Na corrida travada pelas montadoras para produzir veículos elétricos, a Stellantis decidiu unir forças com a Zhejiang Leapmotor Technology. Na quinta-feira, 26 de outubro, a dona da Fiat anunciou que vai pagar US$ 1,6 bilhão por cerca de 20% de participação na companhia chinesa.
Segundo a Stellantis, a decisão de investir na Leapmotor se deu principalmente pelo fato de montadoras chinesas serem capazes de produzir veículos até 30% mais baratos do que seus pares ocidentais. Este, inclusive, é um dos motivos que fez a Volkswagen investir US$ 700 milhões em outra montadora chinesa, a Xpeng, em julho.
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Mas a transação assinada pela Stellantis deixou uma dúvida: será que o grupo franco-ítalo-americano estabelecido no começo de 2021, a partir da fusão da Fiat Chrysler com a PSA Group, que detém 14 marcas escolheu a montadora de carro elétrico chinesa correta? A Leapmotor não é exatamente a próxima BYD; é um player muito menor.
Segundo levantamento feito pela consultoria Bernstein Research, citado em reportagem do jornal The Wall Street Journal, a Leapmotor não ficou entre as dez maiores montadoras de carros elétricos da China nos primeiro nove meses do ano, ainda que esteja crescendo rapidamente.
Com oito anos de vida, a Leapmotor vendeu 111 mil carros no mercado chinês em 2022, acima dos 44 mil de 2021. As montadoras que mais venderam no ano passado – Volkswagen, BYD e Toyota – comercializaram cerca de 2 milhões de unidades cada no ano passado.
A expectativa é de que o acordo com a Stellantis possa ajudar a impulsionar a capacidade produtiva da Leapmotor. Em entrevista à agência de notícias Reuters em setembro, o CEO da montadora chinesa, Zhu Jiangming, disse que a empresa precisa aumentar as vendas em cinco vezes caso queira sobreviver na indústria de carros elétricos, que vem passando por um processo de consolidação.
Para isto, ele disse na ocasião que buscava parceiros fora da China para licenciar sua tecnologia e que gostaria de começar a exportar para Europa, Austrália e Nova Zelândia.
A parceria com a Stellantis deve ajudar com isso. Enquanto o acordo entre Volkswagen e Xpeng prevê a cooperação entre as partes para desenvolver e vender veículos elétricos com a marca alemã na China, a dona da Fiat quer levar carros elétricos para outros mercados, depois de encerrar uma joint venture que tinha com a Guangzhou Automobile Group (GAC), em julho de 2022.
A concorrência da Stellantis com outras montadoras chinesas deve ocorrer fora dos Estados Unidos, diante das questões geopolíticas entre Washington e Pequim, e da União Europeia, onde a Comissão Europeia lançou, em setembro, uma investigação a respeito de subsídios recebidos pelas montadoras chinesas de carros elétricos.
A disputa deve ocorrer nos mercados que a Stellantis diz serem seu “terceiro motor”, no caso, emergentes como Brasil e Turquia. Entre os mercados emergentes, a América do Sul registrou a maior receita no primeiro semestre de 2023, de € 7,5 bilhões (US$ 7,9 bilhões). A receita consolidada do período alcançou € 98,3 bilhões (US$ 103,5 bilhões).
Com as empresas chinesas explorando cada vez mais o mercado internacional, a questão dos custos está se tornando um problema existencial não apenas para a Stellantis, como também para Toyota e Volkswagen.
“Estou colocando em meu portfólio uma montadora chinesa capaz de competir contra nossos concorrentes chineses”, disse o CEO da Stellantis, Carlos Tavares, em teleconferência nesta quinta-feira, para tratar do investimento na Leapmotor.