A gestora de crédito Sparta surfou a onda da demanda pela classe no ano passado e cresceu 70%, chegando a R$ 17 bilhões sob gestão. Mas, agora, a gestora está mais cautelosa com o cenário e quer evitar um grande crescimento – mesmo com a pressão dos investidores.
Na sua carta mensal divulgada na quarta-feira, 12 de março, que o NeoFeed teve acesso, a gestora faz uma análise de que há, neste momento, uma divergência entre fundamento e fluxo no mercado de crédito. O aumento na taxa de juros – até agora e o que está por vir – piora o risco de crédito dos papéis, mas ao mesmo tempo aumenta a demanda do investidor por eles.
O resultado é que os spreads deveriam estar aumentando, mas não estão. Por isso, estão remunerando muito pouco para o risco que estão carregando.
Para a gestora, prova disso é a diferença de spreads entre os títulos A, de maior risco, e os títulos AAA (preferidos pela pessoa física por ter menor risco) está em um dos maiores patamares históricos. Com o primeiro dando em média 2,3 pontos percentuais e o último menos de 1 ponto percentual.
“Por ter muita demanda por títulos AAA e até pelos AA, os spreads não estão abrindo mesmo com a piora do cenário. Isso é um sinal amarelo que nos deixa cautelosos”, afirma Ulisses Nehmi, CEO da Sparta.
Esse equilíbrio que está atenuando o risco artificialmente pode ser rompido e sacudir o mercado de crédito. O que poderia acontecer caso algum grande emissor apresente problemas ou a grande demanda por crédito privado por parte dos investidores esfriar.
Neste contexto, a Sparta está bem mais cautelosa para comprar títulos no mercado, pois não vê tantas oportunidades. E por isso, acha que não é o momento de crescer. Vários de seus fundos estão fechados e alguns estão em análise para fazer esse movimento.
“Temos tido alguma pressão dos investidores para abrir alguns fundos, mas não achamos que é o momento. Crescimento rápido com crédito não combina, ainda mais com o mercado como está. Preferimos não crescer”, diz Nehmi.
Ainda com bastante dinheiro em caixa, a gestora está olhando com lupa as emissões para ver no que vale alocar. Em fevereiro, a gestora analisou 21 ofertas que somaram R$ 16 bilhões e decidiu alocar apenas em quatro ativos não isentos a um spread médio de CDI+1,6%, que somaram R$ 164 milhões, e em 4 ofertas de debêntures incentivadas, que somaram R$ 215 milhões.
Para março, a gestora espera R$ 12 bilhões em 11 ofertas, 4 delas com séries incentivadas, que ainda serão analisadas.
Apesar do ceticismo com o mercado de crédito, a Sparta vê oportunidades em debêntures incentivadas. Por serem atreladas à inflação e seus emissores também terem receitas que são reajustadas por ela, as empresas têm um hedge natural contra essa piora de cenário.
Além disso, as taxas estão em patamares históricos altíssimos, precificados em IPCA+8%. O que faz com que a isenção de imposto agregue de 2% a 2,5% a mais para o investidor. Dessa forma, mesmo com spreads bem baixos, a precificação de mercado já é atrativa - a tendência é esses juros futuros caírem, valorizando os ativos.
“A última vez que houve taxas tão altas foi no impeachment, e o cenário estava muito pior, com inflação de dois dígitos e um desespero da população. Não parece fazer sentido subir deste patamar, só se o Brasil quebrar”, afirma o CEO da gestora.
Nos últimos 12 meses, os fundos Sparta Top e Sparta ANS renderam 113% do CDI.