Os programas de recompras de ações estão abertos em quase 130 empresas listadas na bolsa brasileira. Esse movimento não é uma exclusividade do mercado local. Nos Estados Unidos, as companhias abertas também entraram firme na tentativa de reduzir o volume de papéis em circulação.

Relatório produzido pelo Citi projeta um crescimento de 10% no volume de recompras de ações em 2025, caso o cenário de queda dos preços das ações continue. A expectativa é de um movimento de US$ 1 trilhão em recompras, ante os US$ 900 bilhões registrados em 2024.

Esse montante, segundo o documento, deve sair dos valores projetados para investimentos. “A alocação de fluxo de caixa pode mudar incrementalmente de capex para recompra de ações caso ocorra uma fraqueza adicional nos preços das ações”, escreve Scoot Chronet, estrategista-chefe das ações nos Estados Unidos do Citi.

Em meio ao cenário econômico turbulento, provocado pela guerra comercial iniciada pelo presidente Donald Trump, e pela queda de 6% nos índice S&P 500 nas últimas duas semanas, o mercado americano tem observado um forte indício desse movimento de recompra de ações pelas grandes companhias. Desde a posse de Trump, o valor de mercado das empresas americanas encolheu US$ 4,3 trilhões.

Segundo Chronet, a instabilidade política e macroeconômica deve contribuir para a queda de pelo mais 10% do S&P 500, aproximando-se de 5.500 pontos. “Em suma, a contagem total de ações totalmente diluídas do S&P 500 continua a diminuir, apoiando nossa tese de descapitalização”, escreve ele. “O timing está alinhado com nossa visão de que a política de Trump implicava um risco elevado de queda nas ações dos EUA.”

Com essa perspectiva, o banco projeta a distribuição dos recursos das empresas listadas em 2025 da seguinte maneira: 30% vão para recompras de ações, cerca de 25% para dividendos e cerca de 45% para despesas de capital.

No ano passado, ainda de acordo com o relatório de Chronet, as empresas Apple, Alphabet, Nvidia, Wells Fargo e Visa foram responsáveis pela recompra de cerca de US$ 190 bilhões de suas próprias ações.

O estrategista do Citi é claro sobre os impactos das políticas de Trump sobre as tendências de consumo, que podem contribuir ainda mais para a desaceleração da economia americana. Na prática, o que ele afirma é que o tarifaço global do presidente dos Estados Unidos pode afetar diretamente a economia do país.

“Continuamos a esperar que os riscos da política de Trump, particularmente relacionados às tarifas, não sejam refletidos nas expectativas de lucros consensuais de 2025", disse ele.

"Simplesmente, a incerteza contínua quanto à magnitude e à duração das tarifas torna difícil para os analistas projetarem impactos com muita precisão para ações individuais, quanto mais a nível de índice”, complementou, conforme o documento.

Ainda que haja a previsão da queda do S&P 500, que pode chegar a um nível que facilita a tomada de decisão pela recompra das ações, a perspectiva é de que o índice alcance, antes, um patamar de 6.500 pontos até o fim de 2025, o que representaria um upside de 18% sobre a pontuação atual. Na terça-feira, 11 de março, o indicador estava sendo negociado na casa dos 5.600 pontos.