Mais de 2,4 mil quilômetros separam as cidades de Fartura (PI) e Nioaque (MS). Dois pontos inusitados conectam, no entanto, esses municípios. Nenhum deles têm lojas da Casas Bahia ou do Ponto. Mas ambos abrigam moradores que mantêm uma estreita relação com a Via, dona dessas bandeiras.

O laço por trás dessa ligação é o velho carnê, que sempre foi o motor de crescimento da varejista. Agora, porém, sob uma nova roupagem: a do crediário digital. Lançada em março de 2020, a versão atualizada dessa oferta começa a mostrar serviço dentro da operação do grupo.

“Com o crediário digital e as compras online, começamos a entrar em fronteiras onde nunca estivemos”, diz Roberto Fulcherberguer, CEO da Via Varejo, ao NeoFeed. “E, ao mesmo tempo, essa carteira de clientes do carnê, com o digital, está rejuvenescendo. Temos atraído muitos jovens.”

Hoje, os consumidores com até 30 anos representam 14% dessa base, enquanto a faixa de 31 a 40 anos, respondem por 15% do bolo. Dentro do universo total de usuários do carnê, 46% são profissionais autônomos e sem comprovação de renda.

Fartura e Nioaque são apenas dois exemplos do alcance dessa solução. Com 25 milhões de clientes com crédito pré-aprovado, hoje, o carnê digital já tem usuários em 500 cidades nas quais a Via não tem presença física.

Entre janeiro e março, essa linha gerou R$ 99 milhões em créditos, um volume 66% superior ao que foi reportado no segundo trimestre de 2020, quando chegou ao mercado. Levando-se em conta a soma dos 9 meses de operação, o montante chegou a R$ 300 milhões.

Fulcherberguer destaca outro ponto dessa oferta analisando sua versão física e tradicional. “O crediário gera muita recorrência”, afirma. “Dos 7,2 milhões de carnês que temos, 49% dos consumidores renovam os crediários e fazem uma nova compra ao fim de 24 meses.”

A versão mais conhecida do produto, nas lojas das redes, também vem mostrando evolução. Nos últimos doze meses, a base de clientes com crédito pré-aprovado no carnê físico saltou de 3,9 milhões para 14 milhões, com o limite total saindo de R$ 9 bilhões, há um ano, para os atuais R$ 42,5 bilhões.

A Via encerrou o primeiro trimestre de 2021 com uma carteira do crediário de R$ 4,6 bilhões, o que representou um crescimento de 30% sobre a cifra de um ano atrás. Dos 15 milhões de clientes que fizeram uso de algum produto financeiro do grupo nos últimos dois anos, 11 milhões vieram dos carnês.

O CEO da Via chama atenção, no entanto, para outras ofertas desse portfólio financeiro. A principal delas é o banQi, aplicativo que já tem 2,4 milhões de carnês sob sua gestão e que chegou a 2,2 milhões de contas digitais, sendo que mais de 800 mil delas foram abertas nos últimos três meses.

Neste mês de maio, o app chegou a R$ 520 milhões em volume transacionado (TPV). “Com essa marca, já entramos com o pedido junto ao Banco Central para obter a licença de Instituição de Pagamento”, diz Fulcherberguer.

Esse portfólio financeiro vai ser encorpado nos próximos meses. Para isso, um passo recente foi a compra, em abril, da Celer, fintech dona de uma plataforma de meios de pagamento e de banking as a service.

“Isso nos permite entrar em adquirência”, explica Fulcherberguer. “Os sellers do nosso marketplace terão acesso à nossa maquininha, que também poderá ser usada para a concessão de crédito do nosso crediário.”

Outras novidades estão no forno. Entre elas, o crediário para os clientes do marketplace, previsto para estar disponível a partir do terceiro trimestre. No mesmo período, a Via planeja lançar o crédito e as contas digitais destinadas aos sellers da plataforma e demais pessoas jurídicas.

Fortalecer o marketplace é, de fato, a grande aposta da Via para 2021. “Estamos no passo para encerrar o ano dentro da meta de ter entre 70 mil e 90 mil sellers na plataforma”, diz o CEO do grupo. Em março, a varejista chegou a 26 mil lojistas ativos no marketplace.

No primeiro trimestre, a Via reportou um lucro líquido de R$ 180 milhões, alta de 1.284,6% sobre igual período de 2020. A receita líquida foi de R$ 7,5 bilhões, 19,1% superior na mesma base de comparação. Já o GMV do marketplace cresceu 123,5%, para R$ 1,03 bilhão, enquanto o GVM total avançou 27%, para R$ 10,3 bilhões.