Com a tributação dos fundos exclusivos e a resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) que restringiu lastros para as letras de crédito agrícola e imobiliária (LCA/LCI) e para os certificados de recebíveis agrícolas e imobiliárias (CRA/CRI) em 2024, os investidores se voltaram para as debêntures incentivadas.
Os fundos com esses ativos triplicaram de tamanho e passaram os R$ 200 bilhões sob gestão. A demanda por essa classe segue aquecida, após terem gerados retornos em torno de 14% ao ano isentos de imposto no ano passado.
“Houve uma compressão de 60 bps no índice de debêntures incentivadas, ou seja, uma marcação a mercado positiva de 3%. Então, na média, o mercado pagou CDI+3% ao ano isento de imposto. É difícil achar outra classe de ativo que tenha pago mais”, afirma Vinícius Romero, sócio e portfólio manager da XP Asset, ao Wealth Point.
Com a taxa básica de juros em patamar ainda mais elevado neste ano, os gestores enxergam a chamada "oportunidade da década" nestes títulos. A XP fez um relatório analisando a curva de juros da NTN-B 2045 de 2007 até hoje, o que mostrou que juros reais acima de 7%, como o que se tem hoje, são raros. Apenas em 7% do tempo os juros desse título público ficaram acima de 7% ao ano, e em apenas 2% do tempo esteve acima de 7,5% ao ano.
Ou seja, para os juros reais futuros subirem acima disso, o Brasil teria de estar pior do que nos últimos 18 anos, o que os dados do PIB não parecem demonstrar. O mais provável, é que eles caiam – o que gera retorno na marcação a mercado.
“Esse nível de juro real é uma raridade, estatisticamente falando. E economicamente não é sustentável. A conta de dívida pública não fecha. Então, alguma coisa precisa acontecer. Eu até brinco: ou o Brasil quebra, ou você vai ganhar dinheiro com o fechamento da curva de juro real”, afirma Romero.
Michelle Lauande, gestora de fundos de infraestrutura da Santander Asset Management, concorda. E para capturar esse movimento, o investidor deve estar em fundos de debêntures incentivadas não hedgeados. Os hedgeados convertem o juro real ao CDI, e foram a principal escolha dos investidores no ano passado por não sofrerem tanta volatilidade.
“É inegável o prêmio de risco na curva de juros hoje, é uma grande oportunidade. E agora o investidor está entendendo como se ganha dinheiro com crédito, então é importante ‘apimentar’ um pouco a carteira com volatilidade para ter esses resultados”, afirma Lauande.
O investimento em debêntures incentivadas via fundos garante uma maior diversificação da carteira e acesso tanto ao mercado primário como secundário, além de ser uma oportunidade de ganhar acima do mercado pela gestão ativa, que sabe o momento certo de vender os papéis, e garante liquidez caso seja necessária - há títulos de infraestrutura com mais de 15 anos de prazo.
De olho na demanda dos investidores, novas empresas devem vir a mercado emitindo debêntures incentivadas, pois a legislação foi atualizada no início de 2024 para atender outros setores. É a possibilidade de dar mais diversificação às carteiras.
“Há um pipeline muito interessante neste ano, que foge do óbvio energia e saneamento. Estamos com novas concessões rodoviárias e portuárias que devem vir a mercado, entre outras coisas por sair. Esperamos novos emissores, o que só mostra a maturidade que esse mercado conquistou”, afirma a gestora de fundos de infraestrutura da Santander Asset.