Em março de 2020, uma semana antes de a Covid-19 começar a decretar quarentenas por todo o País, a Divibank chegava ao mercado com a proposta de financiar as campanhas de marketing digital de startups e de pequenas e médias empresas.
Depois de 14 meses marcados por testes e a captação de seus primeiros clientes, a fintech está abrindo as portas para investidores. A empresa anuncia nesta quarta-feira um aporte de R$ 20 milhões, liderado pelo Better Tomorrow Ventures (BTV), fundo americano focado em startups financeiras.
A rodada tem ainda a participação de outros fundos americanos. São eles: Village Global, que conta com investidores como Bill Gates, Jeff Bezos e Mark Zuckerberg; Clocktower Ventures; Gilgamesh Ventures; Rally Cap Ventures; e Alumni Ventures Group.
Completam esse extenso time o brasileiro Maya Capital, de Lara Lemann e Mônica Saggioro, e o chileno Magma Partners, além de nomes como Sebastian Mejia, fundador da Rappi; Karim Atiyeh, fundador da startup americana de cartões corporativos Ramp; e Josh Abramowitz e Daniel Simon, fundadores da fintech americana Bread.
“Queríamos fundos focados em fintechs e investidores que já conhecem esse mundo”, diz o colombiano Jaime Taboada, cofundador e CEO da Divibank, em entrevista ao NeoFeed. “Agora, começar uma nova etapa, com a possibilidade de escalar muito mais rápido.”
A história da fintech começou a ser escrita em meados de 2019, quando Taboada, um ex-executivo da área de investment banking do Goldman Sachs, em Nova York, desembarcou no Brasil e começou a dar expediente no Maya Capital, ajudando na avaliação dos potenciais investimentos do fundo brasileiro.
Disposto a empreender, ele identificou um ponto em comum nos projetos que passavam por suas mãos. “A maioria das startups buscava capital para aplicar até 50% em marketing digital”, diz. “Para mim, não fazia sentido diluir participação por conta de um investimento que seria feito em um ou dois meses.”
Ainda em 2019, ele conheceu a brasileira Rebecca Fischer, especialista em marketing digital, que trouxe uma percepção adicional ao empreendedor: muitas PMEs tinham bons retornos com as campanhas digitais, mas não conseguiam acesso a capital para seguirem com essas iniciativas.
A dupla decidiu, então, buscar uma alternativa capaz de atender a esses dois públicos. A proposta da Divibank se baseia no modelo de revenue sharing. Para conceder o crédito para campanhas digitais, a fintech projeta a receita da empresa em questão, a partir da análise de diversos indicadores.
Além de dados financeiros, a performance das estratégias de marketing digital do cliente é uma das métricas que balizam esse processo. Ter ao menos três meses de investimento em marketing digital é um pré-requisito para tomar o empréstimo. Assim como ter, no mínimo, seis meses de faturamento.
A Divibank cobra uma porcentagem mensal fixa sobre a receita da empresa, em média, de 1% a 4%. “A vantagem desse modelo é que a empresa não é penalizada se tem um mês mais devagar em termos de faturamento”, explica Taboada.
Ele cita mais benefícios potenciais, especialmente na comparação com outras fontes de captação, como o venture debt. “Nosso financiamento é muito mais focado, mais rápido e não necessariamente vai tomar muita dívida da empresa.”
Taboada não revela dados consolidados das operações já realizadas pela fintech, que já tem uma base de mais de 50 clientes. Segundo o empreendedor, desde o início da Divibank, já foram solicitados mais de R$ 83 milhões em créditos. E, nos últimos três meses, o volume de financiamentos cresceu 221%.
O plano da startup compreende empréstimos na faixa de R$ 5 mil até R$ 2 milhões. Para financiar essas operações, a fintech tem como alternativas recursos como a estruturação de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs).
Equipe e portfólio
Com o montante captado na rodada de R$ 20 milhões, um dos planos da Divibank é formar uma equipe com cerca de 30 profissionais, nos próximos doze meses. As prioridades são as contratações nas áreas de vendas, marketing e de apoio às operações.
Outro foco são os investimentos em tecnologia e na ampliação do portfólio. Um dos projetos já em curso é a oferta de softwares para que os clientes possam gerenciar e avaliar a performance das suas campanhas de marketing digital.
A fintech também projeta investir no desenvolvimento de ofertas adicionais. “Temos muitos clientes de e-commerce e empresas de software como serviço”, diz Taboada. “E planejamos testar, ainda nesse ano, opções de financiamento de estoque e de securitização de receitas recorrentes.”
No Brasil, o financiamento de startups e PMEs, já atrai outras empresas. É o caso da a55, que anunciou um aporte de US$ 35 milhões há uma semana, liderado pelo fundo americano Accial Capital.
A empresa, que tem ainda investidores como a Mouro Capital, braço de venture capital do Santander, trabalha com financiamentos para capital de giro e campanhas de marketing digital.
Quem também está apostando nesse público é o BTG Pactual, que lançou recentemente uma linha de crédito específica para startups e empresas de tecnologia. A oferta inclui empréstimos entre R$ 200 mil e R$ 4 milhões, com taxas mensais de 1,8%, prazo de 18 meses e carência de até seis meses.
Já no modelo de venture debt, há exemplos como a Galapagos Capital, fundada pelo ex-sócio do BTG Pactual e do C6 Bank, Carlos Fonseca, além de nomes como Brasil Venture Debt e Silicon Valley Bank (SVB).
“Essas alternativas começam a se tornar populares, pois endereçam uma dor muito clara das startups”, afirma Bruno Diniz, fundador da consultoria Spiralem. “Além de ser uma opção à diluição de equity, muitas dessas empresas têm dificuldades para tomar empréstimos nos grandes bancos.”
Ele ressalta que essa diversidade na oferta e a demanda por esses produtos são sinais de amadurecimento do mercado brasileiro. “Há três anos, talvez não fosse um timing tão bom”, diz. “Agora, é um combustível para que as empresas da nova economia saiam, de fato, do chão, e de forma mais sustentável.”