Em meio à inflação e juros em alta, o Santander demonstra certa cautela em relação aos resultados do segundo trimestre, esperando que a maioria das empresas apure recuo no lucro. Apesar da visão menos otimista, o banco vê com bons olhos certos nomes, alguns deles inclusive superando as dificuldades de seus setores. 

A estrategista institucional de ações para Brasil, Aline Cardoso, e sua equipe esperam que o lucro líquido das 150 empresas do universo de cobertura do banco recue 5,6% em relação ao mesmo período de 2021, segundo relatório obtido em primeira mão pelo NeoFeed

No período, de acordo com as projeções dos analistas, somente sete dos 18 setores da B3 cobertos devem apresentar expansão de lucro. Para o Santander, as despesas financeiras serão o principal vilão da última linha dos balanços, com o aperto monetário conduzido pelo Banco Central para combater a inflação encarecendo a dívida das companhias, elevando as despesas financeiras líquidas. 

Considerando as métricas operacionais, as projeções do Santander até mostram um bom desempenho no período. O Ebitda desse universo deve expandir 7,5%, com 13 setores divulgando crescimento nessa linha. 

“Nós esperamos resultados desequilibrados no segundo trimestre, com alguns setores mostrando crescimentos significativos de Ebitda e lucro líquido, enquanto outros indicam reportar quedas nas duas métricas”, diz trecho do relatório. 

Os setores que devem casar crescimento de lucro com Ebitda são agronegócio e varejo, enquanto na ponta negativa estão áreas como mineração, alimentos e bebidas e bens de capital.

As apostas

Apesar de uma expectativa cautelosa e não muito otimista, o Santander destacou que alguns nomes devem brilhar no período. Um deles sendo a Cielo. 

De renegada na Bolsa, com muitos investidores se afastando da empresa diante da intensa concorrência no segmento de adquirência, a companhia controlada por Bradesco e Banco do Brasil voltou a atrair os olhos dos analistas ao apresentar melhorias operacionais. 

Para o Santander, a companhia deve registrar um aumento de 75% do Ebitda, para R$ 1 bilhão, e de 59% do lucro líquido, a R$ 287 milhões, ambos em base anual, diante do crescimento de 23% do Volume Total de Pagamentos (TPV) e um cenário competitivo mais favorável. O avanço do lucro será maior do que o projetado para empresas financeiras não bancárias, de 53%. 

Entre os bancos tradicionais, cujo lucro deve avançar 20% no segundo trimestre, o Banco do Brasil é o destaque, com o lucro projetado para crescer 34%, para R$ 6,6 bilhões.. 

“Acreditamos que, novamente, a qualidade dos ativos deve ser o foco das discussões para os bancos durante o segundo trimestre”, diz trecho do relatório. “E o Banco do Brasil, considerando sua exposição significativa ao agronegócio e empréstimos consignados, deve reportar um menor aumento em crédito não-produtivo.”

Minerva e BRF também são apostas positivas do Santander para o segundo trimestre. O frigorífico se beneficiou da redução dos custos com a compra de gado e do aumento da demanda e preços por carne. Com isso, o Ebitda deve subir 43%, para R$ 769 milhões, e o lucro em 75%, a R$ 205 milhões. 

A BRF, por sua vez, viu uma melhora dos preços no trimestre, após a alta oferta de frango no mercado, enquanto os valores para exportação também se recuperaram. A companhia deve fechar o trimestre com lucro líquido de R$ 81 milhões, revertendo o prejuízo do segundo trimestre de 2021. O Ebitda, na mesma base de comparação, aumento em 9%, para R$ 1,4 bilhão. 

O último destaque positivo do trimestre deve ser Lojas Renner, com os analistas avaliando que o bom desempenho da coleção de inverno e a demanda reprimida gerada pela pandemia levaram a varejista a ter um Ebitda de R$ 489 milhões, aumento de 48% e lucro líquido de R$ 325 milhões, expansão de 69%. 

Já entre as companhias que devem se destacar negativamente está a Movida. Embora o Santander espera um aumento de 79% do Ebitda, em base anual, para R$ 883 milhões, o avanço das despesas financeiras e o maior efeito da depreciação deve fazer com que o lucro líquido cresça apenas 12%, a R$ 195 milhões. 

“Com relação às operações, esperamos a continuação das tendências vistas no primeiro trimestre, com os destaques sendo o crescimento de um dígito baixo do volume, na comparação trimestral, e aumento dos preços na área de gestão de frota”, diz trecho do relatório. 

O Bradesco deve seguir na mesma linha, com o aumento do lucro líquido – 20% na comparação com o segundo trimestre de 2021, para R$ 7,3 bilhões – sendo ofuscado por outras questões. No caso, segundo o Santander, pela perspectiva de piora no índice de crédito não-produtivo e resultados menores da parte de Tesouraria, afetada pela alta dos juros. 

Na CSN, a queda do preço do minério de ferro no mercado internacional deve levar a um recuo de 59% do Ebitda e 72% do lucro líquido, para R$ 3,3 bilhões e R$ 1,3 bilhão, respectivamente.