A desaceleração da economia não deve poupar ninguém em 2023, nem mesmo o mercado de cuidados animais, considerado resiliente e que registra taxas de expansão acima da registrada por outras categorias do varejo brasileiro.
Um dos principais nomes do mercado, a Petz já começou a sentir o aperto das restrições financeiras da população, com indícios de queda no consumo no quarto trimestre, segundo o Itaú BBA.
Essa situação, combinada com sinais de que as medidas para melhorar a rentabilidade só começarão a ter efeitos no segundo semestre, fizeram os analistas Thiago Macruz, Maria Clara Infantozzi e Gabriela Moraes reduzirem o preço-alvo das ações de R$ 13 para R$ 9 - mas a recomendação permanece sendo de compra para o papel.
“Não vemos nenhum indício claro de uma retomada dos gastos com cuidados para animais neste momento, embora reconhecemos que a desaceleração da inflação pode contribuir para uma melhor dinâmica de volume para Petz em 2023”, diz um trecho do relatório.
Para avaliar a dinâmica do mercado pet, o Itaú BBA desenvolveu um indicador proprietário capaz de analisar as vendas de produtos para animais. O chamado IDAT Pet Index mostrou que a desaceleração começou no quarto trimestre.
Segundo esse indicador, as vendas tiveram um crescimento nominal de 3,8% em dezembro, o menor valor dos últimos dois anos. No acumulado do ano, as vendas subiram 9,1%, versus uma expansão de 21% em 2021.
Em janeiro deste ano, o IDAT Pet Index apurou um avanço de apenas 2,3%, numa sinalização de que as vendas permanecerão baixas pelo menos ao longo da primeira metade de 2023.
Os analistas destacam que a situação já deve ter efeitos no quarto trimestre, prejudicando o índice de vendas “mesmas lojas”, que consideram os resultados de unidades em funcionamento há mais de 12 meses, da Petz no período.
A expectativa é de que esta medida de vendas registre uma expansão de 7,7% nos últimos três meses de 2022, uma desaceleração ante a alta de 16,9% apurada no quarto trimestre de 2021 e do avanço de 8,1% registrado no terceiro trimestre de 2022.
O relatório do Itaú BBA também cita os esforços da Petz em melhorar sua rentabilidade em 2023, com medidas como a redução na quantidade de lojas inauguradas e no tamanho das unidades, além da adoção de uma postura mais racional para precificação de produtos nos canais digitais.
A companhia já tinha tido problemas com a rentabilidade em 2022, vindo de pontos como o aumento de despesas pré-operacionais em meio ao plano de expansão e a maior proporção de alimentos no mix de produtos, cujas margens são um pouco mais baixas.
Apesar dos esforços que a Petz vem tomando para reverter a situação, ela ainda vai enfrentar dificuldades com alguns pontos que pesaram sobre os resultados do ano passado. Pelo menos ao longo do primeiro semestre, de acordo com os analistas do Itaú BBA.
Um dos pontos citados é o mix de produtos, com a proporção de alimentos ainda em patamares altos, cerca de 60% do portfólio.
As novas unidades também devem demorar a ter bons resultados nos primeiros anos, mesmo com o ritmo de maturação tendo acelerando de cinco para quatro anos. E isso deve atrasar a diluição das despesas gerais e administrativas no período.
“As iniciativas positivas que a Petz está adotando para preservar a rentabilidade devem ser ofuscadas por esses pontos de atenção, com essa combinação sendo o principal fator para que a rentabilidade permaneça estável em 2023, com a margem Ebitda em 8,8%”, diz trecho do relatório.
Nem mesmo as aquisições feitas pela Petz aliviam as perspectivas negativas do Itaú BBA. Os analistas afirmam que o desempenho da Zee.Dog ficou abaixo do esperado em 2022, admitindo que depositaram muita esperança na marca, confiando que ela puxaria a rentabilidade.
Sobre a Petix, recém-incorporada às projeções da Petz, a expectativa é de que ela melhore sua rentabilidade em 2023. Ainda assim, nada que faça a diferença para a companhia neste ano.
“Com a Petz avançando na integração da Petix, esperamos que a marca apresente melhora gradual na rentabilidade, atingindo o breakeven no primeiro trimestre e uma margem Ebitda de 5% no quarto trimestre”, diz trecho do relatório.
Por volta das 15h50, as ações da Petz reucavam 1,52%, a R$ 6,47. Em 12 meses, elas acumulam queda de 63,2%, levando o valor de mercado a R$ 3 bilhões.