A possibilidade de a Gol entrar com um pedido de recuperação judicial assustou os investidores nesta segunda-feira, 15 de janeiro, diante da sinalização de que o processo está emperrado e pode arrastar, nesse contexto, os acionistas minoritários.
As ações preferenciais da companhia aérea registraram forte queda no pregão. Depois de um recuo de mais de 11%, os papéis fecharam o dia com queda de 6,05%, a R$ 7,14, fazendo o valor de mercado da companhia cair dos R$ 3,18 bilhões apurados na sexta-feira, 12 de janeiro, a R$ 2,98 bilhões nesta segunda-feira, segundo levantamento do consultor Einar Rivero. No ano, a desvalorização acumulada é de 20,4%,
No domingo, o jornal Folha de S.Paulo reportou que a Gol está cogitando pedir recuperação judicial nos Estados Unidos, seguindo o caminho que a Latam tomou há quase quatro anos, no auge da pandemia e dos impactos da Covid-19 no setor aéreo.
De acordo com a publicação, a ideia surgiu diante das dificuldades da companhia aérea em viabilizar um plano de reestruturação que agrade os diversos stakeholders, que vão desde os arrendadores de aeronaves, passando por credores financeiros e detentores de títulos de dívida.
A queda das ações demonstra como o impasse vivido pela companhia e seus credores pode respingar nos minoritários, segundo os analistas do Itaú BBA.
“Ela (a notícia de recuperação judicial) eleva as preocupações de uma potencial diluição aos acionistas”, dizem os analistas Gabriel Rezende, Daniel Gasparete e Luiz Capistrano.
No fim do ano passado, a Gol contratou a consultoria Seabury Capital para auxiliar no processo de reestruturação financeira, considerando que a dívida da companhia soma R$ 20,2 bilhões.
Cerca de R$ 2,9 bilhões vencem no curto prazo, sendo R$ 1,1 bilhão em dívida financeira e R$ 1,8 bilhão em obrigações de arrendamento. Já o caixa prontamente disponível era de R$ 905 milhões, segundo cálculos da Fitch Ratings.
As principais negociações estão centradas nos arrendadores de aeronaves, para discutir um passivo de cerca de US$ 650 milhões, segundo cálculos do Itaú BBA. A esperança era de que a Gol conseguisse fechar um acordo com esses credores para aliviar sua situação financeira, na esteira do que a Azul conseguiu.
Em outubro, a rival da Gol anunciou a conclusão do processo de reestruturação de suas obrigações com parte de seus arrendadores de aeronaves e fabricantes de equipamentos. Na ocasião, a Azul informou que a reestruturação vai reduzir os passivos de arrendamento, com a diminuição dos pagamento de arrendamento futuros em mais de R$ 1 bilhão por ano.
A “convocação” dos acionistas era uma possibilidade, ainda que as principais conversas fossem com os arrendadores. Em relatório publicado no dia 14 de dezembro, por ocasião do investor day da Gol, os analistas do Itaú BBA escreveram que o processo de reestruturação poderia ter que contar com todo mundo.
“Embora as negociações sejam principalmente com os arrendadores, a companhia disse que espera que todos colaborem, incluindo bondholders e acionistas”, diz trecho do relatório publicado na ocasião.
Ainda não há certeza sobre o caminho da recuperação judicial. Procurada pelo NeoFeed, a Gol enviou uma nota informando que está em discussões com seus stakeholders financeiros sobre diversas opções, “incluindo capital adicional para financiar as operações”.
Se optar por esse caminho nos Estados Unidos, a Gol seguirá os passos tomados pela Latam, que entrou com um pedido para ingressar no Capítulo 11 em maio de 2020 e deixou a recuperação judicial quase dois anos e meio depois, em novembro de 2022.
Com o processo, a Latam conseguiu reduzir sua dívida em 35% em relação aos US$ 18 bilhões com os quais ingressou no processo. A aérea também saiu com US$ 2,2 bilhões em liquidez e US$ 1 bilhão a menos em custos.
A opção pelos Estados Unidos se deve ao fato de o país ter regras mais previsíveis. No entanto, diferentemente da Latam, a operação da Gol nos Estados Unidos é bem diminuta, gerando o risco do processo ser recusado.
Para uma fonte ouvida pelo NeoFeed, a companhia caminha para uma recuperação judicial, aproveitando que a operação está com margens mais positivas, ainda que tenha consequência para os minoritários.
"Aproveitando que a operação está melhor, isso ajuda na imagem e a convencer juízes e credores de que é melhor requalificar a dívida. De alguma forma, vai empurrar a parte podre na mão dos minoritários", diz a fonte, que pediu para não ser identificada.
A Gol fechou o terceiro trimestre com um prejuízo de R$ 1,3 bilhão, uma redução de 16% em relação à perda registrada no mesmo período de 2022. A receita operacional líquida subiu 16,4% no período, para R$ 4,6 bilhões, enquanto o Ebitda recorrente avançou 79,8%, para R$ 1,2 bilhão, fazendo a margem recorrente crescer 9,5 pontos percentuais, para 26,8%.