Se tem alguém que talvez se sinta no direito de gritar aos quatro ventos "eu avisei", esse alguém é Bill Gates. O bilionário fundador da Microsoft foi a público em 2015 para falar sobre como o mundo não estava preparado para uma pandemia de escala global, sobretudo uma "virulenta, como a gripe".
Na época, ninguém lhe deu ouvidos. Mas, por sorte, o empresário parece não ser vingativo: além de evitar apontar erros, Gates tem se dedicado a esclarecer dúvidas e colaborar (financeiramente, inclusive) com pesquisas cruciais ao combate ao coronavírus.
Outros magnatas do Vale do Silício, como Elon Musk, da fabricante de carros elétricos Tesla, Mark Zuckerberg, do Facebook, e Jeff Bezos, da Amazon, também querem ajudar – cada um a sua maneira. A Apple, comandada por Tim Cook, também está nessa linha de frente de enfrentamento ao vírus.
O dono da Tesla, verdade seja dita, chegou a caçoar da situação. No dia 6 de março, Musk usou seu perfil no Twitter para dizer que "esse pânico do coronavírus é imbecil". O post foi curtido 1,7 milhão de vezes e compartilhado por 35 mil usuários. Apesar do aparente apoio digital, o bilionário foi criticado com a mesma intensidade pelos jornais e por estudiosos.
Em questão de dias, o fundador da Tesla parece ter tomado ciência da gravidade do problema, que o afetou economicamente. As ações de sua empresa despencaram 52,6% no último mês, indo de US$ 916,9 para US$ 434.
O mea culpa de Musk veio pela mesma plataforma, mas de uma maneira um tanto diferente. Respondendo a um usuário, o empresário afirmou que suas fábricas são capazes de produzir ventiladores pulmonares para hospitais americanos, se necessário fosse para o tratamento de pacientes diagnosticados com Covid-19, doença causada pelo coronavírus.
O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, viu o post e sinalizou a urgência por mais dessas máquinas: "vamos entrar em contato com a sua equipe para entender o potencial das necessidades."
De acordo com a Society of Critical Care Medicine, uma organização independente que representa membros da área de cuidado urgente, o sistema de saúde americano dispõe de 200 mil ventiladores pulmonares, mas calcula que 960 mil pacientes contem com os aparelhos por conta dessa pandemia.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) divulgou, até agora, mais de 10 mil casos confirmados e 150 óbitos nos EUA. Especialistas acreditam que o número de pacientes positivos para o coronavírus seja maior, mas o sistema americano se mostra pouco eficiente na esfera de testes clínicos. Algo que Bill Gates concorda.
"Precisamos democratizar e aumentar o número de testes com uma página online do CDC onde as pessoas possam acessar e relatar sua situação. Casos prioritários devem ser analisados em 24 horas. Isso tudo não só é possível, como foi feito por outros países. Servidores da saúde e idosos devem ter prioridade", escreveu Gates em sua página no Reddit.
Respondendo às perguntas dos usuários, o fundador da Microsoft confirmou que há seis iniciativas diferentes trabalhando numa possível vacina e que é possível que as primeiras doses cheguem ao mercado em menos de 18 meses "se tudo der certo".
Sem promessas de prazos, Gates se limitou apenas em reafirmar que as equipes estão trabalhando em "velocidade máxima", graças ao projeto "Acelerador Terapêutico COVID-19".
A iniciativa é uma resposta conjunta da Bill & Melinda Gates Foundation, da instituição londrina Wellcome e da Mastercard que investiram US$ 125 milhões em um fundo já existente para financiar pesquisas que combatam essa epidemia.
"O dinheiro será usado para identificar possíveis tratamentos para o COVID-19, acelerar seu desenvolvimento e preparar a fabricação de milhões de doses para uso em todo o mundo", declarou a fundação de Gates, em comunicado.
Quem também faz a sua parte nessa luta é o dono do Facebook, Mark Zuckerberg. Por meio de sua Fundação Chan Zuckerberg, que comanda ao lado da esposa Priscilla Chan, o executivo se juntou à CZI Biohub na compra de duas máquinas clínicas capazes de diagnosticar o coronavírus. Com isso, a capacidade de análise de casos na região da Baía de São Francisco será quadruplicada.
Para além de seu "quintal", Zuckerberg faz da comunicação sua arma. Dias atrás, o fundador da maior rede social do mundo divulgou esforços para levar informações responsáveis e verídicas sobre a doença aos seus usuários. Agora, ele confirmou que sua equipe dobrou a capacidade dos servidores do WhatsApp, garantindo que o aplicativo funcione de forma consistente nesse período difícil.
O Facebook soma 2,4 bilhões de usuários ativos todos os meses, enquanto o WhatsApp conta com 1,5 bilhão de usuários em 180 países.
Outro todo-poderoso do Vale do Silício também mostra seu poder de fogo. Jeff Bezos, fundador da Amazon, deu ordem para que a empresa priorizasse o estoque e distribuição de alimentos e mantimentos básicos.
A entrega de qualquer produto considerado não-essencial pode ser atrasada, mesmo que isso signifique perder algumas vendas – o que não parece ser o caso, já que o número de pedidos online aumentou tanto que a Amazon abriu 100 mil novos postos de trabalho para dar conta do recado.
Bezos alega estar em contato direto com a Casa Branca para ajudar no combate ao coronavírus. "Nós reconhecemos que em momentos como esse, grandes empresas podem realmente ser de grande ajuda, e nós estamos prontos para isso, além de servir nossos clientes que precisam de suprimentos urgentes", declarou um porta-voz da Amazon ao site The Atlantic.
Mesmo com as portas de suas lojas físicas fechadas, com exceção da China, a Apple não foge à responsabilidade. O CEO da companhia, Tim Cook, recorreu ao seu perfil no Twitter para comunicar as doações que a companhia pretende fazer.
"Nunca foi tão importante apoiarmos uns aos outros. Vamos fazer uma doação substancial, inclusive de suprimentos médicos, à Protezione Civile, na Itália, para ajudar os trabalhadores, médicos e voluntários heroicos que atuam incansavelmente para proteger e salvar vidas", postou o executivo, completando sua mensagem com um emoji da bandeira italiana e um coração.
A Protezione Civile é o órgão governamental italiano de resposta à emergências, que tem atuado no combate à disseminação do coronavírus.
Antes, a Apple já havia doado US$ 15 milhões mundialmente, sendo que parte desse montante foi destinado à cidade de San José, na Califórnia, para suavizar as perdas com o cancelamento da Apple Worldwide Developers Conference (WWDC), conferência organizada pela própria empresa.
"O Vale do Silício é nossa casa e nós sabemos que as próximas semanas trarão desafios sem precedentes para muitos pequenos empresários de nossa comunidade", justificou Cook em suas redes sociais.
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