Com um horizonte que mescla elementos como o crescimento nas taxas de juros, pressão inflacionária e perda de poder de compra dos consumidores, acrescido pelo caldeirão das eleições, o ano de 2022 começa com a perspectiva de um cenário árido para os ativos do varejo brasileiro.
Em contrapartida, há quem enxergue no varejo farmacêutico uma luz no fim do túnel. Ou melhor, como destaca o Credit Suisse em relatório publicado nesta segunda-feira, 21 de fevereiro, as ações das redes de drogarias surgem como um oásis no deserto que se apresenta para o setor.
Nesse contexto, o banco suíço já escolheu suas preferências. E elas recaem, principalmente, sobre a Pague Menos, com recomendação outperform para o papel e preço-alvo da ação de R$ 17, contra a cotação de R$ 9,38 no fechamento do pregão da sexta-feira. A rede está avaliada em R$ 4,1 bilhões.
Já para a Raia Drogasil (RD), que encerrou a data na B3 avaliada em R$ 39 bilhões e com seus papéis negociados a R$ 23,70, os analistas do Credit Suisse têm recomendação neutra e preço-alvo da ação em R$ 27.
“Preferimos a Pague Menos à Raia Drogasil, principalmente com base no que o ativo está precificado”, escrevem os analistas Pedro Pinto e Victor Saragiotto, que destacam o bom desempenho reportado pela rede depois de seu IPO, em setembro de 2020.
“Os níveis de preço da RD oferecem potencial de alta limitado dentro de um prazo de 12 meses, embora reconheçamos que é uma boa opção de transição no médio e longo prazo, considerando sua consistência e defensividade”. acrescentaram os analistas.
O pacote mais amplo de componentes do setor para se defender das expectativas pouco animadoras para o varejo é justamente um dos pontos ressaltados, especialmente na comparação com segmentos como o varejo de vestuário, com menor poder de receita e mais suscetíveis à pressão das margens e lucros.
Entre esses fatores, o Credit Suisse elenca, no curto prazo, questões como a nova aceleração dos casos de Covid-19 e a perspectiva de reajuste de preços do segmento na casa de dois dígitos em abril. Já no longo prazo, o destaque fica para questões como o envelhecimento da população.
“Esses drivers duradouros criam um terreno fértil para empresas como RD e Pague Menos, que terão ventos favoráveis para entregar um crescimento decente nos próximos anos”, observam os analistas.
Sob essas perspectivas, de um lado, o relatório do Credit Suisse frisa que a RD tem o desempenho operacional premium mais duradouro de toda a cobertura de varejo do Banco no mercado brasileiro.
Ao mesmo tempo, os analistas destacam que a Pague Menos, apesar da menor experiência como empresa listada, vem apresentando melhoras consistentes no que diz respeito à execução, o que abre boas expectativas quanto ao sucesso do processo em andamento de turnaround da rede cearense.
Quando o tema é execução, o Credit Suisse pontua, no entanto, que as duas companhias estão em estágios diferentes, ao afirmar que a RD já construiu sua operação, que está bem engrenada, o que lhe garante uma posição de liderança e permite antecipar novas fronteiras, como digitalização, marketplace e o conceito de hub de saúde.
Já a Pague Menos ainda precisa mostrar mais resultados em seu pacote recente de lojas inauguradas e, o mais importante, “digerir” a aquisição da Extrafarma, anunciada em maio de 2021, por R$ 700 milhões, e que ainda está sob análise do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), com previsão de um veredicto no segundo semestre.
“A aquisição da Extrafarma deve pesar nos números da Pague Menos no curto prazo. A RD deve continuar sua trajetória sólida de aberturas de lojas, ampliando suas vendas mensais por loja enquanto amadurece suas iniciativas estratégicas”, escrevem os analistas.
Em uma análise mais detalhada sobre cada ativo, o Credit Suisse ressalta que a Pague Menos vem mostrando resultados sólidos há cinco trimestre e que a cotação atual da ação da empresa não precifica as melhorias em curso.
Apesar dos riscos de execução e de integração, os analistas destacam que a rede encontrou um atalho para expandir sua operação com a aquisição da Extrafarma. Caso seja aprovada, a compra significa, na prática, um valor de R$ 1,8 milhão por loja, aproximadamente o mesmo valor de investimento orgânico por unidade, mas sem a necessidade de prospecção e negociação de cada ponto de venda.
“Esse movimento antecipa o que provavelmente levaria mais de três anos para ser feito organicamente”, pontua o relatório. “Também vemos este acordo como uma boa abordagem defensiva do ponto de vista da concorrência, pois a rede consolida rapidamente suas áreas centrais, deixando menos espaço para outros players, como a RD, que vem avançando em ritmo acelerado nessas regiões.”
No caso da RD, além do ganho consistente de market share nos últimos anos e dos planos de turbinar ainda mais seu já acelerado plano de expansão, os analistas destacam o avanço da rede em áreas como suas estratégias multicanal e a criação de um hub integrado de saúde, indo muito além da venda de medicamentos.
“Apesar de reconhecer que qualquer nova estratégia pode exigir mais esforços, incluindo maior capex e pressão de lucratividade por um tempo, saudamos a abordagem da empresa de usar sua escala e liderança para tentar antecipar as tendências do consumidor e maximizar a participação de mercado sustentável e share of wallet dos clientes”, escrevem os analistas.
E acrescentam: “Se fôssemos anualizar as vendas digitais da RD no terceiro trimestre de 2021 para uma empresa digital independente, esta companhia hipotética (e de rápido crescimento) totalizaria vendas de R$ 2,3 bilhões, aproximadamente tão grande quanto Panvel e Extrafarma.”