A perspectiva cada vez mais próxima de um início de ciclo de queda da taxa Selic – hoje a 15% ao ano, –, desenhada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) deve impactar positivamente pelo menos 18 empresas de capital aberto no País nos próximos meses.

O reflexo deve ser sentido no resultado financeiro das companhias a partir do primeiro trimestre de 2026 e no próprio resultado das ações na B3, segundo preveem os analistas do banco Citi. As empresas foram incluídas na lista com base no impacto resultante no lucro líquido.

Entre os setores mais impactados estão companhias do ramo imobiliário, varejo, concessionárias de serviços públicos, aluguel de carros, shopping, saúde, alimentos, entre outros. O Citi avaliou fatores de despesas não financeiras, como a sensibilidade da receita líquida às taxas de juros.

No setor imobiliário, a lista inclui empresas como Cyrela, JHSF, Iguatemi e MRV, tendo como base o grande volume de financiamento que envolve o segmento, tanto na questão da alavancagem das companhias, quanto no impacto para o consumidor final.

“A Cyrela está exposta a consumidores de média/alta renda, cujas decisões de compra são altamente dependentes do financiamento imobiliário”, diz Leandro Bastos. “O Iguatemi tem elevado endividamento (dívida líquida versus Ebitda de 4 vezes). O corte de juros ajudaria a reduzir despesas financeiras”, afirma Gabriel Barra.

No caso da MRV, a queda da Selic pode ajudar justamente no aumento do volume de vendas, para o público-alvo dos empreendimentos da construtora. “Tem forte exposição ao segmento de baixa renda, altamente sensível à taxa de juros via acessibilidade do crédito imobiliário”, explica João Pimentel.

No varejo, a tendência é também de um impacto no volume de vendas, favorecendo a possibilidade de financiamento a um custo menor para o cliente final. “No caso do Magalu, o setor de varejo é altamente sensível a juros, principalmente em bens duráveis. Queda da Selic reduz custo de capital e impulsiona consumo parcelado”, explica.

Para o setor de aluguel de veículos, em que são analisados os resultados de Localiza e Unidas, analistas do Citi entendem que há uma elevada dependência de financiamento para renovação de frota. A queda da Selic reduz custos financeiros dessas empresas.

Marfrig e BRF, que ainda aguardam decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre a possível fusão das duas empresas de proteína animal, são consideradas, na avaliação de Gustavo Schroden, do Citi, companhias com dívidas muito elevadas, e que poderiam ser afetadas positivamente com alívio das despesas financeiras. “Há benefício maior em ambiente de queda.”

Entre as concessionárias, o banco cita Ecorodovias (controladora do Sistema Anchieta-Imigrantes) como beneficiárias da queda dos juros no Brasil, justamente pela alta alavancagem do setor de infraestrutura, provocada pela necessidade de um intenso volume de capital. “Cortes de juros reduzem despesas financeiras e liberam caixa”, diz o banco.

Menos exposição

Por outro lado, os especialistas também enxergam segmentos que serão menos aderentes à redução da taxa de juros no País pelo Copom, principalmente pelo bom volume de caixa e menos necessidade de volume de financiamento.

“Listamos aquelas ações brasileiras que nossos analistas acreditam que provavelmente seriam menos afetadas em seus respectivos setores em um cenário de corte de juros, seguindo a esma metodologia descrita anteriormente. O objetivo aqui é fornecer uma lista de ações que provavelmente terão menor variação de preço em um cenário de corte de juros”, diz o banco.

Com exposição relevante no mercado dos Estados Unidos, Embraer e Gerdau estão entre as empresas listadas no País que menos sentirão impacto em suas ações, e nas próprias receitas, da possível redução da taxa por parte de executivos liderados pelo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.

“A Gerdau provavelmente será a siderúrgica menos impactada em nossa cobertura, já que 50% de seus resultados vêm dos EUA (e também devido ao fato de sua dívida ser majoritariamente denominada em dólar)”, diz Gabriel Barras.

“As empresas brasileiras, por outro lado, têm mais operações domésticas e dívida denominada em Selic e, portanto, provavelmente serão mais afetadas do que a Gerdau em um cenário de corte de juros”, completa.

No caso da fabricante brasileira de aeronaves, que conseguiu entrar na lista dos setores isentos do tarifaço do presidente americano Donald Trump sobre as importações brasileiras, o pouco impacto está no fato de a maior parte de suas operações, e de suas dívidas, estarem no exterior, o que faz com que a variação da Selic não afete diretamente seu resultado.

Praticamente sem alavancagem, as companhias Renner, do setor de varejo de moda, e a M.Dias Branco, fabricante de massas e biscoitos, “sofrem”, nesse caso, por serem empresas com caixa líquido. “Taxas de juros mais baixas levariam a lucros menores”, prevê João Pedro Soares, sobre a Renner.