Os protestos contra o racismo por conta da morte do americano George Floyd, morto por um policial em Minneapolis, nos EUA, chegaram ao mundo das marcas.

Nesta quarta-feira, 17 de junho, a Bombril foi duramente criticada nas redes sociais por lançar uma esponja de aço batizada de Krespinha. O nome do produto faz uma associação pejorativa com o cabelo dos negros e a empresa foi acusada de racismo, com a repercussão chegando ao trending topics do Twitter.

Diante da repercussão negativa, a Bombril informou, através de suas redes sociais, que retirou o produto de seu portfólio. “A Bombril decidiu que vai retirar, a partir de hoje, a marca Krespinha do seu portfólio de produtos”, informou a empresa.

“Mesmo sem intenção em ferir ou atingir qualquer pessoa, pedimos sinceras desculpas a toda a sociedade. Vamos imediatamente rever toda a comunicação da companhia, além de identificar ações que possam gerar ainda mais compromisso com a diversidade.”

Nos Estados Unidos, duas empresas também anunciaram, nesta quarta-feira, que estão revendo a imagem de dois de seus produtos. A primeira é a Quaker Foods, divisão da Pepsico, que informou que vai remover a imagem de uma mulher negra de embalagens de panquecas, xaropes e de outros produtos da Aunt Jemima. A empresa disse que vai mudar também o nome da marca.

A Mars, por sua vez, informou que está considerando mudar o nome de sua marca Uncle Ben's, bem como as imagens que caracterizam um negro de cabelos brancos com gravata-borboleta.

"Ainda não sabemos quais serão as mudanças ou o tempo exato, mas estamos avaliando todas as possibilidades", informou a gigante de alimentos, em nota ao jornal americano The Wall Street Journal.

A Krespinha é uma marca da década de 1950. A marca Aunt Jemima é muito mais antiga e remonta a 1889. Foi inspirada por uma música popular, "Old Aunt Jemima", normalmente executada em shows de menestréis por um homem branco com o rosto pintado de preto, uma prática considerada racista.

A marca Aunt Jemima vai mudar a imagem e o nome

"Reconhecemos que as origens Aunt Jemima se baseiam em um estereótipo racial", disse Kristin Kroepfl, diretora de marketing da Quaker Foods North America ao WSJ. "Embora o trabalho tenha sido feito ao longo dos anos para atualizar a marca de maneira a ser apropriada e respeitosa, percebemos que essas mudanças não são suficientes."

A história da marca Uncle Ben's remonta a um corretor de arroz do Texas que criou uma empresa para comercializar um novo arroz parboilizado. A Mars disse que seu envolvimento com a marca é do início dos anos 1940.

A imagem que a simboliza foi inspirada por duas pessoas: um plantador de arroz negro chamado Tio Ben e um garçom de Chicago que usava uma gravata-borboleta preta. "Desde então, evoluímos e modernizamos o logotipo icônico", afirmou Mars.

Apesar do esforço da Mars de adaptar a marca aos novos tempos, as críticas nunca cessaram, pois a gravata-borboleta preta evoca a servidão e o apelido "tio" lembra um período em que os sulistas brancos dos Estados Unidos usavam "tia" e "tio" para se referir ao negros em vez de "senhor" e "senhora".

“As marcas precisam se cuidar e se preparar para essa nova realidade”, diz Eduardo Tomiya, especialistas em marcas. “As pessoas estão sensíveis a temas como esse.”

De acordo com o especialista, as marcas devem fazer uma análise caso a caso. “E avaliar o quanto a marca coloca em risco a imagem corporativa em função do contexto atual”, afirma Tomiya.

A marca de arroz Uncle Ben´s vai também mudar o nome

Parece que foi o caso da HBO, que decidiu excluir temporariamente de seu catálogo “E o Vento Levou”, de 1939, vencedor de oito Oscar e uma das maiores bilheterias da história do cinema, além de ser um dos filmes mais aclamados pelo público e pela crítica. O motivo? Seu conteúdo é considerado hoje preconceituoso.

No começo deste ano, uma pesquisa realizada com 1.814 entrevistados no Brasil indicou que mais da metade dos brasileiros deixa de comprar produtos ou serviços de marcas que já manifestaram algum tipo de preconceito em relação a gênero, orientação sexual e raça.

De acordo com a pesquisa, realizada pelo grupo de pesquisa e análise de dados da consultoria Croma, 53% não consomem produtos de marcas que tenham histórico de preconceito

Por outro lado, o estudo mostrou também que 72% dos entrevistados têm desconfiança com propagandas com conteúdo LGBT, antirracista ou anti-preconceituoso que são promovidas por grandes marcas.

Os resultados mostram sinais contraditórios dos consumidores. Mas agora em meio aos protestos antirracistas que se espalharam pelo mundo, as marcas parecem que não querem correr nenhum risco de serem identificadas com o preconceito.

Siga o NeoFeed nas redes sociais. Estamos no Facebook, no LinkedIn, no Twitter e no Instagram. Assista aos nossos vídeos no canal do YouTube e assine a nossa newsletter para receber notícias diariamente.