço-alvo foi de US$ 13 para US$ 10. Os analistas mantiveram Cielo em neutro, depois do corte promovido no começo do ano, com preço-alvo de R$ 3,90.

“A combinação de ventos contrários para a indústria de cartões e a amplificação da intensidade competitiva estão rapidamente apagando os ganhos de margens projetados anteriormente com a queda da taxa Selic”, diz trecho do relatório.

Os analistas do Itaú BBA afirmam que o mercado consumidor reduziu o ímpeto consumista e os dados recentes não apontam sinais de uma retomada robusta. Segundo eles, isto ocorre pela redução do crédito disponível no mercado e menor confiança dos consumidores.

A emissão de cartões desacelerou, com os bancos e pequenos emissores buscando controlar o nível de inadimplência após o boom de crédito e emissões de cartões visto no período pós-pandemia. E os planos de Brasília de impor limites ao rotativo podem prejudicar ainda mais o cenário.

Um tema estrutural levantado pelos analistas é o avanço do Pix, que vem ocupando cada vez mais o espaço dos cartões de débito. Os analistas estimam que o Pix representou 20% dos pagamentos no começo do ano, contra 14% dos cartões de débito. O indício é de que esta fatia deverá continuar crescendo.

Mesmo diante de um cenário turbulento, muitas empresas de adquirência estão expandindo suas equipes comerciais, especialmente nomes ligados a grandes bancos. Segundo os analistas do Itaú BBA, essas companhias estão agregando ao serviço de adquirência outros produtos, visando atrair um número maior de pequenas e médias empresas.

“Se esta tendência continuar, acreditamos que ela pode levar adquirentes independentes a serem mais agressivos na precificação e com o tamanho de sua força de venda, enquanto tentam recuperar um volume maior de transações e o crescimento da penetração na base”, diz trecho do relatório.

Toda esta situação prejudica a retomada da Stone. Depois de um primeiro semestre surpreendentemente positivo, a companhia deve sentir duramente o novo cenário, considerando que ela é uma empresa intensiva em capital e pessoas, além de apresentar as ações em patamares muito elevados, com P/E de 11 vezes.

A Stone também não conta com uma experiência bancária bem desenvolvida e os softwares não se tornaram a solução que imaginavam para reduzir o churn e elevar o engajamento dos clientes.

Para o PagBank, o relatório do Itaú BBA diz que a companhia apresenta uma tese de investimento positiva, com boa execução em adquirência e com o plano dela de constituir um braço bancário para reduzir os custos de financiamento. Mas o cenário adverso faz com que as ações não tenham catalisadores para subir mais, no momento em que o P/E está em 8 vezes.

Quanto à Cielo, os analistas afirmam que o preço das ações não deve passar para abaixo de R$ 3,50, mas eles também não veem nada puxando os papéis para cima. A expectativa das consequências do recuo dos volumes de pagamentos, do menor take-rate e dos custos elevados devem exercer forte pressão sobre a linha final do balanço.

Por volta das 12h24, as ações da Stone caíam 3,94% na Nasdaq, a US$ 9,99. Desde o começo do ano, elas registram alta de 5,1%, levando o valor de mercado a US$ 3,1 bilhões.

Os papéis do PagBank tem queda de 1,78% na Bolsa de Nova York, a US$ 8,54. No acumulado do ano, elas recuam 1,6%, com o valor de mercado somando US$ 2,7 bilhões.

As ações da Cielo subiam 1,12%, a R$ 3,61, registrando queda de 31,1% no ano. O valor de mercado da companhia é de R$ 9,8 bilhões.