Em 2021, a Pague Menos reativou seu plano de expansão após um hiato de um ano sem ampliar sua base de lojas. Desde então, a rede cearense de farmácias engatou uma marcha agressiva de aberturas e adicionou 202 unidades ao seu mapa de operações.

Agora, porém, a empresa decidiu colocar o pé no freio e diminuir sua dose de crescimento orgânico. Em fato relevante divulgado na noite de ontem, dia 8 de maio, a companhia reduziu sua projeção de aberturas de lojas neste ano de 60 para 20 unidades. O guidance de 120 lojas para 2024 foi mantido.

“O varejo farma já provou ser bem resiliente, mas, nesse cenário macro bem desafiador, principalmente pela taxa elevada de juros precisamos ser conservadores”, disse Mário Queiróz, CEO da Pague Menos, em call com analistas na manhã desta terça-feira, 9 de maio. “Nesse momento, o nome do jogo é caixa.”

Queirós e Luiz Novais, CFO da Pague Menos, ressaltaram que o impacto da revisão será bem marginal na expansão da empresa. E, para reforçar essa visão, colocaram nessa conta o crescimento inorgânico da rede a partir da aquisição da Extrafarma.

Anunciado em maio de 2021, o acordo foi aprovado em junho de 2022 pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A transação foi concluída um mês depois, por R$ 737,7 milhões, e fez com que a Pague Menos chegasse a uma base atual de 1.647 lojas, sendo 376 da Extrafarma.

No saldo dessa aquisição e das aberturas e fechamentos de lojas nesse intervalo, a empresa chegou a um total de 617 lojas novas no período, 229 a mais do que meta de 388 inaugurações que havia sido dada no roadshow pré-IPO, em 2020.

“Estamos com o prato cheio com essas quase 380 lojas da Extrafarma, que estão bem abastecidas”, observou Queirós. “Então, vamos capturar essas sinergias e, no decorrer do tempo, a expectativa é de que, em 2024, possamos retomar o crescimento orgânico.”

A Pague Menos projeta uma redução de aproximadamente R$ 100 milhões nos desembolsos em capex e capital de giro com a revisão para baixo da meta de inaugurações. E vê mais espaço para dar sequência a esse discurso do “cash is king”.

Uma outra via nessa direção é o fato de que a companhia encerrou a fase mais crítica da integração de estoques, em nove centros de distribuição, com a Extrafarma. Nesse processo, a rede investiu em um “duplo estoque”, como alternativa para evitar rupturas e dar mais segurança a essa migração.

“Agora, começamos a desmobilizar o estoque dos CDs antigos”, disse Luiz Novais, CFO da Pague Menos. “Nossa projeção é reduzir em pelo menos 10 dias o prazo médio do estoque no segundo trimestre, o que equivale a algo próximo de R$ 250 milhões, com normalização ao longo do ano.”

Em outro ponto, o executivo também destacou o fato de a operação da Extrafarma ter alcançado o break even operacional no primeiro trimestre de 2023, com um Ebitda de R$ 3,9 milhões. E ressaltou ainda o montante de R$ 12,2 milhões capturados em sinergias a partir da integração da empresa.

“No nosso cronograma, estamos dois trimestres antecipados em relação a essa curva de captura de sinergias”, disse. “Agora, a Extrafarma vai começar a contribuir positivamente para o Ebtida com uma geração de caixa que vai ajudar a diluir todos os investimentos que fizemos.”

Com esse cenário e a perspectiva de melhora no desempenho da safra de novas lojas adicionada nos últimos dois anos, Novais enxerga um caminho viável para que a Pague Menos alcance o guidance de reduzir a alavancagem da operação para 1,7 vezes na relação dívida líquida/Ebitda no fim de 2024.

No primeiro trimestre de 2023, a alavancagem da Pague Menos foi de 3 vezes a dívida líquida/Ebitda, contra 1,5 vezes, um ano antes. Esse não foi o único indicador desfavorável reportado pela empresa no período.

No resultado consolidado, que inclui a operação da Extrafarma, a Pague Menos apurou um prejuízo líquido ajustado de R$ 55,3 milhões, contra um lucro líquido ajustado de R$ 24,4 milhões registrado no primeiro trimestre de 2021.

As despesas gerais e administrativas somaram R$ 88 milhões, um crescimento em base anual de 36%. Já a dívida líquida consolidada avançou 113,7%, para R$ 1,26 bilhão. o Ebitda Ajustado avançou 3,8%, para R$ 168,5 milhões, enquanto a margem Ebitda ajustada recuou 1,7 ponto percentual, para 6%.

A receita líquida entre janeiro e março cresceu 33,6%, para R$ 2,6 bilhões. Houve uma expansão de 4,3% nas vendas mesmas lojas. O mesmo indicador evoluiu 7,2%, excluindo dessa conta os testes de Covid-19. Já na Extrafarma, as vendas mesmas lojas cresceram 4,7% e 6,5%, respectivamente.

A receita nos canais digitais foi de R$ 314,4 milhões, o que representou um salto anual de 66%. Na Pague Menos, o digital chegou a uma participação de 12,5% nas vendas e, na Extrafarma, essa fatia ficou em 5%.

Em relatório, a XP destacou os “resultados fracos, como o esperado”, mas ressaltou perspectivas positivas para a Extrafarma, especialmente no que diz respeito ao break even da operação e no término da integração em logística. A casa manteve recomendação de compra e o preço-alvo para a ação de R$ 7.

A reação do mercado, porém, não foi nada positiva. Por volta das 12h30, as ações da Pague Menos desabavam 8,39% na B3, cotadas a R$ 2,84. No ano, os papéis da companhia, avaliada em R$ 1,3 bilhão, acumulam uma queda superior a 35%.