Na primeira semana de junho, uma pequena onda de ofertas públicas iniciais na Nasdaq interrompeu a paralisia nas bolsas de valores americanas causada pela Covid-19. Na principal delas, a Warner Music captou US$ 1,93 bilhão.
O montante representou, até o momento, a maior abertura de capital do ano nos Estados Unidos. E abriu a perspectiva de que os investidores poderiam retomar seu apetite. Passado pouco mais de um mês do IPO, o cenário é ainda mais favorável.
“As coisas começaram a acontecer. Eu não esperava que o mercado estivesse tão forte”, disse Adena Friedman, CEO e presidente da Nasdaq, no fim da tarde desta sexta-feira, no Expert XP, evento promovido pela XP Inc.
Segundo Adena, no ano, a Nasdaq já contabiliza 87 IPOs, que captaram mais de US$ 20 bilhões. E a expectativa é de que a campainha volte a soar com mais frequência na bolsa americana.
“As empresas de tecnologia, saúde e da nova economia são as que mais estão dando confiança aos investidores”, afirmou. “Estamos vendo um bom pipeline de empresas considerando abrir capital, inclusive, algumas brasileiras.”
Uma das prováveis representantes locais nessa lista é a Vasta, empresa de sistemas de ensino para educação básica da Cogna. No início deste mês, a companhia anunciou sua intenção de abrir capital justamente na Nasdaq.
Antes dela, outras quatro empresas brasileiras seguiram esse caminho. A primeira foi a Arco Educação, que captou US$ 194,5 milhões em setembro de 2018. Um mês depois, foi a vez da Stone, que levantou US$ 1,5 bilhão.
Em 2019, a Afya, rede de faculdades de medicina, e a própria XP completaram esse ciclo. As duas empresas captaram US$ 300 milhões e US$ 2 bilhões, respectivamente. “O Brasil tem muitas empresas inovadoras”, afirmou Adena. “E elas estão entendendo que ter reconhecimento global é bom.”
Em 2020, a Nasdaq já contabiliza 87 IPOs, que captaram mais de US$ 20 bilhões
Depois do choque inicial e natural no mercado, ela conta que a Nasdaq se concentrou em mostrar que era possível realizar as aberturas de capital virtualmente. “Agora, não sei se vamos voltar ao modelo antigo”, observou. “Todos se acostumaram, os roadshows são mais curtos e os investidores participam mais.”
A executiva também falou brevemente sobre o crescimento das tensões entre Estados Unidos e China. Um cenário que, para alguns, já estaria produzindo efeitos, inclusive, na própria Nasdaq que, em maio, anunciou algumas restrições nas regras para companhias estrangeiras listarem suas ações.
As novas premissas estabelecem, por exemplo, que as ofertas devem ser de no mínimo um quarto do valor de mercado da listagem ou de US$ 25 milhões. Para parte do mercado, as medidas tinham como alvo específico as companhias chinesas.
Adena ressaltou, no entanto, que há problemas pontuais com algumas empresas chinesas. “Mas isso pode ser trabalhado em nível regulatório”, afirmou, destacando que são mais de 200 companhias do país com capital aberto nos Estados Unidos, sendo 100 delas na Nasdaq.
“Temos uma ampla gama de investidores, somos o mercado mais maduro e com mais liquidez”, observou. “É natural que elas tenham ambição de abrir capital nos Estados Unidos.”
Nova era?
Além de destacar a perspectiva de recuperação no mercado de capitais, a executiva observou que, passado o choque inicial, a pandemia pode acelerar a transição para um novo modelo de atuação das companhias.
“Eu acredito que é o início de uma nova era. A essência do capitalismo está mudando”, afirmou Adena, para quem a Covid-19 expôs questões que, até então, estavam à margem para muitas empresas. Em especial, seu papel junto aos funcionários, clientes, fornecedores e comunidades nas quais elas estão inseridas.
“A pandemia realçou a necessidade de migrar do capitalismo focado no acionista para um capitalismo de cooperação”
“A pandemia realçou a necessidade de migrar do capitalismo focado no acionista para um capitalismo de cooperação”, disse. “As empresas precisam garantir que estão criando uma economia sustentável e que todos os grupos de interesse possam se beneficiar desse ecossistema.”
Nesse contexto, ela também frisou que tanto empresas como governos devem se preocupar em criar um ambiente minimamente mais justo, no qual todos tenham as mesmas oportunidades de progredir, das pessoas às companhias.
“Entre os sistemas políticos e econômicos, o capitalismo provou ser o mais resiliente, mas ele não é perfeito”, afirmou. “Algumas empresas e pessoas vão ser bem-sucedidas, outras não. Mas é preciso que o campo seja igual e que todos possam jogar o mesmo jogo.”
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