Nesta quinta-feira, um fato chamou atenção na sede do Facebook, em Menlo Park, na Califórnia. Instalada na área externa do local, uma réplica do botão de “curtir” da rede social, com o polegar apontado para cima, amanheceu coberta por uma lona. Horas depois, o motivo foi desvendado.

Confirmando os rumores ventilados na última semana, a empresa anunciou hoje que passará a se chamar Meta e que, a partir de 1º de dezembro, suas ações serão negociadas com o símbolo MVRS. A rede social pela qual a companhia ficou conhecida manterá a marca Facebook, enquanto o novo nome corporativo reunirá esse e os demais negócios do grupo.

“No momento, nossa marca está tão intimamente ligada a um produto que não pode representar tudo o que fazemos hoje, muito menos no futuro”, afirmou Mark Zuckerberg, fundador e CEO da companhia, em carta que marcou o anúncio.

Muito além do Facebook, do Instagram e do WhatsApp, a mudança reforça o plano da gigante, avaliada em US$ 881 bilhões, para fincar seus pés em um mercado ainda recente: o metaverso, que envolve o uso de realidade aumentada e virtual para permitir uma interação digital e imersiva entre as pessoas.

“Estamos no início do próximo capítulo para a internet e também para a nossa empresa”, observou Zuckerberg. “O metaverso é a próxima fronteira para conectar pessoas, assim como as redes sociais eram quando começamos. E ele afetará todos os produtos que construímos.”

A guinada rumo a esse novo espaço é a principal aposta do Facebook para criar uma alternativa a uma tendência observada no número de usuários ativos em sua plataforma. Essa base segue crescendo, mas o ritmo vem desacelerando.

No terceiro trimestre de 2021, o avanço foi de 6%, para 2,9 bilhões de usuários. Há um ano, o crescimento foi de 12%, para 2,74 bilhões. A expansão mais lenta está relacionada especialmente à faixa etária de 18 a 29 anos.

No texto, Zuckerberg descreve as possibilidades que enxerga no metaverso, em particular, no que diz respeito a hologramas, experiências virtuais, imersivas e ao que classifica como um mundo “além das restrições das telas e dos limites da distância”.

Porém, apesar do discurso e das intenções declaradas, não seria exagero dizer que, ao anunciar essa mudança, a empresa esconde outras motivações. Em particular, a busca por renovar uma marca que está cada vez mais desgastada em virtude de uma série de polêmicas associadas ao seu nome.

Acostumado a ser um alvo constante dos reguladores e de manchetes negativas, o Facebook voltou a ficar sob os holofotes nas últimas semanas, a partir da publicação de uma série de reportagens, com o vazamento de documentos internos que expuseram falhas e práticas nada positivas da empresa.

Entre outras questões, os documentos apontaram que a companhia não se esforçou para combater, de fato, a disseminação de fake news e o combate ao discurso de ódio na rede social, dado que esses componentes geravam mais engajamento e, por consequência, mais lucros à plataforma.

A empresa é também um dos principais alvos da cruzada regulatória contra empresas de tecnologia no congresso americano. Em discussão, estão fatores como os efeitos nocivos de redes como o Instagram para os adolescentes, algo que também foi exposto em pesquisas internas da empresa vazadas recentemente e que deixaram claro que a companhia nada fez para mudar essa situação.

Adotar um novo nome para se desvencilhar dessas controvérsias não significa, porém, que o caminho será fácil. Para analistas, além da força da marca atual, um dos desafios é o fato de que o metaverso ainda é um mercado nascente, que levará muitos anos para se tornar algo concreto e consistente.

No fim das contas, não há garantias de que a Meta será bem-sucedida nessa empreitada. E, seja qual for o destino, o Facebook continuará sendo, por um bom tempo, o carro-chefe das receitas e a imagem da companhia.

O próprio Zuckerberg reconheceu isso na última segunda-feira, quando a companhia divulgou seus resultados referentes ao terceiro trimestre de 2021. “Este não é um investimento que será lucrativo para nós em um futuro próximo”, afirmou.

Na ocasião, a empresa também ressaltou que o investimento na nova área iria reduzir seu lucro operacional total no ano em cerca de US$ 10 bilhões.