Analisar pelo menos mil ações de empresas ao redor do mundo, dezenas de moedas de outros países e mais uma infinidade de ativos de outras categorias, como renda fixa e commodities, tudo isso ao mesmo tempo, é uma tarefa humanamente impossível.
Para driblar essa barreira, a Bradesco Asset Management (Bram) está aumentando a aposta em robôs que sejam capazes de monitorar e gerar recomendações para todos esses papéis.
O mais novo passo desse esforço será dado no mês que vem, com o lançamento de mais cinco fundos quantitativos, baseados em algoritmos, que se juntarão aos 19 que já estão sob o guarda-chuva da área quantitativa da Bram, criada em 2017.
Com isso, a Bram espera dobrar o montante sob gestão da área, hoje em R$ 20 bilhões, para R$ 40 bilhões. “Temos percebido uma demanda muito forte e achamos que devemos atingir essa meta ao longo de 2022”, afirma Luiz Philipe Roxo Biolchini, diretor de investimentos da Bram, ao NeoFeed. A asset como um todo administra R$ 550 bilhões.
Ao investir mais em robôs, um dos objetivos da Bram, que atua com mais força em fundos de previdência, é ampliar a sua exposição a investimentos no exterior, uma vez que não consegue acompanhar tudo com o time local.
“O sonho de toda gestora é ter uma analista para cada ação. Mas isso é impossível. Só no Brasil são mais de 200 companhias. Imagina lá fora”, afirma Clayton Rodrigues, superintendente da gestora e responsável pela área quantitativa.
Um dos fundos será exclusivamente composto por ações globais e dedicado a investir em BDRs, papéis emitidos no Brasil para ativos listados no exterior. Lá fora, os novos robôs da Bram estarão acompanhando cerca de mil companhias, negociadas ou nos Estados Unidos ou na Bolsa de Hong Kong.
As BDRs que serão investidas pela Bram, vale ressaltar, são de ETFs, um índice que representa a carteira de outro fundo, no caso, um estrangeiro. Portanto, ao investir na BDR de um ETF, a gestora do Bradesco pode estar investindo em várias empresas ao mesmo tempo.
Além do fundo de BDRs, a Bram também lançará em dezembro um fundo quantitativo para ações do mercado brasileiro, um de juros e moeda, também focado em Brasil, e outro de crédito global. Como há vários ETFs nos quais a Bram pode investir, o número de ativos cobertos pode chegar aos milhares, diz Rodrigues.
O quinto fundo será um multimercado que será a mistura de todos os quatro já citados. "Todos os modelos já estão prontos, testados e aprovados", afirma o superintendente.
A ideia é que, inicialmente, os novos fundos sejam oferecidos aos clientes institucionais da gestora. À medida em que as carteiras forem ganhando tração, passarão a ser disponibilizadas aos investidores do varejo.
“O nosso propósito é facilitar o acesso dos investidores a investimentos mais qualificados, como a renda variável de outras geografias e investimentos associados a sustentabilidade e tecnologia, por exemplo”, afirma o diretor de investimentos da Bram.
Apesar de apostar nos algoritmos, a gestora do Bradesco entende que a decisão final cabe aos profissionais humanos. Os robôs farão a análise e a recomendação, com indicações de risco, retorno e alocação na carteira. No entanto, a Bram acredita que o "feeling" de cada profissional ainda segue tendo um papel fundamental.
“Sabemos que muitas informações não estão nos dados, nas notícias e nos balanços. O analista pode ouvir uma entrevista do diretor de RI (Relações com Investidor) de uma empresa e capturar algo que não está nos números”, afirma Rodrigues.
Além de fazer a análise fundamentalista das empresas, os robôs também vão acompanhar dados macroeconômicos dos países onde elas estão inseridas, tendências de mercado e volatilidade.
Por também confiar no lado humano, a asset do Bradesco tem ampliado o time da área quantitativa. Ao longo do ano, foram cinco contratações. Hoje, a equipe conta com 13 profissionais, chefiados por Rodrigues. Ao todo, a gestora tem 202.
A maioria do time quantitativo é formada por físicos, que em geral dominam a modelagem de algoritmos. Mas também há engenheiros, economistas e administradores.
Com isso, a Bram reforça uma tendência do mercado financeiro, de buscar profissionais de outras áreas, em geral habituadas à programação, para dar conta da maior demanda pela criação de robôs para fundos quantitativos.
No mercado, casas como Daemon Investimentos, Giant Steps, Garde Asset e Clave Capital são algumas das que têm contratado matemáticos, físicos e engenheiros de computação.
No mês passado, por exemplo, a SulAmérica anunciou que estava montando um novo time de dados, começando com três profissionais, para conseguir separar o joio do trigo em meio ao excesso de informações com as quais o mercado tem lidado diariamente.
A SulAmérica e a Clave, aliás, são algumas das que seguem o exemplo da Bram e apostam na mescla entre o trabalho dos algoritmos e a interferência humana. O "toque humano" ainda é indispensável, elas acreditam.
Entre os grandes bancos, a asset do Itaú, que tem R$ 833 bilhões sob gestão, também está apostando em algoritmos. Em abril, a casa incorporou a Quantamental, que levou consigo 10 robôs que já haviam sido desenvolvidos e que passaram a reforçar a análise quantitativa da asset da Itaú Asset.
A Quantamental foi a 15ª peça do guarda-chuva da Multimesas, o braço de mini-gestoras da Itaú Asset. Hoje, a estratégia quantitativa da asset soma cerca de R$ 20 bilhões sob gestão.
Entre outras assets que também trabalham com estratégias quantitativas, estão Kadima, Murano, Rio Bravo, Pandhora, Canvas Capital, Constância, Claritas, Mauá Capital, Kapitalo e Encore.