Rafael Stark não é Tony Stark, o personagem dos quadrinhos que dá vida ao Homem de Ferro. Ele não chama a si mesmo de “gênio, bilionário, playboy e filantropo” – como na frase eternizada pelo ator Robert Downey Jr. – e muito menos tem uma armadura mortal à sua disposição.

Mesmo assim, o Stark brasileiro conseguiu atrair a atenção de um dos homens mais poderosos do mundo: Jeff Bezos, o fundador da Amazon. Nesta segunda-feira, 11 de abril, a Stark Bank, fintech que Stark fundou em 2018 e que opera como um banco digital para médias e grandes empresas, anuncia a captação de um aporte de US$ 45 milhões liderado pela Ribbit Capital, que a avaliou em mais de US$ 250 milhões.

A rodada também tem a participação justamente da Bezos Expeditions, gestora criada por Bezos, em seu primeiro aporte em uma startup brasileira. Na América Latina, o fundo já havia investido na NotCo, foodtech chilena de alimentos plant based.

A lista de investidores ainda inclui a gestora SEA Capital, a empresa Kavak, fundadores do Airbnb e executivos de companhias como DST, Visa e Coinbase. K5 Global e Lachy Groom, um dos primeiros funcionários da Stripe, que já apostavam na fintech, também investiram na rodada.

A injeção de recursos chega somente quatro meses após a última captação feita pela Stark Bank, em dezembro de 2021, no valor de US$ 13 milhões. Na época, o investimento foi liderado pela gestora de Lachy Groom. “Já fomos procurados até para uma rodada de Série C”, diz Stark, fundador e CEO da Stark Bank em entrevista ao NeoFeed.

O que explica esse interesse são os resultados da fintech. “Os números estão crescendo de forma exponencial e nós triplicamos o TPV entre a Série A e a Série B.” Com o caixa cheio, o dinheiro será aplicado na contratação de funcionários, o que deve dobrar o time, composto atualmente por cerca de 30 profissionais. Outros destinos serão os investimentos em marketing e na melhoria de produtos, além da criação de novas soluções.

No fim de 2020, a fintech anunciou planos para ser um emissor de um cartão de crédito corporativo, o que ampliava o modelo de negócios e garantia à empresa uma nova fonte de renda, com o take rate das transações.

“É um cartão que oferece controle de gastos e que a empresa consegue determinar diferentes regras para o uso”, diz Stark. Ele cita como exemplo a possibilidade de uma companhia limitar o uso somente para o pagamento de restaurantes ou com um valor fixo por dia.

Rafael Stark, fundador e CEO do Stark Bank

O modelo é semelhante ao adotado pela Brex, startup fundada pelos brasileiros Henrique Dubugras e Pedro Franceschi no Vale do Silício e avaliada em US$ 12,3 bilhões com a última captação, feita em outubro do ano passado.

A próxima fronteira da Stark está na oferta de crédito. Parte do investimento recebido nesta Série B vai acelerar o lançamento de produtos de empréstimo voltados a médias e grandes empresas. “Isso exige bastante dinheiro, já que eu não vou emprestar R$ 10 mil, mas alguns milhões de reais”, diz Stark.

Outra parcela do aporte deverá impulsionar a expansão de uma nova unidade de negócios. Chamada de Stark Infra, a divisão tem o objetivo de desenvolver APIs dentro de casa para, entre outras funções, facilitar a integração das empresas junto ao Banco Central, para a oferta do Pix.

Se você não é um entusiasta de tecnologia como Stark, saiba que uma API é uma interface de programação de aplicações que faz com que uma solução ou serviço converse com outros produtos. Elas são utilizadas para simplificar a integração de novos recursos dentro de um aplicativo, por exemplo.

Com diferentes frentes, a Stark se posiciona como uma concorrente tanto para os bancos tradicionais, como para as emissoras de cartões corporativos. Neste mercado a competição inclui startups como as mexicanas Jeeves e Clara, que desembarcaram por aqui nos últimos meses. A diferença é que a dupla mexicana foca em PMEs.

Da API para o banco

Com sede em São Paulo e uma carteira de clientes composta por mais de 300 empresas, entre elas Colgate, QuintoAndar, Loft, Buser, Isaac, Bitso e Daki, a Stark Bank surgiu a partir de uma dor que Stark encontrou no mercado de tecnologia.

Quando ainda comandava a Hummingbird, companhia que desenvolvia a aplicativos para grandes empresas, o empreendedor percebeu que não havia uma API no mercado voltada para pagamentos, o que inviabilizava o projeto contratado pela Colgate na época.

Stark decidiu não apenas desenvolver a aplicação. O projeto gerou a criação do Stark Bank, que nasceu justamente para ajudar a movimentar o dinheiro de negócios que demandavam por uma tecnologia para realizar pagamentos.

“É um banco voltado para resolver as dores das empresas de médio e grande porte”, diz Stark. “Todos os nossos clientes vêm dos grandes bancos. A seara que atacamos é pouco explorada e os desafios são diferentes de operar com pequenas empresas ou com pessoa física.”

A fintech, que começou operando com fees em cima do uso de serviços de meio de pagamento como boletos e Pix, expandiu seu leque de produtos. Além da transferência bancária e serviços de pagamento, passou a oferecer soluções de câmbio, gestão por centro de custos e folha de pagamentos, entre outras.

O Stark Bank não revela números de receita ou de TPV, mas sabe-se que a companhia movimentou R$ 1,4 bilhão em novembro de 2021. Stark também revela que o índice triplicou entre o fim do ano passado e abril deste ano. E a previsão é que o crescimento em 2022 seja multiplicado por dez.

Para isso, o foco é seguir apostando nas empresas com operações mais robustas. Tanto aquelas de setores mais tradicionais, como as companhias de tecnologia, o que inclui as startups que estão crescendo em ritmo acelerado. “Ainda estamos engatinhando dentro do nosso segmento”, conclui Stark.