A abertura de capital da Snowflake, uma empresa de dados na nuvem que levantou US$ 3,4 bilhões no maior IPO da história de uma empresa de software, fez a alegria de diversos investidores com a valorização de mais de 100% em seu primeiro dia de negociação na Bolsa de Nova York. Seu valor de mercado superou os US$ 70 bilhões na quarta-feira, 16 de setembro.

Mas ninguém poderia estar mais feliz do que o investidor Mike Speiser, diretor da gestora de venture capital Sutter Hill Ventures. Em 2012, ele investiu cerca de US$ 200 milhões na Snowflake e viu sua fatia de 20,3% das ações fechar o dia avaliada em mais de US$ 12,6 bilhões.

É uma multiplicação de mais de 60 vezes o capital investido e esse lucro tem sido comparado com o que algumas gestoras de venture capital tiveram com o IPO do Facebook, em 2012.

É claro que esses ganhos não estão travados – hoje, a ação tem queda de mais de 27%. Mas, por enquanto, o retorno da Sutter Hill é ainda maior do que a Accel ganhou com as ações do Facebook: US$ 7,7 bilhões.

Além disso, a Sutter Hill está longe de ser uma gestora reconhecida como outros nomes do Vale do Silício, a exemplo da Sequoia Capital (também investidor da Snowflake), da Benchmark, da Greylock Partners e da Andreessen Horowitz.

Outros investidores também estão sentados em posições que valem bilhões de dólares na Snowflake. A Altimeter Capital, por exemplo, possui cerca de 15% das ações, com valor superior a US$ 9,2 bilhões. A fatia da Iconiq, de 14%, está agora avaliada em US$ 8,6 bilhões. A Redpoint controla 9% e a Sequoia tem 8,6%.

A Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett, e a empresa de software de gestão na nuvem Salesforce, ganharam US$ 1 bilhão e US$ 280 milhões em um dia, respectivamente. O retorno total da Salesforce é maior do que isso, considerando que também investiu em fevereiro deste ano na empresa, em uma avaliação de US$ 12,4 bilhões.

Mas nenhum deles ganhou mais do que Speiser. Aos 49 anos, ele é um investidor low-profile, que não gosta dos holofotes e raramente posta algo em sua conta no Twitter, na qual conta com alguns milhares de seguidores.

Sua empresa tem um site estático apenas com as iniciais SHV e o endereço de onde está localizada a gestora. O investidor também não aparece em blogs da área, com conselhos sobre como escalar um negócio, e raramente dá entrevistas.

Antes do IPO da Snowflake, Speiser fez uma aparição no programa “Halftime Report”, da CNBC. Quando questionado sobre a empolgação pré-mercado com as ações, Speiser redirecionou a conversa para falar sobre a tecnologia.

“Estamos mais focados em construir um ótimo produto e atender os clientes”, disse Speiser, que ocupou cargos executivos no Yahoo! e na Veritas antes de se tornar um investidor. “Estou animado em ver que o mundo está começando a entender o produto incrível que essa equipe construiu.”

Pessoas que o conhecem, reforçam esse perfil recluso que foge das câmeras e das notícias. “Ele é um indivíduo muito motivado, mas obtém seu sucesso indiretamente por meio das empresas que ajuda a criar”, disse Scott Dietzen, ex-CEO da Pure Storage, empresa que Speiser incubou em 2009, no mesmo escritório que mais tarde geraria Snowflake, em entrevista ao site da CNBC. “Ele dá aos empreendedores que estão fazendo o trabalho o crédito por seu sucesso”.

Parte da estratégia de Speiser deve-se ao seu modelo. A Sutter Hill foi fundada em 1962 por Paul Wythes e Bill Draper, pai do famoso capitalista de risco Tim Draper. E, ao contrário das principais gestoras de venture capital, que levantam fundos a cada poucos anos e têm como objetivo fazer um múltiplo desse dinheiro ao longo de uma década, a Sutter Hill tem o que é chamado de fundo perene, que adiciona capital incremental ao longo do tempo.

Seus dois principais investimentos, liderados por Speiser, ocorreram de forma semelhante, participando desde o início das empresas. Para tirar o Pure Software do papel, Speiser apresentou os dois inventores e fez muitas das primeiras contratações, inclusive de Dietzen, que afirma que ele que foi fundamental em treiná-lo como CEO da uma empresa pela primeira vez.

Na Snowflake, Speiser foi o CEO e CFO, ocupando ambas as funções até 2014, enquanto trabalhava lado a lado com os engenheiros fundadores para projetar um banco de dados para a era da nuvem e enfrentar gigantes como Oracle, Microsoft e IBM.

Para lançar a empresa, ele se juntou aos ex-engenheiros da Oracle, Benoit Dageville e Thierry Cruanes, que conheciam bem os bancos de dados antigos, e ao empresário Marcin Zukowski. Os três são considerados os fundadores da Snowflake.

No ano passado, Speiser recrutou o ex-CEO da ServiceNow, Frank Slootman, que ele conhecia do conselho da Pure Software, para dirigir a empresa, sucedendo Bob Muglia, um ex-executivo da Microsoft.

Muita euforia?

Mas essa empolgação com a Snowflake por parte dos investidores é cheia de riscos. A empresa ainda é deficitária e os múltiplos pelas quais a empresa tem sido negociada desde a sua abertura de capital são considerados bem exagerados por alguns investidores.

O jornal econômico The Wall Street Journal fez uma análise e descobriu que o valor da ação pela vendas projetadas nos próximos 12 meses é maior do que a todas as companhias do grupo de software e serviços do índice S&P 500, que reúne as maiores empresas listadas em bolsa nos Estados Unidos.

Para se ter uma ideia, assumindo um crescimento médio de 140% nos próximos 12 meses, a Snowflake está sendo vendida com um múltiplo de mais de 70 vezes suas vendas projetadas. A Zoom Video, que é uma das grandes vencedoras da pandemia, negocia a um múltiplo de 40 vezes.

A Snowflake também passou a ser a sétima companhia em valor de mercado no BVP Nasdaq Emerging Cloud Index, acima de nomes como Square e Workday.

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