Nas últimas semanas, Andrew Cuomo, governador de Nova York, viu sua imagem de herói nacional construída no combate à pandemia ser arranhada por uma série de denúncias.

Entre elas, as acusações de assédio sexual e de ter encoberto o número real de mortes pela Covid-19 em lares de idosos no estado, que têm alimentado a pressão pelo seu impeachment ou renúncia.

Agora, Cuomo está novamente no centro de uma polêmica que deve abalar ainda mais sua popularidade. Ao menos entre os moradores mais abastados de Nova York, entre eles, os milionários de Wall Street.

O governador e a Assembleia Legislativa do estado estão próximos de um acordo que faria os milionários do estado e da Big Apple pagarem a maior taxa de imposto do país.

Cuomo vem resistindo a isso por anos, sob a alegação de que um movimento nessa direção levaria uma série de empresas para fora do estado. Entretanto, as quedas de receita na esteira do novo coronavírus, somadas à força crescente da ala progressista do poder legislativo estariam por trás dessa decisão.

Caso seja confirmada, a ampliação dos impostos geraria um valor anual extra de US$ 4,3 bilhões em impostos. A decisão incluiria ainda a legalização de apostas com o potencial de arrecadar US$ 500 milhões adicionais, com a criação de até três cassinos no estado.

Na prática, o acordo criaria, temporariamente, duas novas faixas de impostos de renda pessoal. A primeira delas, de 10,3% para rendas entre US$ 5 milhões e US$ 25 milhões.

Já a segunda, de 10,9% para rendas acima de US$ 25 milhões, de acordo com dados preliminares obtidos pelo The New York Times. As novas taxas teriam validade até o fim de 2027.

Ainda com o acordo, a alíquota do imposto de renda pessoal seria ampliada de 8,82% para 9,65%, no caso de pessoas cujos ganham superam US$ 1 milhões e de declarações conjuntas que somam mais de US$ 2 milhões.

Com uma eventual aprovação das novas taxas, os donos das rendas mais elevadas na cidade de Nova York poderiam pagar entre 13,5% e 14,8% em impostos estaduais e municipais. Nesse caso, o imposto superaria o índice de 13,3% da Califórnia, hoje, o mais alto dos Estados Unidos.

O aumento da arrecadação a partir da elevação dos impostos dos milionários seria usado para conter os impactos da pandemia em programas e subsídios voltados tanto aos cidadãos como às pequenas empresas em dificuldade.

Segundo o The New York Times, a comunidade empresarial alertou que o aumento nas alíquotas do imposto de renda pode levar milionários que saíram de Nova York temporariamente, durante a pandemia, a deixarem definitivamente o estado, prejudicando sua base tributária.

Atualmente, os 2% mais ricos de Nova York são responsáveis por cerca da metade da arrecadação do estado.

Anunciado na semana passada, o pacote de US$ 2 trilhões do presidente americano Joe Biden, destinado à infraestrutura, também prevê financiamento via aumento de impostos. Entretanto, o aumento nas taxas proposto no plano estaria concentrado nas pessoas jurídicas.

Entre as empresas, o reajuste proposto no imposto de renda é de 28%, contra a alíquota atual de 21%. O pacote sugere ainda um aumento nos impostos cobrados sobre o lucro das companhias no exterior, de 10,5% para 21%. A taxa será sobre os lucros em cada país, reduzindo a chance de empresas explorarem paraísos fiscais.