Em fevereiro de 2021, o empreendedor Tallis Gomes, fundador da Easy Taxi e da Singu, era um dos maiores entusiastas do Clubhouse, a rede social de áudio que ganhava tração de forma avassaladora no Brasil e no mundo, atingindo 10 milhões de usuários globais, segundo algumas estimativas.

Tanto que Gomes chegou a ser um dos três brasileiros mais ativos do Clubhouse naquela época. “Estávamos desbravando a plataforma”, relembra. Hoje, no entanto, o entusiasmo não existe mais e aplicativo foi deletado de seu smartphone.

“Na pandemia, enquanto as pessoas estavam com a agenda mais tranquila, rolava de ficar nas salas de bate-papo”, afirma Gomes. “Como o mundo foi voltando, isso parou de encaixar na agenda das pessoas. E, por consequência, perdeu a utilidade.”

O gráfico acima, de buscas na internet de usuários brasileiro à palavra Clubhouse, ilustra o que diz Gomes e mostra, de forma desenhada, a ascensão e a queda da plataforma de áudio no Brasil.

Em fevereiro, um pico extraordinário. Depois, uma queda abrupta. Desde então, o interesse se mantém plano por todo o período – é o popular traço do Ibope de alguns programas de tevê. Pouco, ou quase nada, se sabe sobre o número atual de usuários.

Afinal, o que aconteceu com o Clubhouse, plataforma que foi avaliada em US$ 4 bilhões, após um aporte liderado por Andrew Chen, da Andreessen Horowitz, com a participação da DST Global, Tiger Global e Elad Gil?

“O Clubhouse deixou de ser essencial”, diz João Kebler, sócio da Bossa Nova Investimentos, que tem mais de 60 mil seguidores na plataforma e ainda mantém o aplicativo em seu celular. “As pessoas voltaram para as suas antigas plataformas e deixaram de fazer seus eventos prioritariamente lá.”

Essa é questão essencial. Com baixa barreira de entrada, o Clubhouse foi amplamente copiado pelas principais redes sociais. Do Twitter ao Facebook, passando pelo Spotify até o Reddit, todos lançaram salas de áudio, em um estilo semelhante.

Ao mesmo tempo, o Clubhouse não conseguiu atrair para sua plataforma “criadores de conteúdo” com uma estratégia de monetização, como acontece com o YouTube, do Google, e até mesmo no Facebook, através do Instagram. Com isso, ao ter alternativas de usar recursos semelhantes, os usuários optaram por ficar nas redes sociais onde já tinham reconhecimento público (e dinheiro, claro).

Uma das apostas do Clubhouse para atrair os criadores de conteúdo aparentemente fracassou, segundo uma reportagem do site americano The Verge. O “Creator First” selecionou usuários para receber equipamentos de gravação, assistência criativa e uma linha direta com empresas interessadas em patrociná-los. Mas, com raras exceções, os apoios financeiros não vingaram.

Como resume Gomes. “Eles não encontraram o product market fit.” Em outras palavras, a plataforma ainda busca um modelo de negócio para voltar a tracionar.

O Clubhouse chegou a ter 10 milhões de usuários. Hoje, os dados não são divulgados

Quer dizer que o Clubhose acabou? Da mesma forma que foi um erro considerar a plataforma de áudio um fenômeno, as notícias sobre a morte do Clubhouse podem ser também precipitadas. “Ela precisa voltar a trazer alguns players para dentro”, diz Kepler. “Mas dizer que ela não é útil, ou que não serve, acho exagerado.”

De fato, o Clubhouse tem muita “lenha para queimar” na forma de dólares levantados com fundos de venture capital. A startup fundada Paul Davison e Rohan Seth captou US$ 110 milhões, segundo dados do Crunchbase. E mal começou a gastar o dinheiro.

A estratégia de “members get members” do começo do ano, em que você só poderia participar da rede se fosse convidado, foi um sucesso, mas criou um “buzz” que a plataforma não soube manter.

Desde então, o Clubhouse deixou de ser exclusivo para usuários do iPhone e lançou uma versão para usuários Android. No começo deste mês, apresentou um pacotão de recursos para atrair usuários e tentar reviver os bons tempos.

Entre as novidades, estava a busca universal, uma caixa de pesquisa para achar pessoas, salas, grupos e eventos agendados. O aplicativo acrescentou também opões de recortes para que usuários selecionem momentos das salas e compartilhem com o público.

Um dos recursos mais aguardados era a opção de replay – até então, nada podia ser gravado no Clubhouse. Com ele, os usuários vão poder ouvir um evento ou uma conversa de uma sala de bate-papo sem a necessidade de participar ao vivo.

Agora, é saber se isso será suficiente para que o Clubhouse volte, literalmente, a ser falado pelos usuários.