Na primeira teleconferência desde que apresentou, em 14 de julho, seu plano de recuperação judicial, a Light, que tem dívidas de R$ 11 bilhões, buscou apontar que, ao menos operacionalmente, sua situação segue dentro da normalidade. O problema é que parece que ninguém quis ouvir.

Iniciada com atraso em relação ao horário estabelecido, às 11h, a call não contou com nenhuma pergunta de investidor ou analista – no site de relações institucionais, estão listados 13 bancos e casas de research que acompanham a empresa.

Para quem estivesse ouvindo, o CEO da Light, Octavio Pereira Lopes, disse que a operação de distribuição segue dentro da normalidade, seguindo os padrões estabelecidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), mesmo com a redução dos investimentos para obter o equilíbrio financeiro da área, que a apresenta as principais dificuldades do grupo.

No segundo trimestre, o capex (investimento) caiu 51,8%, para R$ 176 milhões. Somando com as despesas gerais e administrativas, que subiram 22%, o recuo dos investimentos fez a Light reduzir em 30% as despesas totais da parte de distribuição, para R$ 364 milhões. Com isso, a geração de caixa subiu em R$ 87 milhões em relação ao segundo trimestre de 2022, para R$ 89 milhões.

“A Light permanece fazendo os investimentos necessários para prestar serviços de qualidade aos clientes”, disse Lopes. “As medidas para combater o desequilíbrio financeiro seguem sendo cumpridas.”

Ele destacou ainda que os gastos ficarão concentrados em ações que gerem retornos de curto prazo. “Medidas que afetavam o caixa ou que dariam retorno no longo prazo foram descontinuadas”, afirmou.

Os ajustes, segundo os executivos, vêm sendo feitos em meio à retração do mercado de referência, que corresponde à área de concessão da companhia. “A redução do mercado de referência tem sido disparado pior do que as perdas não técnicas”, afirmou o diretor financeiro, Eduardo Gotilla, utilizando o termo técnico para os conhecidos “gatos”.

As declarações, porém, parecem não ter convencido os investidores. Por volta das 14h45, as ações da Light caíam 5,2%, a R$ 6,72. No ano, elas acumulam alta de 46,6%, levando o valor de mercado a R$ 2,5 bilhões.

Nos relatórios divulgados por bancos e casas de research, a avaliação é de que os resultados foram fracos, ainda que a Light tenha revertido o prejuízo registrado no segundo trimestre de 2022, de R$ 80 milhões, para um lucro de R$ 109,4 milhões.

Segundo o J.P. Morgan, o resultado positivo na última linha do balanço veio graças à melhora das despesas financeiras, mas as operações seguem com problemas e com aumento das despesas administrativas.

“Os fundamentos da tese de investimento permanecem desafiadores, com as perdas de eletricidade subindo, e nós mantemos a nossa recomendação de venda”, diz trecho do comentário distribuído aos clientes.

A Light registrou uma receita líquida de R$ 3,3 bilhões, queda de 2%, e um Ebitda ajustado de R$ 483 milhões, recuo de 28,4%.

Recuperação judicial

No caso do plano de recuperação judicial apresentado no mês passado, a administração da Light foi sucinta, ao dizer que negocia com os credores e espera conseguir um entendimento o mais rápido possível.

Mas considerando a reação de alguns credores, um entendimento ainda deve levar tempo. Menos de 24 horas após ter publicado os detalhes do plano de recuperação, credores das debêntures manifestaram desapontamento com a proposta.

Ao NeoFeed, o sócio da banca FCDG Advogados, José Roberto Castro Neves, que assessora um grupo de gestoras com cerca de R$ 5 bilhões em debêntures da Light, afirmou na ocasião que o plano “foge do conceito de recuperação”, exigindo uma série de sacrifícios do credores.

A Light apresentou seis alternativas para os credores da sua dívida de R$ 11 bilhões, que vai do pagamento imediato a pequenos investidores, até um desconto mínimo de 60% do valor a receber via leilão reverso.