A Iporanga Ventures começou a captação de seu terceiro fundo cuja meta é chegar a US$ 100 milhões. Ao contrário de seus dois outros fundos, cuja tese é agnóstica, o objetivo da gestora, agora, é levantar os recursos para investir apenas em fintechs. O foco geográfico será expandido também para a América Latina – antes, era preferencialmente Brasil.

“Quando olhamos para o portfólio do nosso segundo fundo, 70% dos investimentos eram em fintechs”, diz Leonardo Teixeira, sócio e managing partner da Iporanga Ventures, ao NeoFeed. “Então, resolvemos nos especializar.”

A gestora já investiu na Stark Bank, um banco digital focado em startups e pequenas empresas; na Klavi, que atua na área de open banking; Gorila, uma plataforma de consolidação de investimentos; e na BX Blue, da área de crédito consignado, comprada pela PicPay.

O foco, no entanto, não é investir em soluções financeiras para o B2C, nem em bancos digitais, áreas que demandam muitos recursos para escalar, além de ser um mercado povoado de competidores e que enfrenta uma dura batalha das instituições incumbentes.

O alvo, de acordo com Renato Valente, sócio e managing partner da Iporanga Ventures, são soluções de embedded finance desenvolvidas por empresas que não são bancos, mas empresas de software que fazem parcerias com instituições financeiras e provedores de tecnologia.

Na prática, são soluções financeiras para empresas que não têm esses serviços em seu core, que vão desde pagamento, cartões, empréstimos até transações.

A tecnologia blockchain pode ser a infraestrutura para possibilitar essas soluções, embora não seja um pré-requisito na tese de investimentos da Iporanga Ventures. “O embedded finance está apenas arranhando a superfície”, diz Valente, ao NeoFeed. “Esse é um mercado com potencial gigantesco.”

De acordo com uma pesquisa da McKinsey, as soluções de embedded finance atingiram um faturamento de US$ 20 bilhões nos Estados Unidos. “O mercado pode dobrar de tamanho nos próximos três a cinco anos”, diz um trecho do relatório da consultoria americana.

O desafio da Iporanga Ventures será levantar recursos em meio a juros altos. Mas, na visão dos dois sócios da gestora, a curva dos juros futuros está caindo no Brasil. E, globalmente, os sinais são de que os Bancos Centrais estão começando a parar de subir as taxas. “O pior já passou”, diz Teixeira.

Um executivo de um banco de investimentos com quem o NeoFeed conversou concorda que a maré está virando no setor de venture capital. E que, no segundo semestre de 2023, o mercado vai começar a voltar lentamente.

Na visão desse executivo, os aportes devem voltar a acontecer em empresas de growth nesses últimos seis meses de 2023, algo que ficou praticamente paralisado desde o ano passado, e os investidores devem começar a olhar de novo para investimentos alternativos. “Mas captar será ainda um desafio. Tem de mostrar track record”, diz essa fonte.

No caso da Iporanga Ventures, são dois fundos. O primeiro, muito pequeno, investiu na Quero Educação e na Loggi, que se transformou em um unicórnio. O segundo, de US$ 30 milhões, já fez aportes em 28 startups e está perto do fim da fase de investimentos. Por esse motivo, a gestora começa a se movimentar para um novo fundo.

Iporanga triplica a aposta

A gestora já está em conversas com potenciais limited partners (LPs). A busca por recursos envolve investidores dos Estados Unidos, onde a Iporanga Ventures montou um escritório em Nova York, comandado por Pedro Silva, um ex-McKinsey e Carlyle.

Neste caso, a ideia é ter acessos a endowments, fundos de fundos e family offices americanos, que estão acostumados a alocar recursos nesta classe de ativos, faça chuva ou faça sol.  A Iporanga Ventures também está conversando com investidores chineses, que estão começando a olhar para a América Latina.

“Esse é o melhor momento para investir”, diz Teixeira. “Essa será uma safra que dará um bom retorno pois o preço está barato, ou melhor dizendo, está justo”, conclui, referindo-se aos excessos de valuations dos anos de 2020 e 2021.

Ao triplicar o montante captado, a Iporanga Ventures vai também aumentar o valor de seu cheque em três vezes. Hoje, ele é em média de US$ 500 mil. No novo fundo, deve subir até US$ 1,5 milhão.

O estágio de investimento segue o de pré-seed e do seed, apostando em empresas em estágio bem inicial para tentar capturar valor naquelas companhias que forem bem-sucedidas (a Loggi, por exemplo, foi um investimento de quando a startup de logística estava ainda no PowerPoint).

Apesar de ampliar os cheques para a América Latina, a maioria dos aportes devem acontecer no Brasil. Nas startups latino-americanas, a Iporanga Ventures pretende se posicionar como um sócio para aquelas empresas que querem vir atuar no Brasil.

A gestora também terá de se diferenciar em meio a uma das teses que mais recebem recursos de venture capital no Brasil. Em 2021, por exemplo, US$ 3,7 bilhões foram investidos em fintechs no Brasil, cerca de 37% do total aportado naquela ano, segundo dados da Distrito.

Em 2022, mesmo com a queda dos investimentos de venture capital, as startups financeiras captaram US$ 1,6 bilhão, aproximadamente 35% do total. Neste ano, até o momento, foram US$ 185,8 milhões, ou 24%.

Apesar de quase todos os fundos de VC generalistas apostarem em teses financeiras, os sócios da Iporanga Ventures acreditam que poucos se especializaram no tema – em especial, quando o investimento acontece em startups early stage.

E, além disso, acreditam que, mesmo com o “boom” de fintechs nos últimos anos, há ainda muito a se fazer nessa área no Brasil e – em especial – em outros países da América Latina, cuja bancarização da população é baixa.

“No Brasil, existe uma agenda regulatória favorável”, diz Teixeira. De fato: nos últimos anos, o Banco Central criou o PIX e avançou no open banking. “A inovação financeira é uma constante. Ele transpassa qualquer modelo de negócio.”