Ao elogiar o presidente Donald Trump em visita à Casa Branca, o executivo Robert Unanue, CEO da Goya Foods, colocou mais água no feijão da discórdia entre republicanos e democratas e subiu a pressão das tensões ideológicas americanas.
O executivo foi à Washington DC participar de um evento comemorativo da nova comissão consultiva de oportunidades econômicas para latino-americanos e, na ocasião, disse que Trump era um "grande construtor" e que os Estados Unidos são "abençoados" em tê-lo como presidente.
A fala do empresário desagradou a ala mais progressista do país e alimentou uma intensa campanha de boicote contra os produtos da maior empresa de alimentos de propriedade de uma família hispânica nos EUA.
Esse "motim" contra os feijões, ervilhas e outros enlatados feitos pela Goya Foods ganhou ainda mais sustância no Twitter, onde a representante democrata Alexandria Ocasio-Cortez (AOC) publicou sobre o assunto.
"Ah veja, esse é o som da minha busca no Google por 'como fazer seu próprio adobo?'", escreveu AOC, dando a entender que deixaria de comprar a iguaria da marca para produzir e cozinhar sua própria receita.
Como resposta, os republicanos passaram comprar os produtos Goya em grandes quantidades. Além de postar fotos dos estoques de comida que adquiriam, alguns mais enfáticos também doaram para um financiamento coletivo online, organizado com o único intuito de comprar mais latas de alimentos e ajudar os números da companhia.
Organizada por Casey Harper, a campanha de crowdfunding no GoFundMe tinha como meta arrecadar US$ 10 mil, mas 7,5 mil pessoas doaram quase US$ 270 mil. De acordo com Harper, todas as latas de alimentos compradas com o dinheiro do financiamento coletivo serão doadas para bancos de alimentos na região da capital americana.
Em entrevista ao canal de televisão Fox, considerado mais alinhado às pautas republicanas, Unanue disse que sua experiência revelou a hipocrisia americana. O CEO da Goya, que emprega 4 mil funcionários no país, explicou que havia comparecido a um evento beneficente organizado pelo ex-presidente americano Barack Obama e sua esposa, Michelle, em 2012.
"Então temos permissão para elogiar um presidente, mas não podemos falar bem de outro, mesmo que eu tenha sido convidado para participar de uma iniciativa econômica que visa a educação e prosperidade", desabafou.
Dono de uma fortuna de US$ 1,1 bilhão, Unanue disse ainda que sua companhia era vítima de uma campanha de "silenciamento de opinião" e sinalizou que, mais uma vez, concorda com o presidente Donald Trump de que os progressistas estão promovendo o que ficou conhecido como "cultura de cancelamento", como é chamada a onda de boicote a pessoas e empresas que agem de maneira considerada antiquada por quem adere ao movimento.
A essa acusação, o democrata Julián-Castro, que foi secretário do departamento de habitação e desenvolvimento urbano dos Estados Unidos na gestão Obama, respondeu: "A liberdade de expressão é uma via de mão dupla. O CEO da Goya é livre para apoiar um presidente intolerante que declarou que um juiz americano não pode fazer seu trabalho por ser 'mexicano', que trata Porto Rico como lixo e que quer deportar imigrantes. Nós somos livres para deixar seus produtos na prateleira", escreveu Castro, também no Twitter.
Na mesma rede social de microblog, Ivanka Trump engrossou o caldo dessa disputa ao publicar uma foto sua segurando, sorridente, uma lata de feijões Goya. Na legenda, a filha de Donald Trump, que acumula o cargo de conselheira sênior do presidente, diz: "se é Goya, tem de ser bom".
A postagem de Ivanka serve de munição para os dois lados: os republicanos comemoram o "apoio", mas a atitude da conselheira pode ser passível de punição. O tweet de Ivanka viola o código de ética da Casa Branca, que proíbe seus funcionários de usar o espaço público para lucrar ou promover qualquer tipo de produto.
Essa não é a primeira vez que a gestão Trump é acusada do mesmo deslize. A também conselheira Kellyanne Conway, em entrevista ao canal Fox News, encorajou a audiência a "ir comprar as coisas da Ivanka". A filha do presidente era dona de uma marca de roupas e também sofreu boicote em 2017 e 2018, quando finalmente cedeu à pressão e anunciou o fechamento de sua empresa.
O próprio presidente Donald Trump também já esteve na mira do conselho de ética ao defender que a reunião do G7, em 2019, acontecesse em seu resort na região de Doral, na Flórida.
Até agora, nenhuma punição foi aplicada por quebra de decoro ou coisa parecida. Siga o NeoFeed nas redes sociais. Estamos no Facebook, no LinkedIn, no Twitter e no Instagram. Assista aos nossos vídeos no canal do YouTube e assine a nossa newsletter para receber notícias diariamente.