Depois de surpreender o mercado com resultados relativos ao quarto trimestre de 2022 mais negativos do que o esperado, o Bradesco estabeleceu como prioridade para 2023 a melhora de sua rentabilidade, buscando superar os efeitos da “situação conjuntural adversa” do ano passado.

Após fechar 2022 com uma rentabilidade sobre o patrimônio líquido (ROAE) de 13,1%, recuo de 5 pontos percentuais em 12 meses, o banco tem agora o objetivo de alcançar retorno recorrente de pelo menos 18%.

“O Bradesco tem condições de entregar mais e estamos trabalhando intensamente para melhorar o desempenho o mais rápido possível”, disse Octavio de Lazari Junior, CEO do Bradesco, em entrevista sobre os resultados do quarto trimestre de 2022.

O banco registrou um lucro líquido recorrente de R$ 1,6 bilhão nos últimos três meses de 2022, queda de 76% em relação ao mesmo período de 2021. O montante veio bem abaixo do esperado pelo mercado, segundo a mediana das expectativas reunidas pela Bloomberg, que apontavam para um lucro líquido de R$ 4,6 bilhões.

Segundo Lazari, as principais medidas estão sendo tomadas pelo lado da concessão de crédito, especialmente no chamado segmento massificado, que reúne pessoas físicas de baixa renda e pequenas e médias empresas.

Com este grupo de clientes prejudicado pelo aumento acelerado da taxa de juros em 2022, o Bradesco viu um aumento significativo da inadimplência no final do ano passado, resultando num avanço 2,3 vezes na provisão para devedores duvidosos (PDD).

O número exclui os efeitos do caso Americanas, para o qual o banco decidiu provisionar a totalidade de sua exposição, de R$ 4,8 bilhões.

“Realizamos mudanças nas nossas políticas de crédito em 2022, reduzindo a nossa taxa de aprovação, privilegiando operações de menor risco”, afirmou Lazari.

No balanço, o Bradesco informou que reduziu o índice de aprovação de crédito em 16,6 pontos percentuais. O índice de aprovação de crédito sem garantia para correntistas fechou 2022 em 34,1%, depois de alcançar 50,7% em 2021.

Sobre esta questão, Lazari aproveitou para fazer um mea culpa, afirmando que o banco concedeu um volume muito maior de crédito do que deveria durante a pandemia, quando os juros alcançaram patamares historicamente baixos e a inadimplência também estava baixa.

A forte evolução da inflação e, por consequência, das taxas de juros tiveram um efeito negativo sobre a renda da população. E isto acabou prejudicando os índices de inadimplência no ano passado.

“Tivemos como lição estar sempre um ponto antes da curva nos momentos em que a inflação sai de um ponto baixo para ser uma inflação mais alta, para não termos que fazer um aumento tão forte nas provisões", disse,

A expectativa do Bradesco é de que a situação se normalize a partir do segundo semestre, com a entrada da nova safra de crédito, em que a inadimplência está em patamares mais baixos. “A inadimplência deve permanecer pressionada no primeiro semestre”, disse Lazari.

Junto com o endurecimento das políticas de concessão de crédito, o Bradesco também apontou para medidas para melhorar a rentabilidade de produtos, de olho no ROAE de 18%.

Entre elas estão adotar medidas para rentabilizar os canais digitais, considerando que 70% dos clientes do Bradesco são atendidos por esses canais, além da manutenção das despesas em linha ou abaixo da inflação e iniciativas para recuperação de crédito, dando condições aos clientes inadimplentes renegociar seus créditos.

Americanas

O tema Americanas também foi abordado por Lazari, diante dos efeitos que a decisão de provisionar a totalidade dos créditos teve sobre os resultados do quarto trimestre. Segundo ele, a decisão de realizar o provisionamento completo foi tomada para deixar o episódio para trás.

Destacando que a excepcionalidade do caso indica que se trata de uma fraude, Lazari afirmou que o banco não alterou a precificação do produto de risco sacado, epicentro dos problemas da varejista.

“Revisitamos todos os nossos processos, a governança, procedimentos, riscos incorridos e olhamos para todas as outras operações. Tudo foi totalmente revisado e o que observamos é que temos uma carteira sadia”, disse.

Em relação aos próximos passos no caso Americanas, dada a exposição do Bradesco ao caso e as medidas judiciais que já tomou, Lazari afirmou que o banco está em compasso de espera.

Segundo ele, o Bradesco aguarda as próximas etapas da negociação para saber se há algum fato novo e se será possível chegar a um acordo com bons termos. “Não há qualquer sinalização de como será resolvido”, disse.

Por volta das 11h51, as ações preferenciais do Bradesco recuavam 7,03%, a R$ 12,83. Em um ano, elas acumulam queda de 28,5%, levando o valor de mercado a R$ 130,5 bilhões.