NOVA YORK — Não é caro. Não é francês. E nem mesmo é feito à mão. Longe de qualquer referência ao mercado de luxo, o novo objeto de desejo fashion surgiu despretensiosamente em uma das maiores redes de supermercados dos Estados Unidos: as “mini tote bags” do Trader Joe's.
De lona, com as alças coloridas, as sacolas reutilizáveis devem entrar para a história como um dos produtos mundanos que, mais intensa e rapidamente, conquistaram o estrelato. Lançadas em fevereiro de 2024 nas cores azul, vermelha, verde e amarela, as bolsas são vendidas por US$ 2,99 cada (não está faltando nenhum decimal aqui) e evaporam assim que chegam às prateleiras.
A febre em torno das bolsas Trader Joe's surgiu espontaneamente no TikTok e, pouco tempo depois, as sacolas já estavam causando filas gigantescas nas portas das lojas e sendo revendidas em plataformas de e-commerce por cifras astronômicas.
No mês passado, o Trader Joe's lançou uma edição limitada da bolsa em tons primaveris, nas cores rosa, verde, azul e lilás pastéis. O preço manteve-se o mesmo, US$ 2,99. Mas o frenesi foi tal que a Amazon passou a vender o quarteto por US$ 129, enquanto no eBay, o céu é o limite e o conjunto pode chegar a US$ 50 mil (sim, cinquenta mil dólares).
O que estas bolsas têm de excepcional? Nada. Elas são apenas a versão menor da bolsa reutilizável da marca, criada em 1977 para compras de supermercado. De boa qualidade, são feitas com lona espessa e bom acabamento, têm pequenos bolsos externos em ambos os lados, mas não têm fecho.
O Trader Joe’s é adorado por todas as classes sociais, em especial, estudantes universitários. Foram eles que viralizaram a moda na mídia social, alcançando inclusive a juventude japonesa, que vê no Trader Joe's uma marca emblemática da cultura americana como tantas outras.
Há guias japoneses na Califórnia que levam turistas ao supermercado — quando eles encontram as prateleiras abastecidas com as ”mini tote bags”, compram em quantidades absurdas.
Mas cada cena de multidão avançando alvoroçada sobre as bolsas postada nas redes sociais se faz acompanhar pela grita da turma engajada às causas ambientais. Afinal, o produto nasceu justamente para evitar o uso massivo de sacolas e, assim, preservar o planeta de mais lixo plástico.
“Um pequeno desabafo aqui... VOCÊ. NÃO. PRECISA. DE. 4. DA. MESMA. SACOLA. Estou genuinamente frustrado com a situação das sacolas da Trader Joe's. É tanto desperdício e é tão vergonhoso ver membros da minha espécie surtarem por causa de algumas sacolas de lona e depois comprarem 10 delas”, lê-se em post de r/Anticonsumption, publicado no Reddit, há cerca de três semanas. “Me irrita muito como coisas como sacolas reutilizáveis e garrafas d'água, inicialmente feitas para reduzir o desperdício de plástico, agora só levam ao consumo excessivo.”
Em um dos episódios do podcast do Trader Joe's, com quatro minutos de duração, os vice-presidentes de marketing da rede, Matt Sloan e Tara Miller, revelam que até eles ficaram surpresos. No lançamento, achavam que tinham a quantidade suficiente de bolsas para durar várias semanas, talvez até um mês.
“Não tínhamos a menor ideia de que as mini bolsas fariam tanto sucesso, tão rapidamente”, diz Sloan. “Tivemos centenas de milhares de bolsas chegando e saindo em menos de uma semana,” completa Matt.
Sediado em Monrovia, na Califórnia, o Trader Joe's foi fundado em 1967 na cidade vizinha de Pasadena. Hoje a rede conta com 597 lojas espalhadas pelo país. No livro Becoming Trader Joe, de 2021, o empreendedor Joe Coulombe conta que criou a empresa focado numa clientela “academicamente educada”, mas sem muito poder aquisitivo.
Ele trazia produtos inéditos de diversas partes do mundo e contava sobre cada um na publicação Fearless Flyer, distribuída no próprio supermercado, e hoje com versão digital. Joe morreu um ano antes do lançamento do livro, aos 89 anos.
Hoje, o supermercado é conhecido pela valorização de suas equipes, pelos produtos de marca própria e pelo preço sempre imbatível quando comparado a outras grandes redes, como a Whole Foods.
Em tempos de instabilidade econômica, este é um fator de relevância incontestável.
Em uma recente reportagem da CBS de Los Angeles, a repórter Kristine Lazar deu a dica, brincando: “Esqueça a Bolsa de Valores. Vamos investir apenas nas mini bolsas do Trader Joe's".