Em 2010, quando fundou a Omnibees, Luis Ferrinho tinha a ambição de construir uma operação com ofertas usadas em grande escala e que pudesse ir muito além do Algarve, no sul de Portugal, um mercado já dominado por outra empresa de sua lavra, a Visualforma.

Desde então, o empresário português vem sendo bem-sucedido nessa jornada. Hoje, os softwares da Omnibees estão por trás da gestão de preços e reservas em 7 mil hotéis no Brasil, México, Colômbia e Portugal, efetivadas por diferentes canais. De sites próprios a plataformas como Expedia e Booking.com.

Em 2021, quase R$ 10 bilhões passaram pelos sistemas da companhia. E agora, a empresa quer ocupar um novo espaço para ampliar suas margens e a parte que lhe cabe nesse montante, por meio do lançamento da fintech de turismo Bee2Pay.

“Reservas e pagamentos são questões muito complexas e precisam andar de mãos dadas”, diz Ferrinho, ao NeoFeed. “Nós já temos acesso a todas as regras de negociação e tarifação e, com elas, a Bee2Pay tem potencial para ser quatro, cinco vezes maior que a Omnibees no futuro.”

A fintech começou a ser testada em 2021. No projeto-piloto, que contou com uma base de 600 hotéis, foram processados R$ 300 milhões em pagamentos. Em janeiro deste ano, seu primeiro mês oficial de operação, a Bee2Pay alcançou uma base de mil clientes e mais de R$ 60 milhões em transações.

Nessa largada, incluiu a adesão de resorts e grandes redes como Bourbon, Atlantica e Costão do Santinho. Ao mesmo tempo, com esse braço, a Omnibees amplia também sua atuação junto a empresas, para a gestão de viagens corporativas.

O portfólio para esse segmento traz ferramentas para que as empresas possam, por exemplo, gerenciar e conciliar digitalmente reservas, comissões, pagamentos e notas fiscais, além da emissão de cartões virtuais. Há ofertas semelhantes para plataformas, agências e operadoras de viagens.

No caso das redes e hotéis, a plataforma da Bee2Pay permite automatizar todo e qualquer processo relacionado aos pagamentos e cobranças, em linha com as políticas de tarifas, cancelamentos e garantias preestabelecidas por esses clientes.

“O setor lida com muitas regras e processos específicos e fazer a gestão disso tudo, na mão, é absurdamente trabalhoso”, explica Ferrinho. “Dependendo do que o hotel buscar, nós montamos o arranjo de pagamento e entregamos fechado para ele.”

Luis Ferrinho, fundador e CEO da Bee2Pay e da Omnibees

Com a startup, a Omnibees não é a única empresa dessa cadeia que está olhando para produtos e serviços financeiros. Em julho do ano passado, a Booking.com, por exemplo, anunciou a criação de uma fintech própria, com sedes na Holanda e na China, para começar a se movimentar nesse espaço.

Atenta a uma possível concorrência, a Bee2Pay já planeja ampliar seu portfólio. No radar estão produtos e frentes como adquirência e antecipação de recebíveis. “Nosso grande objetivo é uma conta digital para os hotéis”, diz o empresário. “Em seis meses, a ideia é iniciar um projeto piloto nessa direção.”

Hoje, a fintech usa uma plataforma white label de banking as a service, cujo parceiro não é revelado, para viabilizar suas ofertas. Em paralelo, a empresa já começa a estudar a entrada de um processo junto ao Banco Central para atuar como Instituição de Pagamentos.

As aquisições também integram a estratégia para encorpar a operação. Além da obtenção de licenças, a busca por ativos será guiada por fintechs voltadas a setores menores que o turismo e que possam trazer, em especial, uma equipe com bagagem no segmento financeiro.

Ao investir em uma estratégia ativa de M&A, que se estende à Omnibees, Ferrinho diz que, volta e meia, o grupo também vem sendo procurado por fundos interessados em investir na operação. Até o momento, porém, a empresa ainda não decidiu se seguirá esse caminho.

À parte desses movimentos, o crescimento do time do grupo também será orgânico. “Para conseguir acelerar o negócio, vamos contratar pelo menos 150 pessoas para a Bee2Pay e a Omnibees nesse ano”, diz Ferrinho.

Para ganhar escala no lado da oferta, a Bee2Pay vai se concentrar na conversão dos 7 mil clientes da Omnibees, que inclui ainda redes como Accor, Blue Tree, Meliá e Intercity.

O plano passa ainda pelo lançamento da fintech no México, no meio do ano, e pela chegada na Colômbia, no segundo semestre. Ao mesmo tempo, a fintech vai explorar a expansão da própria base da Omnibees, que prevê a entrada de 2,5 mil novos hotéis em 2022.

Com essa carteira, a Omnibees tem como movimentar R$ 13 bilhões nesse ano. “Já para a Bee2Pay, a gente espera fazer R$ 3 bilhões”, afirma Ferrinho. “E alcançar o volume de R$ 13 bilhões transacionados já em 2023.”

Por trás dessas projeções, ele ressalta que, superados os primeiros meses, quando a pandemia afetou seriamente o setor, o crescimento das viagens domésticas acabou favorecendo o grupo, especialmente no Brasil, seu principal mercado. “O brasileiro acabou descobrindo o Brasil”, afirma. “E a tendência é que isso se fortaleça, mesmo quando as viagens internacionais voltarem.”