Cancelamentos de pedidos, demissões em massa e impactos significativos sobre toda a cadeia de fornecedores. Esses são os efeitos previstos pela Embraer caso a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos não seja revertida.
“Se essa tarifa for para frente nessa magnitude, estimamos um impacto similar ao da pandemia do Covid-19”, afirmou Francisco Gomes Neto, CEO da Embraer. Na época, recorda, a receita da companhia caiu mais de 20%, obrigando a empresa a reduzir sua força de trabalho em um quinto.
A Embraer calcula que as tarifas de 50% devem gerar um custo adicional de R$ 50 milhões por avião, com potencial de provocar um impacto total de até R$ 20 bilhões em tarifas até 2030, considerando todas as entregas previstas no período.
Os Estados Unidos são o principal mercado da companhia. As exportações para clientes norte-americanos representam 45% nos jatos comerciais e 70% nos jatos executivos. Em aeroportos como Ronald Reagan, em Washington, e LaGuardia, em Nova York, cerca de um terço dos voos são operados com aviões da Embraer.
Gomes Neto afirmou que, por ora, nenhum pedido foi cancelado ou teve a entrega postergada, mas que essa poderá ser a realidade caso as tarifas não sejam revertidas.
Segundo ele, os contratos não preveem multas em caso de cancelamento por aumento nas tarifas de importação, já que desde 1979 a indústria aeroespacial vinha operando com alíquota zero.
“Então, nenhum contrato — nem nós com o fornecedor, nem nós com o cliente — tem essa previsão. Uma vez que isso continue, vamos ter que negociar com os clientes e buscar uma solução que seja razoável para os dois lados.”
Gomes Neto acredita, no entanto, que a tarifa ainda possa ser revista, inclusive voltando à alíquota zero. A proposta foi sugerida em encontro com representantes do governo com o setor industrial em Brasília para a negociação das tarifas com os Estados Unidos.
Um dos principais argumentos da Embraer é o peso das compras que faz dos Estados Unidos: nos próximos cinco anos, a companhia estima adquirir cerca de US$ 21 bilhões em equipamentos e sistemas americanos para seus aviões.
“Essa é uma relação ganha-ganha. Se produzirmos menos, vamos comprar menos motores, menos aviônicos, menos válvulas. Isso afeta toda a cadeia de fornecedores americanos.”
Caso as tarifas sejam mantidas, a Embraer avalia aumentar a produção de aviões executivos nos Estados Unidos no médio e longo prazo. “Nossos times estão trabalhando, como a gente faz para conviver nessa situação no futuro. Mas o impacto, assim, no curto prazo é muito grave para a companhia.”
Apontada por analistas como uma das empresas brasileiras mais afetadas pelas tarifas, a Embraer acumula forte desvalorização. Desde 9 de julho, quando as taxas de 50% sobre importações brasileiras foram anunciadas pelos Estados Unidos, as ações da companhia caíram 9,25%, provocando uma perda de valor de mercado de R$ 5,56 bilhões.
“O aumento de 10% na tarifa anunciado em abril não foi suficiente para frear a demanda por novos produtos. Mas, uma elevação tarifária de 50% representa um desafio muito maior para ser repassado ao cliente”, avaliam analistas do BTG Pactual em relatório.
Logo após a entrevista coletiva de Gomes Neto, as ações da Embraer caíram para o menor patamar desta terça, chegando a ser negociado em terreno negativo. Os papéis, no entanto, logo voltaram para o campo positivo e caminham para encerrar a sequência de seis pregões consecutivos de queda. Às 15h45, a companhia era negociada em alta de 0,86%, a R$ 74,27 por ação.