A lua-de-mel dos investidores com o Expedia Group pode se tornar um "perrengue chique". Dono de marcas como Hotels.com, Trivago e Vrbo – principal concorrente do Airbnb –, o conglomerado, que segue sem CEO, tem de administrar a impaciência dos investidores, a escalada da concorrência e a volatilidade do setor de turismo. 

Prestes a revelar os resultados do último trimestre de 2019 e, consequentemente, o balanço anual da empresa, analistas acreditam que o relatório do Expedia Group seja um reflexo direto da turbulência interna sofrida pela companhia.

No último ano, as ações do Expedia Group caíram 9,8%. Os papéis, negociados atualmente a US$ 109,08, chegaram a valer US$ 139,42 em julho de 2019. A mínima recorde nos últimos doze meses foi US$ 95,67, registrada em novembro, às vésperas do desligamento do então CEO do grupo, Mark Okerstrom, e do CFO Alan Pickeril.

Ao anunciar a queda dos executivos, Barry Diller, chairman da IAC, holding que controla o conglomerado focado em viagens, viu as ações da empresa subirem 6% – e se estabilizarem a partir de então. Desde dezembro a organização é liderada interinamente por Peter Kern, ex-vice chairman do Expedia Group. 

Essa dança das cadeiras na liderança do grupo avaliado em US$ 15,8 bilhões tem a ver com um reposicionamento mal-sucedido encabeçado pelo canadense Okerstrom, que chegou ao Expedia Group em 2006 e ocupou diferentes posições estratégicas antes de sentar na cadeira de CEO, em maio de 2017. O executivo pretendia replicar na organização a mesma estratégia adotada pela principal concorrente, a Booking.com.

Dona do Agoda, Priceline, Kayak e outras marcas também ligadas a turismo, a Booking.com, hoje avaliada em US$ 79,8 bilhões, incorporou um modelo de cooperação de vendas entre as múltiplas plataformas do grupo que resultou em lucro de US$ 1,9 bilhão no terceiro trimestre de 2019, um aumento de 8% em comparação ao mesmo período do ano anterior. 

Ao tentar adotar esse modelo, Okertrom falhou. Especialistas apontam que a liderança do canadense era pouco diversa e composta por profissionais com habilidades parecidas e não-complementares.

Além disso, o então CEO do Expedia Group assinou o que foi, talvez, o seu maior "pecado": a mudança do nome da divisão de aluguéis de casas de HomeAway para Vrbo. Essa alteração foi desastrosa para as buscas no Google. E o impacto foi maior do que o previsto pelo Expedia Group. 

Paralelo a isso, o Trivago, uma das principais bandeiras do conglomerado, acaba de ser condenado por um tribunal australiano por propaganda enganosa. De acordo com os autos, o site, que dizia mostrar aos usuários as melhores promoções de hospedagem, priorizava os hotéis e propriedades que pagavam as maiores comissões. 

Todas essas "patinadas" da gestão Okerstrom esgotaram a paciência dos investidores, que já estavam bastante insatisfeitos com os resultados da companhia. O último resultado do Expedia Group, referente ao terceiro trimestre de 2019, mostrou aumento de 9% de receita, chegando a US$ 3,6 bilhões, mas lucro zero. 

Relatório da agência de pesquisa financeira Oppenheimer diz que desligamento dos executivos não foi uma surpresa, mas que o consequente discurso de Diller, prometendo crescimento em 2020 e elevando a recompra de ações, chegava como um alívio.

"Apesar da fala encorajadora do gestor, acreditamos que fatores externos, o aumento da competição, a saturação do mercado e a rigidez dos algoritmos do Google tornem os desafios do Expedia Group ainda maiores", diz um trecho do relatório, assinado pelo analista Jed Kelly.

O analista da Piper Sandler & Co, Yung Kim, concorda, mas mantém a classificação "neutra" para a empresa. Kim justifica sua posição. "O grupo continua investindo substancialmente em tecnologia, marketing e hospedagens alternativas com a Vrbo, o que é prudente. Mas alguns problemas identificados no último balanço da companhia parecem persistir." 

Venda à vista?

No mercado, muitos já trabalham com a hipótese de que o chairman esteja mostrando uma paciência fora do comum com o Expedia Group porque, num futuro muito próximo, tenha a intenção de vender a companhia.

Fundos de private equity e empresas como Amazon estariam interessados nessa transação que, no melhor cenário, pode chegar a US$ 20 bilhões.

A missão de Barry Diller, neste momento, é estabilizar a Expedia e as demais marcas do conglomerado de turismo online. Parte deste processo passa pela diminuição de gastos.

Não foi surpresa, portanto, quando o site Tripadvisor, que também pertence ao grupo, anunciou que planeja cortar 200 postos de trabalho. Isso equivale a uma redução de 5% da folha de pagamento da marca.

Uma nova onda de demissões deve afetar outras marcas do grupo, que nega o enxugamento no quadro de funcionários, atualmente composto por 24 mil profissionais em mais de 30 países.

Para além da roupa-suja a ser lavada internamente, a gigante de turismo de Barry Diller ainda está à mercê de acontecimentos internacionais, como conflitos civis ou militares, fatores meteorológicos e até epidemias.

A escalada nos casos do coronavírus, por exemplo, causa impacto no setor de turismo. Com mais de 4 mil casos e 106 mortes confirmadas na China até a manhã desta terça-feira, 28 de janeiro, e pacientes também detectados nos Estados Unidos, Tailândia, Japão e outros países, muitos planos de viagens estão sendo cancelados. 

O Expedia Group atua em mais de 70 nações e oferece 1,4 milhão de possibilidades de acomodações em suas plataformas. De acordo com a companhia, pelo menos uma em cada três reservas feitas pelo celular são concluídas por uma das marcas do conglomerado. O programa de fidelidade da empresa, o Expedia Rewards, soma 37 milhões de usuários de 32 países diferentes.

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