A história do Agibank pode ser contada através de seu nome. Em 1999, quando foi fundado pelo gaúcho Marciano Testa, em Caxias do Sul (RS), não passava de um correspondente bancário, uma espécie de representante dos bancos que atuam com mais frequência nos rincões do Brasil. O nome, na época, era Agiplan.

Em 2016, quando comprou uma instituição bancária de Recife, o Banco Gerador, virou o Banco Agiplan. Dois anos depois, se transformaria apenas em Agibank, um banco digital focado em atender clientes com mais de 50 anos, que hoje representam mais de 90% da base da instituição.

Agora, a instituição tirou o “bank” do nome para se tornar simplesmente Agi. A mudança não é apenas cosmética. Ao contrário. Com o novo nome, o Agi lança, nesta terça-feira, 31 de agosto, um superapp que inclui uma plataforma de investimentos e um marketplace de produtos financeiros e não financeiros.

“Com o Agi na frente (de todo o negócio), passamos a ter acesso a todos os perfis de clientes, de todas as idades e classes sociais”, afirma Testa, ao NeoFeed.

Na plataforma de investimentos, batizada de Agi Investimentos, o Agi larga com 650 produtos financeiros, entre fundos, títulos de renda fixa, remessas internacionais, câmbio via delivery, entre outros.

No marketplace, chamado de Agi Compras, já são quase 300 lojistas. “Começamos há algumas semanas, com testes, e já foram milhões e milhões de reais em compras”, afirma Testa. A expectativa é ter R$ 200 milhões em valor bruto de mercadorias (GMV) por mês.

Com os novos serviços na plataforma, a instituição espera também aumentar o relacionamento com quem já é cliente do banco. “São R$ 11 bilhões em folha de pagamento por ano. Os clientes usam esse dinheiro. E agora podem usar na plataforma”, afirma Testa.

Ao lançar um superapp, o Agi não vai abandonar uma tradição da instituição: o foco no trabalho presencial. O banco, que atua com 820 lojas físicas espalhadas pelo Brasil, em cidades com mais de 100 mil habitantes, procura fazer um trabalho de assessoramento aos clientes, em geral, pouco habituados ao mundo digital, como são as pessoas com mais de 50 anos.

A ideia, neste novo momento, é avançar para cidades menores e chegar aos públicos de todas as idades e classes sociais, mas que estão em locais onde a digitalização ainda não está enraizada.

“O Brasil não se resume a São Paulo”, diz Testa. “Há pessoas que precisam de uma assessoria, por exemplo, para baixar o aplicativo e saber como vincular o salário ao aplicativo. Em geral, precisamos de 5, 6, 7 atendimentos presenciais até que os clientes possam andar com as próprias pernas.”

Em janeiro, quando antecipou ao NeoFeed os planos de expansão do então Agibank, Testa foi até conservador. À época, ele disse que a ideia era abrir mais 300 lojas físicas nos próximos três anos, para chegar a mil unidades.

O ritmo de expansão, porém, tem sido tão rápido que o milésimo ponto de atendimento já deve ser aberto este ano. A meta, então, foi dobrada. “Agora, queremos chegar a 2 mil hubs (como o Agi chama as unidades) até 2026”, diz Testa.

O banco, que tem 3,058 milhões de clientes, tem crescido de forma acelerada. No fim do ano passado, a carteira de crédito somava R$ 2 bilhões. Agora, são R$ 5,1 bilhões. “Em apenas sete meses, mais do que dobramos”, afirma Testa. “No sistema financeiro, 90% do total da receita vem de crédito. Quem não souber operar crédito dificilmente vai ter um negócio relevante no Brasil.”

Segundo Testa, o objetivo do Agi é gradualmente se espalhar pelo País, chegando às cidades com menos de 50 mil habitantes. Depois, alcançaria todos os municípios menores, mas sem as lojas, mas sim com profissionais não vinculados - similar ao que os grandes bancos fazem com os correspondentes bancários, numa espécie de retorno às origens do Agiplan. “Queremos focar nesse perfil de órfãos digitais”, afirma Testa.

Ao buscar o Brasil que está distante dos grandes centros urbanos, Testa acredita que tem ido além do que fazem os bancos digitais. “Muitos bancos digitais já viraram incumbentes sem antes entregar o propósito da democratização”, afirma, sem citar nomes.

Os concorrentes do Agi, segundo Testa, são os grandes cinco bancos do Brasil: Itaú, Santander, Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Pelas suas contas, ainda que todos os bancos digitais sejam somados, como Inter, c6 bank e Nubank, não se chega a 10% do que o Itaú tem em ativos. “Essa é a grande oportunidade”, diz Testa.

Para o CEO do Agi, como a instituição já tem uma experiência com atendimento presencial, este deverá ser o grande diferencial para escalar a plataforma digital. “Vamos usar o nosso aprendizado, a nossa forma de acolher, o atendimento próximo, para ouvir as pessoas, para chegar a outros perfis no Agi, como investidores e empreendedores.”

Segundo o analista Carlos Eduardo Daltozo, chefe de renda variável da Eleven Financial e especialista no setor financeiro, os bancos menores, quando tentavam enfrentar os principais bancos de varejo, costumavam se deparar com duas grandes barreiras: a falta de capilaridade física e a ausência de recursos para conceder crédito.

“A primeira barreira foi derrubada pela tecnologia, com o avanço da agenda do Banco Central (BC) e a chegada dos bancos digitais. A segunda, porém, ainda persiste, com a dificuldade que as fintechs têm de conseguir funding para financiamento”, diz Daltozo

O caso do Agibank, portanto, é um que foge à regra. Além de estar avançando com o crédito, partindo de um público mais velho, a instituição tem se espalhado pelo Brasil, em um modelo de atendimento focado no assessoramento.

“A depender do seu nicho, o atendimento físico pode fazer sentido”, afirma Daltozo. “O Agibank, por exemplo, tem um foco maior no público com idade mais elevada ou com produtos de crédito para pessoas negativadas. Então, havia a necessidade de ter capilaridade física.”

A expansão do Agi, porém, não é só física. De olho na melhoria da plataforma, o Agi também tem investido em profissionais de tecnologia. A meta de chegar a 400 funcionários para a área no fim do ano, aliás, já faz parte do passado. A instituição já conta com 550 profissionais e ainda tem 100 vagas a serem preenchidas no restante de 2021.