A rede varejista Carrefour Brasil está comprando a rival Big (antigo Walmart) por R$ 7,5 bilhões, criando uma companhia de R$ 100 bilhões em faturamento, segundo fato relevante divulgado na madrugada desta quarta-feira, 24 de março.

O negócio une o Carrefour, maior grupo varejista do Brasil, com o terceiro colocado nesse ranking, colocando mais pressão sobre o Pão de Açúcar, que acabou de se separar do Assaí, o seu negócio de atacarejo.

A venda do Big marca a saída do fundo de private equity Advent, que comprou 80% da operação brasileira do Walmart em 2018. Agora, ele terá em conjunto com o Walmart uma fatia de 5,6% da nova empresa. O Carrefour Brasil irá deter 67,7% e a Península Participações, do empresário Abilio Diniz, ficará com 7,2%.

A transação será paga 70% em dinheiro e 30% em ações. Do montante de R$ 5,25 bilhões em dinheiro, serão R$ 900 milhões de pagamento adiantado e R$ 4,35 bilhões no fechamento da operação, prevista para 2022. O Carrefour Brasil deve emitir dívida para efetuar o negócio.

O Big conta com 387 lojas, teve R$ 21,7 bilhões em vendas líquidos, com R$ 900 milhões de Ebtida ajustado, além de presença em 19 Estados. No total, conta com 41 mil funcionários, 15 centros de distribuição, seis atacados de entrega e 13 pontos de gasolina. Do total das lojas, 47% delas são próprias (o ativo imobiliário foi avaliado em R$ 7 bilhões por uma consultoria independente).

A aquisição do Big expandirá a presença do Carrefour em regiões como Nordeste e Sul, em que a rede varejista tem penetração limitada e que oferecem forte potencial de crescimento.

A transação permite que o Carrefour Brasil expanda seus formatos tradicionais (principalmente atacado e hipermercados). O negócio vai também reforçar a  presença do Carrefour Brasil em formatos nos quais tem presença mais limitada, em particular os supermercados (99 lojas Bompreço e Nacional) e soft discount (97 lojas Todo Dia).

Além disso, o Carrefour Brasil atuará em um novo segmento de mercado com o formato Sam's Club, através de um contrato de licenciamento com o Walmart Inc.. Este modelo de negócios, considerado altamente rentável, voltado para o  segmento B2C, é baseado em um sistema de associados, com mais de 2 milhões de membros.

As unidades Maxxi serão convertidas para a bandeira Atacadão. O Carrefour Brasil espera também converter parte das lojas Big e Big Bompreço para as bandeiras Atacadão ou Sam's Club. As demais serão transformadas no hipermercado Carrefour.

O Carrefour Brasil estima sinergias de R$ 1,7 bilhão, três anos após a conclusão da operação, que precisa da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Já prevendo a discussão do negócio no órgão antitrustre, o Carrefour Brasil diz que tem penetração limitada nas áreas em que o Big tem mais representatividade. Hoje, o ex-Walmart tem 48% de suas lojas no Nordeste e 34% no Sul. No Sudeste, onde o Carrefour Brasil é mais forte, estão apenas 18% dos pontos de venda físicos.

Outra fonte de sinergia deve ser a oferta de serviços financeiros. Com o negócio, o Banco Carrefour poderá oferecer cartões de crédito, carteira digital e terminais de pagamento B2B e crédito aos clientes do Big. Só o negócios bancário, segundo apresentação divulgada a investidores, teria potencial de R$ 50 bilhões.

A união do Carrefour com o Big cria um gigante no varejo alimentar brasileiro, deixando o grupo Pão de Açúcar em um distante segundo lugar no Brasil. Com a soma das receitas de sua operação multivarejo com as do Assaí, o grupo controlado pelo francês Casino teve um faturamento líquido de R$ 67,7 bilhões em 2020.

Atualmente, o Pão de Açúcar vale R$ 7,9 bilhões na B3. O Assaí, que começou a ser negociado em fevereiro na bolsa brasileira, tem valor de R$ 19 bilhões. O Carrefour Brasil, por sua vez, vale R$ 38,2 bilhões. A expectativa é que suas ações tenham uma forte alta no pregão da B3 nesta quarta-feira, 24 de março.