Frango Assado, KFC e Pizza Hut. Esse foi o combo escolhido como prioridade por Alexandre Santoro ao assumir como CEO da IMC, em abril de 2021. Na época, a companhia de food service tinha dificuldade para digerir os efeitos da pandemia na soma das diversas marcas que compunham o seu portfólio.

Nessa divisão, as demais marcas ficaram em segundo plano em termos de foco e alocação de recursos. Algumas delas, inclusive, deixaram de compor esse mix, como as operações no Panamá e na Colômbia, vendidas por US$ 55 milhões, e a Olive Garden, cujo desinvestimento rendeu R$ 45 milhões à empresa.

Três anos depois, a IMC segue com grande parte dos seus esforços neste ano reservada ao trio formado por Frango Assado, KFC e Pizza Hut, e ao mantra de perseguir a rentabilidade. Mas uma outra bandeira tem a perspectiva de voltar a ter espaço no menu da companhia.

“Ainda é muito cedo para afirmar algum caminho, mas esse é um ano em que temos um projeto interno de renovação do Viena”, diz Santoro, ao NeoFeed. “A marca ainda é forte, tem rentabilidade e gostaríamos de fechar 2024 com um plano novo para ela.”

O Viena passou a integrar o portfólio da IMC em 2008, um ano depois de a empresa iniciar suas operações no País. Hoje, a rede tem 38 lojas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e no Distrito Federal, instaladas em shoppings e locais como aeroportos e hospitais.

“Hoje, a marca não tem um projeto de crescimento, pois congelamos isso lá atrás, de propósito”, observa Santoro. “Mas estamos voltando a nos questionar qual oferta ela deveria ter, da identidade visual e menu ao formato.”

Esse último elemento deve ser um dos focos caso esse projeto seja levado adiante. Com 100% da sua rede formada por lojas próprias, uma das eventuais opções seria adotar o modelo de franquias, já usado em outras marcas do grupo, o que evitaria a necessidade de retomar a expansão com capital próprio.

“Não há nada no curtíssimo prazo e nossa estratégia de foco em Pizza Hut, KFC e Frango Assado não muda um milímetro”, explica o CEO. “Mas uma coisa foi o esforço de reorganizar a companhia. Outra é começar a pensar em caminhos adicionais de potencial e geração de valor.”

O fato é que o balanço da empresa, divulgado na noite de terça-feira, 26 de março, mostra que ainda há alguns pontos de atenção no turnaround da IMC, apesar dos avanços obtidos pela companhia a partir de uma série de medidas implantadas nos últimos três anos.

Entre outubro e dezembro de 2023, o grupo apurou um prejuízo líquido de R$ 76,2 milhões, revertendo o lucro líquido de R$ 122,6 milhões em igual período, um ano antes, impulsionado, na época, pelo ganho de capital contabilizado a partir da venda das operações no Panamá.

Sob esse mesmo impacto, o prejuízo líquido no consolidado de 2023 foi de R$ 82 milhões, ante um lucro líquido de R$ 72,7 milhões em 2022. Os eventos não-recorrentes também foram apontados como a razão por trás da queda de 29,3% no Ebitda ajustado trimestral, para R$ 72,5 milhões.

Desconsiderando esses efeitos, o Ebitda ajustado avançou 31,8%, para R$ 60,6 milhões. No ano, por sua vez, o indicador cresceu 8%, para R$ 302,9 milhões. Já a receita líquida da IMC no trimestre foi de R$ 570,1 milhões, alta de 7,4%. E, em 2023, ficou em R$ 2,3 bilhões, 6,2% superior a 2022.

A IMC fechou o ano com uma posição de caixa de R$ 234,1 milhões e uma dívida líquida de R$ 295,4 milhões, contra R$ 198,7 milhões e R$ 305,1 milhões, respectivamente, no terceiro trimestre de 2023.

No balanço, o grupo também ressaltou que, a partir de um total de R$ 460 milhões captados em emissões realizadas em 2023, reduziu o custo médio da sua dívida em 116 base points, além de aumentar o prazo médio para 42 meses.

Nesse contexto, a empresa encerrou 2023 com uma alavancagem, medida pela relação dívida líquida/Ebitda de 2 vezes, contra 1,8 vez no trimestre anterior, 1,5 vez em 2022 e abaixo do patamar de 3 vezes acordado nas emissões realizadas.

“Ainda temos muitos desafios pela frente, por exemplo, em termos de evolução da rentabilidade”, afirma Santoro. “Mas, hoje, a companhia está numa situação muito mais estruturada, do ponto de vista de alavancagem e com outra dinâmica. Nós nos preparamos para entrar muito fortes em 2024.”

Plano de expansão

Com 601 lojas em seu portfólio, uma boa parcela da expansão será dividida entre o KFC e a Pizza Hut. Na primeira rede, que atualmente conta com 192 unidades, sendo 107 próprias e 82 franquias, a estimativa é inaugurar entre 30 e 40 pontos de venda em 2024.

Na bandeira, o plano é dividir a expansão igualmente entre unidades próprias e franquias, em particular, nas regiões Sul e Sudeste, e com maior foco em lojas de rua. Já na Pizza Hut, cuja rede tem 275 lojas, 93 delas próprias, não há uma projeção fechada para o ano.

Nesse caso, entre os formatos que devem ganhar mais atenção estão as lojas de menor porte, com poucos assentos ou voltadas exclusivamente a vendas no balcão ou delivery, cujo investimento para o franqueado gira em torno de R$ 1,1 milhão e R$ 1,5 milhão.

Outro modelo relacionado a essa bandeira que esteve no centro de um projeto-piloto e deve ganhar capilaridade é a parceria com as lojas de conveniência AmPm, para a oferta de pizzas pré-prontas. No momento, as duas redes estudam como e em quais bases irão ampliar esse acordo.

Em termos de expansão, o destaque em 2024, porém, deve ser, enfim, a retomada de inaugurações da rede Frango Assado, cuja última loja foi inaugurada no fim de 2021. Atualmente, a bandeira conta com 25 unidades, todas em rodovias paulistas.

Nessa retomada, apesar da perspectiva de investir em alguns projetos greenfield, a prioridade deverá estar centrada no crescimento no modelo brownfield, por meio da instalação de unidades em locais que já contem com postos de combustíveis e mesmo um restaurante em operação.

“Ainda vamos priorizar São Paulo, onde temos um potencial de crescimento de dez anos”, diz Santoro. “Já temos negociações em andamento e, para esse ano, o plano é inaugurar pelo menos uma unidade e, a partir de 2025, acelerar esse crescimento.”

As ações da IMC fecharam o pregão dessa terça-feira em queda de 1,40%, cotadas a R$ 2,11. Em 2024, os papéis têm uma valorização de 6,56% e a empresa está avaliada em R$ 602,2 milhões.