A SPX Capital decidiu descontinuar sua operação de investment solutions. Criada em 2023 para atender o público institucional, a divisão havia conseguido em dois anos de operação três mandatos exclusivos e uma gestão de fundo de caixa que somam aproximadamente R$ 800 milhões junto a seguradoras e fundos de pensão.
De acordo com fontes próximas à gestora ouvidas pelo NeoFeed, a SPX devolveu os recursos aos clientes no mês passado. Os quatro profissionais que estavam dedicados à área foram dispensados.
Eles foram contratados de grandes fundações para iniciar a operação. Bruno Maueler, que era sócio e head of investment solutions na SPX, era ex-head de investimentos da fundação Copel; Sergio Andrade e Thiago Stefani também saíram da fundação Copel para se juntar à gestora de Rogério Xavier; e Pedro Calmanowitz era ex-head de asset allocation da Fapes BNDES.
A decisão da SPX ocorre em um cenário desafiador para esse mercado, que movimenta, segundo estimativas, mais de R$ 1 trilhão sob gestão. As fundações estão avessas ao risco e pouco dispostas a pagar por diversificação mais sofisticada que as gestoras independentes oferecem, preferindo a alocação em títulos públicos (NTN-Bs).
Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), 82,9% das carteiras das entidades estavam alocadas em renda fixa - um percentual recorde - em dezembro de 2024. Em 2017, esse percentual era de 73,6%, e em 2020, de 59,8%.
A saída rápida da SPX do mercado, no entanto, não foi bem recebida pelo público institucional, justamente aquele que a gestora queria se aproximar.
"Dois anos é muito pouco para desistir de um negócio de longo prazo como é gerir dinheiro para fundações. Mostra impaciência, falta de tato com o mercado institucional e pouca visão de longo prazo", avaliou o alocador de uma fundação, que preferiu não se identificar.
Segundo fontes do mercado ouvidas pelo NeoFeed, a impressão que ficou é de que a gestora "jogou para ver no que ia dar" e achou que seria mais fácil pelo peso de seu nome.
A SPX, porém, deparou-se com grandes bancos bem posicionados e percebeu que, na verdade, não tinha estrutura para fazer gestão de portfólio como outros players independentes desse mercado – que são wealth managers, e não assets, como a TAG Investimentos e a Turim MFO.
A falta de persistência indica que a gestora não está com recursos suficientes para esperar um retorno de longo prazo quando seu core business, o multimercado, ainda está em dificuldades.
Crise dos multimercados se agrava
A classe de fundos multimercados acumula resgate líquido de cerca de R$ 685 bilhões entre 2022 e abril de 2025, segundo dados da Anbima. Nos últimos 12 meses, as saídas líquidas foram contínuas e somaram cerca de R$ 377 bilhões.
Em 2023, a SPX sofreu mais que o restante do mercado, tendo sido a gestora brasileira que mais perdeu recursos (R$ 12,7 bilhões), como mostrou o NeoFeed, ficando na lanterna da rentabilidade, bem distante dos 13% do CDI daquele ano: o Raptor caiu 12,9% e o SPX Nimitz, 1,5%.
No ano passado, a gestora investiu na estratégia e trouxe nomes de peso. Entre eles, Alexandre Rodrigues, que estava na mesa de renda fixa local da tesouraria do Itaú Unibanco, e Marcos Mollica, que era um dos nomes à frente do multimercado Opportunity Total.
Reforçou também seu booking internacional com a contratação de Robert Kim, em Nova York, para gerir ações americanas. Ele foi ex-diretor de investimentos da AB Arya Partners, divisão da AllianceBernstein, e passou por grandes casas do mercado financeiro, como Millennium Management, GLG Partners e Moore Capital.
A operação na Ásia também foi reforçada com Predee Anuvatnujotikul, ex-trader do Goldman Sachs que se juntou à SPX como gestor de portfólio em Singapura para atuar nos mercados de moedas e juros de países asiáticos.
O retorno de fato veio em 2024. No ano passado, o fundo Nimitz rendeu 15,3% e o Raptor, 22%, ante 10,87% do CDI no mesmo período. Mas este ano o resultado ainda está abaixo do benchmark: enquanto o CDI rendeu 4% até abril, o Nimitz subiu 1% e o Raptor caiu 1,2%.
O melhor desempenho, no entanto, não trouxe mais recursos. Segundo dados da Anbima, nos últimos 12 meses até abril, a SPX teve resgate líquido de R$ 9,2 bilhões, sendo a 11ª gestora a mais perder recursos no período. Seus recursos líquidos onshore, contabilizados pela Anbima, somam R$ 38,8 bilhões. Segundo a gestora, contando os seus ativos ilíquidos e offshore, são R$ 57 bilhões sob gestão.
"A classe de investimentos multimercados está muito desacreditada no mercado, e eles sofrem como toda a indústria. Mas há uma dificuldade maior de leitura do que estão fazendo, porque são menos transparentes. Isso dificulta ainda mais ter confiança", afirma um grande alocador.
O grande problema é que a gestora não vê esse quadro se revertendo tão cedo. Por esse motivo, surgiu a necessidade de revisar o portfólio e interromper a operação de investment solutions rapidamente, apesar do desgaste da imagem.
De acordo com pessoas próximas à gestora ouvidas pelo NeoFeed, os principais sócios da SPX, incluindo Rogério Xavier, estão pessimistas com o cenário. É esse o principal motivo para concentrar os investimentos no que pode dar retorno no curto prazo e desistir do que não daria resultado imediato.
Nos últimos 12 meses, os grandes bancos aumentaram sua participação de mercado. O Bradesco Asset Management captou R$ 38,3 bilhões, o Itaú Asset Management, R$ 33,9 bilhões, o BTG Pactual, R$ 32,9 bilhões e o Santander, R$ 13,7 bilhões.
Projeto de diversificação complica
Com o core business da SPX patinando e o patrimônio diminuindo, o poder para investir na diversificação do passivo da empresa cai consideravelmente.
O NeoFeed ouviu cinco grandes alocadores que afirmam estar mais atentos aos novos negócios da gestora. O momento é de avaliar quais projetos vão, realmente, avançar. São exemplos dessa preocupação o private equity e o real estate, duas empreitadas criadas em 2021.
Do lado do private equity, que nasceu de um acordo com a gestora americana Carlyle, os passivos estão sendo geridos, mas novos recursos são muito escassos. Segundo o site da SPX, o total sob gestão é de R$ 2,3 bilhões. Há questionamentos do mercado, também, se as escolhas são a melhor opção para esse tipo de alocação.
No real estate, uma operação feita por meio de joint venture com a SYN Prop Tech, antiga Cyrela Commercial Properties, hoje tem cerca de R$ 2,5 bilhões sob gestão em cinco fundos.
Mas o primeiro fundo da empresa não veio alinhado com a demanda de fundos imobiliários, um mercado ainda muito voltado ao varejo, que é atraído, principalmente, pela distribuição de dividendos.
A gestora foi reticente às mudanças pedidas por assessorias de investimento e analistas de fundos, mas cedeu – não sem arranhar um pouco a imagem. O resultado é que os fundos saíram do radar dos analistas de FIIs, que movimentam bastante esse mercado. Mas há estratégias que têm agradado family offices e investidores mais sofisticados – algo mais próximo ao oferecido por uma boutique do que uma grande asset do setor.
O que deu certo na “nova” SPX
O que tem funcionado é a estratégia de equity, chefiada por Leonardo Linhares. O fundo SPX Hornet Equity Hedge FIM é um dos mais disputados do mercado, mas tem capacity limitado e fechou com cerca de R$ 1,5 bilhão sob gestão. Já o fundo long and short Falcon tem mais capacity e tem apresentado bom desempenho, com cerca de R$ 5 bilhões sob gestão.
Também vem ganhando tração a estratégia de crédito, com cerca de R$ 6,5 bilhões sob gestão. O problema é a dificuldade para se diferenciar de outras casas independentes que estão no segmento há mais tempo e também de grandes assets de bancos, que estão mais próximas da originação desses produtos.
A gestora, no entanto, tem tentado se diferenciar trazendo uma gestão mais offshore para o crédito, objetivo da Seahawk Global, que por enquanto tem cerca de R$ 200 milhões sob gestão.
A reflexão que o mercado faz é que a SPX está no caminho certo ao diversificar seu negócio. Mas muitas dessas empreitadas – pelas escolhas e maneira como começaram – estão gerando mais ruído e arranhando a reputação da gestora do que movendo o ponteiro da receita do business, que ainda depende do multimercado.
A SPX talvez seja o exemplo mais icônico do que representa esse novo momento para o mercado de asset management brasileiro: gestoras independentes perdendo espaço para grandes bancos, que têm mais resiliência e entregam o retorno básico, enquanto grandes gestores multimercado macro ficam em segundo plano nos portfólios, mesmo com reputação e resultado. O CDI nas alturas impõe um novo mercado.
Procurada pela reportagem, a SPX não retornou aos pedidos de entrevista do NeoFeed.