CEO da Amazon, Andy Jassy divulgou a tradicional carta endereçada aos acionistas da companhia americana nesta quinta-feira, 10, de abril. E como também é usual em documentos dessa natureza, o conteúdo é bastante extenso.
Entretanto, nas 5050 palavras que compõem a mensagem do executivo, um termo – citado 62 vezes – se destaca como um fio condutor do texto: o “porquê”, que, segundo Jassy, ajuda a resumir a cultura da Amazon e como a empresa fundada em 1994 por Jeff Bezos alcançou o status de gigante.
“Temos essa filosofia de longa data na Amazon sobre decisões de portas de mão dupla e de mão única. E, nos últimos 30 anos, descobrimos que uma das chaves mais importantes para destrancar essas portas têm sido uma pergunta simples: por quê?”
Jassy participou ativamente de muitos desses questionamentos. Na empresa desde 1997, ele foi o fundador e liderou, desde o início, o que viria a se transformar na AWS – o braço de infraestrutura e serviços de tecnologia da Amazon. E, em 2026, assumiu como CEO da big tech, no lugar de Bezos.
Como parte dessa história, Jassy faz referência na carta ao fato de que seu pai uma vez lhe disse que ele era o tipo de criança que ficava perguntando constantemente a respeito de tudo, em um comportamento “talvez irritante”.
“Ele também me lembrou que, logo depois que entrei na Amazon, em 1997, tentou me convencer a trabalhar em um lugar mais tradicional (e na costa leste, mais perto da família) – só para perceber que eu já tinha encontrado o encaixe perfeito. Isso porque a Amazon é uma ‘empresa de Porquê’”, escreve.
Na sequência da carta, Jassy elenca quais são os próximos porquês no horizonte da Amazon. E, dentro desses questionamentos, a inteligência artificial (IA) é um dos temas dominantes, com espaço para uma “cutucada” na Nvidia.
Há também menções a projetos em que a empresa ainda precisa, de fato, dar uma resposta ao mercado e aos investidores. É o caso do Project Kuiper, de oferta de banda larga via satélite. Um segmento em que a Amazon largou bem atrás da Starlink, de Elon Musk.
Confira trechos de algumas dessas reflexões do CEO da Amazon:
Por que a IA é tão importante?
A IA generativa reinventará praticamente todas as experiências do cliente que conhecemos e possibilitará experiências completamente novas, sobre as quais apenas fantasiamos. Cada vez mais, você verá a IA mudar as normas em codificação, pesquisa, compras, assistentes pessoais, atenção primária, pesquisa sobre câncer e medicamentos, biologia, robótica, espaço, serviços financeiros, redes de vizinhança — tudo. Não vai acontecer tudo em um ou dois anos, mas também não vai levar dez. Está acontecendo mais rápido do que quase tudo que a tecnologia já viu.
Por que investir tanto e tão rápido em IA?
Se sua missão é tornar a vida dos clientes melhor e mais fácil a cada dia, e você acredita que cada experiência do cliente será reinventada pela IA, você vai investir profunda e amplamente em IA. Na AWS, quanto mais rápido a demanda cresce, mais data centers, chips e hardware precisamos adquirir. Só começamos a monetizar esse investimento muitos meses depois de aportá-lo e ao longo de muitos anos — o que leva a um Fluxo de Caixa Livre e a um retorno sobre o investimento atraentes no longo prazo (como as pessoas têm visto na AWS nos últimos anos). Continuamos acreditando que a IA é uma reinvenção única de tudo o que conhecemos, a demanda é diferente de tudo o que já vimos antes e nossos clientes, acionistas e negócios serão bem atendidos por nossos investimentos agressivos agora.
Por que chips e IA precisam ser tão caros para os clientes?
A IA não precisa ser tão cara quanto é hoje e não será no futuro. Os chips são os maiores culpados. A maior parte da IA até hoje foi construída em um único fornecedor de chips. É caro. O Trainium deve ajudar, já que nossos novos chips Trainium2 oferecem 30 a 40% melhor custo-benefício do que as instâncias de computação com GPU geralmente disponíveis hoje.
Por que não conseguimos entregar os itens aos clientes ainda mais rápido? Isso importa?
O Amazon Prime começou com entrega ilimitada e gratuita em dois dias para um milhão de produtos; agora cresceu para mais de 300 milhões de itens, com dezenas de milhões disponíveis em um dia (ou menos). Um número crescente de entregas acontece no mesmo dia. Embora tenhamos estabelecido recordes de velocidade por dois anos consecutivos, ainda estamos aprimorando essas inovações e temos outras planejadas. Ainda não terminamos de melhorar a velocidade.
Por que não podemos ajudar centenas de milhões de pessoas sem conexão de banda larga?
Existem cerca de 400 a 500 milhões de domicílios em todo o mundo, a maioria em pequenas cidades rurais, que não têm acesso à conexão de banda larga. Essa exclusão digital é o que o Projeto Kuiper, nossa rede de satélites em órbita baixa da Terra, visa resolver. Estamos apenas lançando nossos primeiros satélites de produção e, no final, teremos mais de 3.200 em órbita nos próximos anos. Embora o lançamento exija muito capital, acreditamos que o Kuiper representará uma receita operacional e um ROI significativos.